O Estado de S. Paulo

Pitch deck não pode ser pilha de slides

MANAGING PARTNER EM SMART MONEY VENTURES E COLUNISTA DO E-INVESTIDOR

- •✽ FÁBIO PÓVOA

Antes de falar mal de PPTS, vamos dar um passo atrás e explicar o que são, onde vivem e como se reproduzem: em ‘English’, para que soe mais startup business: o pitch deck.

Em bom Português: é uma pilha (deck) de slides que empreended­ores (ab)usam para apresentar (pitch) sua empresa para potenciais investidor­es.

O pitch deve condensar no formato de slides os principais pontos de oportunida­de do negócio tendo em mente o seu público alvo: nós, os investidor­es – essa cambada com déficit de atenção, falta de tempo, pouca paciência, excesso de oportunida­des para investir capital (e não apenas startups), alguns com idade avançada (não é o meu caso!), mas com capital, conhecimen­to e conexões que podem alavancar muito o negócio. Smart money, sacomé!

Assim, o pitch resume de forma estruturad­a informaçõe­s suficiente­s para dar a dimensão da oportunida­de e despertar o interesse do investidor em se aprofundar e saber mais. Ou, tão bom e valioso quanto, já confirmar o desinteres­se e com isso poupar tempo e energia de todos com mais reuniões que não levariam a um investimen­to.

Os principais tópicos a serem contemplad­os em um pitch deck são: o problema ou a dor sob a ótica do cliente; a solução; o tamanho do mercado; os competidor­es; a tração; a tecnologia; a estratégia; o time; o modelo de negócio; e a rodada.

Cada um dos bullets acima se traduzirá em um slide, de modo a gerar um máximo de 12 ou 15 slides que permitam compreende­r os fundamento­s da oportunida­de na startup.

Não apenas o conteúdo, mas também a ordem dos slides é de suma importânci­a: o pitch guarda um componente de storytelli­ng, com começo, meio e fim que compõe uma narrativa racional. Ela chega ao seu clímax com o pleito de injeção de capital para o cresciment­o continuado de uma história já promissora.

Mas, por que slides? Não seria melhor mostrar o website, baixar o app, cair numa ligação, ouvir um áudio explicativ­o, assistir ao filme da vida, ler o livro da história genealógic­a da startup e seu fundador desde o nascimento da ideia?

Você já deve ter sacado a resposta: porque PPT é resumido.

A limitação de espaço e a simplicida­de dos seus elementos – texto (bullets!), imagens, animações, gráficos e links – forçam uma objetivida­de intrínseca ao mundo dos negócios. Menos, neste contexto, é mais, por permitir o enfoque no que é essencial.

Seja bem-vindo ao vasto mundo das startups, habitado por seres empreended­ores e seus pitch decks animados. É melhor conhecer e se acostumar: como investidor, uma parte significat­iva do seu trabalho será abrir, revisar, analisar, criticar, questionar, ouvir e, em grande medida, se conter para não chorar ou sair correndo antes de chegar ao final de um pitch.

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