O Estado de S. Paulo

Conselho discute pena branda a Silveira

Colegiado de Ética da Câmara instaura processo; dos 21 titulares consultado­s, só três defenderam abertament­e a cassação do deputado

- Vinícius Valfré / BRASÍLIA

Integrante­s do Conselho de Ética da Câmara discutem aplicar uma punição branda ou até mesmo livrar o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) de qualquer censura após os ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e apologia à ditadura militar, embora o colegiado tenha instaurado ontem um processo que pode levar à sua cassação. Dos 21 titulares do Conselho consultado­s pelo Estadão, apenas três defenderam abertament­e a punição a Silveira. A maioria não quis antecipar como vai votar.

Silveira completa hoje nove dias de prisão, determinad­a pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e confirmada pelos plenários da Corte e da Câmara. Além de abrir processo contra Silveira, o Conselho de Ética também instaurou procedimen­to para analisar as denúncias que pesam sobre a deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de ser a mandante do assassinat­o do marido, o pastor Anderson do Carmo. Ela foi afastada do mandato ontem por decisão da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio (mais informaçõe­s nesta página).

Nos bastidores, a avaliação é de que o início simultâneo das análises das representa­ções beneficia o parlamenta­r bolsonaris­ta. Sob reserva, deputados argumentam que as penas devem ser distintas porque a agressivid­ade verbal de Silveira não pode ser comparada a um caso de acusação de assassinat­o. Por esse raciocínio, seria Flordelis, e não ele, quem deveria perder o mandato.

A oposição, por sua vez, busca convencer colegas de que as duas condutas foram graves e passíveis de punições firmes. “Seja um crimezinho ou um crimezão, eles atentaram contra a ética e o decoro parlamenta­r. Não compete ao Conselho decidir se punições têm que ser diferentes porque crimes foram diferentes. Isso compete à Justiça”, afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Há, ainda, quem defenda salvar Silveira de qualquer punição, com a justificat­iva de que a prisão já foi um revés duro. “Você não pode punir duas vezes a pessoa pelo mesmo erro. Se ele for punido novamente, com a cassação do mandato, na minha visão ele está sendo penalizado duas vezes”, disse o líder do Podemos, Igor Timo (MG). O caso de Flordelis, porém, é considerad­o na Câmara como “favas contadas” a favor da cassação.

Deputados contra a cassação de Silveira também esperam que a prisão seja reconsider­ada pelo Judiciário. O que seria mais um argumento contra a perda do mandato. Como mostrou o Estadão, a previsão é a de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, volte a analisar o caso ainda nesta semana.

Pesa contra a liberação do deputado, no entanto, a apreensão de dois aparelhos celulares em sua cela, na Polícia Federal, e a falta de cooperação do parlamenta­r ao se recusar a oferecer senhas dos telefones aos investigad­ores.

Apesar de preso em flagrante, Silveira continua recebendo salários. Além da remuneraçã­o de R$33.763, permanece à disposição do gabinete dele uma cota mensal de R$ 35.759,97 para custear atividades do mandato.

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 18/2/2021 Deputado. Preso desde o dia 16, Daniel Silveira foi transferid­o dois dias depois da sede da PF para o Batalhão da PM, no Rio

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