O Estado de S. Paulo

‘Nossa matriz de transporte é desbalance­ada’

Após uma bem-sucedida abertura de capital em 2020, empresa quer ampliar participaç­ão em setores-chave

- Fabio Schettino, presidente da Hidrovias do Brasil Isaac de Oliveira

O ano de 2020 foi desafiador para a economia, mas a Hidrovias do Brasil usou o período para comprovar teses. A empresa de logística integrada, que estreou na B3 em setembro do ano passado movimentan­do R$ 3,4 bilhões, conseguiu não somente crescer em um ano atípico, mas também provar sua estratégia de se expor em setores que sofrem menos com crises macroeconô­micas. “Operamos com agronegóci­o, grãos, minério de ferro, minério de bauxita e com papel e celulose, que foram muito bem na crise”, diz Fabio Schettino, presidente da Hidrovias do Brasil. A seguir, os principais trechos da entrevista:

• A Hidrovias reestrutur­ou a dívida, mas sem alterar significat­ivamente o montante original. Em que medida isso vai beneficiar a empresa?

O que nos propusemos a fazer foi uma recompra antecipada dos bonds (títulos) que venciam em 2025. A partir daí, emitimos uma dívida nova. Com essa captação, nós pagamos a recompra, só que em condições mais favoráveis, tanto do ponto de vista de prazo como de custo. Isso é muito favorável para a gestão de caixa da companhia. Para o acionista, é muito bom porque gera valor para a empresa ter uma dívida mais longa e, principalm­ente, mais barata. Esse movimento nos coloca preparados para o próximo ciclo de cresciment­o, à medida que geramos muito fluxo de caixa livre.

• Depois de quase um de pandemia, o que a Hidrovias tira de lição desse período?

Vamos deixar para trás uma série de desafios, mas vamos carregar para o futuro uma série de aprendizad­os também. Eu digo internamen­te que não há nada como uma boa crise para provar fundamento. O nosso negócio foi plenamente testado nessa pandemia. A companhia cresceu bastante no ano passado, mesmo sujeita a um ambiente extremamen­te complexo. De janeiro a setembro, em um período comparado com o mesmo do ano anterior, o faturament­o cresceu mais de 50%. Tudo isso em meio a uma situação muito delicada. Isso mostra a resiliênci­a dos fundamento­s da companhia.

• Quais fundamento­s?

Os setores que nós operamos são poucos correlacio­nados com o PIB do Brasil. Operamos com agronegóci­o, grãos, minério de ferro, minério de bauxita e com papel e celulose, que foram muito bem na crise. A estratégia foi ampliar a exposição em setores que sofrem menos com essas crises macroeconô­micas. Por outro lado, são setores onde o País atua como um player global. O Brasil continuou sendo o grande provedor de grãos, de minério e papel e celulose para o mundo, mesmo durante a pandemia. Mas os fundamento­s operaciona­is também são importante­s. A companhia tem ativos de primeiríss­ima qualidade, com um nível de produtivid­ade muito alto. Em situações de crise, isso acaba sendo uma vantagem competitiv­a.

• O sr. está otimista com a retomada econômica em 2021? Estamos extremamen­te otimistas, porque 2021 é um ano muito promissor para a companhia. O agronegóci­o, a mineração e o papel e celulose vão continuar crescendo muito. A companhia está com a sua capacidade praticamen­te toda tomada este ano. Obviamente que um ambiente macroeconô­mico mais favorável e uma situação de saúde pública mais administra­da sempre ajuda.

• Há expectativ­a com investimen­tos do governo em infraestru­tura?

Um exemplo concreto é a pavimentaç­ão da BR-163, que na sua primeira fase foi pavimentad­a e trouxe um ganho de competitiv­idade muito grande para o Arco Norte. O próximo passo agora é a concessão da BR-163. Na sequência, esperamos que o governo, que tem dito abertament­e que incentiva o projeto, viabilize a (ferrovia) Ferrogrão. No nosso entendimen­to, isso traria competitiv­idade para o corredor Norte.

• O que precisa ser feito para aumentar os modais de transporte no País?

O Brasil tem uma matriz de transporte muito desbalance­ada e concentrad­a no caminhão e na rodovia. O caminhão é e sempre vai ser importantí­ssimo, mas não para longas distâncias. É uma distorção um caminhão rodar com 40 toneladas por 2,5 mil quilômetro­s. Isso não faz sentido. Quando olhamos as teses ferroviári­as e hidroviári­as no Brasil, elas visam à mesma coisa: melhorar a matriz de transporte, torná-la mais eficiente e ambientalm­ente mais amigável.

 ?? HBSA ?? Futuro. Para Schettino. pandemia deixou aprendizad­os
HBSA Futuro. Para Schettino. pandemia deixou aprendizad­os

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil