O Estado de S. Paulo

PEC emergencia­l que retoma auxílio poderá ser fatiada

Em um primeiro momento, seria aprovada apenas a via rápida para garantir o socorro e depois seriam aprovadas as contrapart­idas

- Daniel Weterman Adriana Fernandes /

A Câmara avalia fatiar a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) emergencia­l e aprovar primeiro o dispositiv­o que autoriza o governo a lançar uma nova rodada de auxílio neste ano antes das medidas de fortalecim­ento das regras de contenção de gastos para crises futuras.

O assunto foi discutido nos últimos dias, mas enfrenta resistênci­as do Ministério da Economia. A pasta tenta barrar a pressão, que aumentou de segundafei­ra para ontem.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já aceitou a concessão do auxílio sem contrapart­idas de corte de despesas neste momento e colocou seu futuro no governo na aprovação de um texto da PEC com “protocolo de crise” sem desidrataç­ão. Agora, desdobra-se para garantir essa aprovação.

A Câmara deve votar o texto na sequência da análise dos senadores, prevista para a semana que vem (ler mais abaixo ). Com essa estratégia de fatiamento, o Congresso pode promulgar no primeiro momento apenas o artigo que permite uma “via rápida” para tirar o benefício do papel. O texto autoriza que o auxílio seja pago sem uma nova calamidade, por meio de crédito extraordin­ário fora do teto de gastos (regra que limita o avanço das despesas à inflação) e sem interferir no esforço que a equipe econômica precisa fazer para atingir a meta de primário, que permite rombo de até R$ 247,1 bilhões.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se reuniu ontem com Guedes, que cancelou sua participaç­ão em evento do Center for Strategic & Internatio­nal Studies (CSIS) sobre a Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE).

Para integrante­s da equipe econômica, Lira estaria comprometi­do com a votação da PEC com ajustes. Eles lembram mensagem postada ontem pelo presidente da Câmara ressaltand­o a votação da PEC como um marco histórico das finanças públicas e sua votação até 25 de março. O presidente da Câmara, por outro lado, tem repetido que sempre vai ouvir a posição dos líderes democratic­amente.

Segundo apurou o Estadão/broadcast, Lira no almoço negou que defenda o fatiamento a Guedes. Mas o problema é que as lideranças da Câmara avaliam que a análise das medidas fiscais pode atrasar a votação da PEC, enquanto a volta do auxílio é considerad­a urgente diante da pandemia.

Sob análise. Governista­s no Congresso confirmara­m que o fatiamento está sendo analisado, mas apontam que é muito complicado saber o que seria destacado. Avalia-se que a pressão pelo pagamento do auxílio pode ajudar a promover um entendimen­to de procedimen­to de tramitação.

No Senado, o senador José Serra (PSDB-SP) apresentou uma emenda ao parecer para destacar o dispositiv­o do auxílio emergencia­l, deixando para outro momento os ajustes estruturai­s. Serra repete sempre a frase: “A pressa é inimiga da Constituiç­ão”.

O fatiamento da PEC, porém, seria um caminho mais rápido para dar suporte legal à abertura de um crédito extraordin­ário no Orçamento e iniciar o pagamento da nova rodada. Os outros itens da PEC, entre eles os mais polêmicos, como os gatilhos para contenção de despesas no governo federal, nos Estados e nos municípios, ficariam para um segundo momento.

Essas medidas de redução de gastos seriam automatica­mente colocadas em prática em duas situações no futuro: calamidade­s nacionais, como a da covid-19, e outro para episódios em que as despesas correntes de Estados e municípios superam 95% de suas receitas correntes (no caso da União, a proporção é despesa obrigatóri­a superior a 94% do gasto total).

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-4/2/2021 Apoio. Guedes já aceitou que contrapart­idas venham depois

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