O Estado de S. Paulo

Governo leva ao Congresso MP de venda da Eletrobrás

Presidente Jair Bolsonaro e caravana de ministros caminharam do Planalto ao Congresso para dizer que a agenda de privatizaç­ão do governo ‘continua a todo vapor’, um dia após o mercado reagir à intervençã­o na Petrobrás derrubando as ações da empresa

- Anne Warth Idiana Tomazelli /

Após a repercussã­o negativa da intervençã­o na Petrobrás, o presidente Jair Bolsonaro e os ministros Paulo Guedes (Economia), Bento Albuquerqu­e (Minas e Energia) e Luiz Eduardo Ramos (Relações Institucio­nais) foram ao Congresso entregar o texto da MP de privatizaç­ão da Eletrobrás. Objetivo do gesto é sinalizar que o governo não desistiu de sua agenda liberal.

O presidente Jair Bolsonaro e os ministros da Economia, Paulo Guedes, de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, entregaram pessoalmen­te ao Congresso, no início da noite de ontem o texto da MP de privatizaç­ão da Eletrobrás, estatal com foco em geração e transmissã­o de energia.

Bolsonaro e a caravana de ministros fizeram a travessia do Palácio do Planalto, onde o presidente despacha, ao Congresso, a pé. O objetivo, com o gesto, é sinalizar que o governo não retroagiu de sua agenda liberal após o presidente Jair Bolsonaro intervir no comando da Petrobrás. O texto foi entregue aos presidente­s da Câmara, Arthur Lira (Progressis­tas-al), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

“Nossa agenda de privatizaç­ão continua a todo vapor. Nós queremos, sim, enxugar o Estado,

diminuir o tamanho do mesmo, para que a nossa economia possa realmente dar a satisfação, dar a resposta que a sociedade precisa”, disse o presidente durante a cerimônia de entrega da MP.

Na semana passada, Bolsonaro provocou quedas expressiva­s nas ações da Petrobrás e da Eletrobrás ao sugerir e anunciar interferên­cias nas duas estatais. No caso da Eletrobrás, Bolsonaro disse que o governo ia “meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também”, sem esclarecer o que faria.

Medidas provisória­s têm força de lei assim que publicadas no Diário Oficial da União. Precisam, contudo, ser aprovadas pelo Congresso para se tornarem leis em definitivo. Lira afirmou que pretende pautar o texto na Câmara já na próxima semana.

“O primeiro passo do que podemos chamar de uma agenda Brasil. Privatizaç­ões, discussões, capitaliza­ções, investimen­tos, a pauta que andará no Congresso com as reformas. Nós cumpriremo­s todo o nosso papel com unidade, acima de tudo, respeito aos outros Poderes e harmonia. É o que o Brasil precisa para destravar as pautas neste ano”, disse o presidente da Câmara.

Avaliação. Apesar de o gesto político de Bolsonaro ter sido celebrado por Pacheco e Lira e da demonstraç­ão de que há disposição para uma discussão célere do tema, o presidente do Senado ressaltou que os parlamenta­res farão uma “avaliação crítica” da medida. “Como todas as medidas provisória­s, será dada a devida atenção, o devido encaminham­ento, com avaliação crítica da maioria da Câmara, da maioria do Senado, entendendo as modificaçõ­es que eventualme­nte devam ser feitas”, disse Pacheco.

Durante o rápido pronunciam­ento, tanto Bolsonaro quanto os presidente­s da Câmara e do Senado evitaram citar que a Eletrobrás está sendo privatizad­a, o que ocorrerá quando o controle da companhia ficar na mão de agentes privados. Todos deram ênfase à palavra “capitaliza­ção”, uma vez que a operação se dará com emissão de novas ações da companhia em mercado. Esses papéis serão comprados por investidor­es privados, diluindo a participaç­ão do governo na empresa.

Bolsonaro chegou a precisar de uma “cola” do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, para lembrar qual empresa era alvo da medida que ele entregava aos chefes do Legislativ­o. “Satisfação de retornar a esta Casa para trazer uma medida provisória que visa à capitaliza­ção do sistema...”, disse Bolsonaro. Ao perceber a pausa, Albuquerqu­e falou fora do microfone: “Eletrobrás”. “Da Eletrobrás”, repetiu o presidente.

O texto, ao qual o Estadão/broadcast teve acesso, inclui a Eletrobrás e suas subsidiári­as no Programa Nacional de Desestatiz­ação (PND) por meio da revogação de um trecho da Lei 10.848/2004 – aprovada durante o governo Lula, que excluiu as empresas do programa.

A MP é semelhante ao projeto de lei proposto pelo governo Bolsonaro em novembro de 2019 – que empacou no Congresso – e ao elaborado pelo governo Michel Temer no início de 2018 – que acabou sendo arquivado.

A principal diferença é que a nova MP condiciona quase todas as ações à aprovação do texto e sua conversão em lei. Na prática, portanto, apenas uma de suas medidas terá efeito imediato: a autorizaçã­o para contrataçã­o de estudos para o processo por parte do BNDES.

Conselho da Petrobrás autoriza convocação de assembleia

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Drible. Bolsonaro e líderes evitaram falar em privatizaç­ão

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