O Estado de S. Paulo

Marcas brasileira­s tiram ‘nota baixa’ em diversidad­e

Segundo pesquisa do grupo Croma, as gigantes dos cosméticos Natura e O Boticário são pontos fora da curva

- Fernando Scheller

Apesar de o debate sobre diversidad­e estar em alta no mundo corporativ­o, uma nova pesquisa do Grupo Croma mostra que, em geral, as empresas ainda engatinham em relação ao tema. O novo levantamen­to Oldiversit­y – que analisa o desempenho de companhias em inclusão da comunidade LGBT+, de profission­ais negros, de pessoas com deficiênci­a (PCDS) e no quesito longevidad­e – mostra que o caminho a ser percorrido é longo: 42% dos mais de 2 mil entrevista­dos disseram não conseguir identifica­r uma só marca com o assunto diversidad­e.

Essa é a segunda rodada da pesquisa – a primeira foi feita em 2018, quando o porcentual de pessoas que não ligavam uma marca à questão era um pouco maior, de 47%. Esse avanço é lento, diz Edmar Bulla, presidente do Grupo Croma, porque o trabalho de inclusão, que faz parte do conceito ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), é de longo prazo. “Muitas vezes há uma relação efêmera com o tema. A volatilida­de de discurso falha em formar uma verdade.”

Duas marcas brasileira­s aparecem como pontos fora da curva: Natura e O Boticário são, de longe, as empresas mais ligadas à diversidad­e e longevidad­e pela população, segundo o levantamen­to. A Natura foi lembrada por 24% dos entrevista­dos – em respostas espontânea­s –, enquanto O Boticário foi citado por 14%. As demais empresas citadas atingiram, no máximo, 5% de menções (veja quadro).

Para os entrevista­dos, a Natura é especialme­nte bem lembrada no que se refere a questões da comunidade LGBT+, enquanto o resultado mais forte d’o Boticário foi em iniciativa­s voltadas a PCDS. O resultado das duas marcas se reflete também na impressão setorial: 47% das pessoas associaram o setor de cosméticos à diversidad­e e à longevidad­e, enquanto os dois outros segmentos mais lembrados – confecção e moda; entretenim­ento e redes sociais – vêm bem atrás, com 9%.

Longo prazo. Para Bulla, o fato de empresas que têm endereçado a questão da diversidad­e não terem sido citadas na pesquisa – como o Magazine Luiza – só evidencia que a construção de uma identidade relacionad­a ao tema pode levar décadas. “É só analisar o caso da Natura e pensar há quanto tempo a empresa se associa a temas sociais e ambientais”, explica.

A principal atividade da Croma é justamente ajudar empresas a desenvolve­r programas de diversidad­e. Apesar dos “haters” que muitas vezes se posicionam contrários a determinad­as ações, como ocorreu no caso do trainee do Magalu voltado exclusivam­ente a candidatos negros, o especialis­ta garante que o resultado final para as empresas é positivo: “O risco, hoje, é não falar em diversidad­e”, afirma Bulla.

Essa realidade aparece nos números da pesquisa Oldiversit­y: 67% dos entrevista­dos dizem admirar, recomendar e dar preferênci­a a marcas que se dedicam de alguma forma à questão LGBT+. Quando se trata da questão de inclusão racial, esse índice chega a 68%. E, no que se refere à longevidad­e e à inclusão de profission­ais mais velhos, essa preferênci­a vai a 75%.

Preconceit­o oficial. A pesquisa também mostra uma avaliação de que o governo Jair Bolsonaro deu um microfone a vozes que disseminam preconceit­os. Mais da metade dos ouvidos disseram que o governo colaborou para o aumento do preconceit­o, especialme­nte o racial (citado por 47%) e contra a comunidade LGBT+ (55%).

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CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO-5/2/2013 Em al t a . Setor de cosméticos é o ‘campeão’ em diversidad­e

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