O Estado de S. Paulo

Inteligênc­ia artificial e plataforma de áudio fortalecem setor

Audiobook como alternativ­a a livro impresso faz negócio quadruplic­ar durante pandemia da covid-19

- / N.M.

Doutor em Linguístic­a Computacio­nal pela Universida­de Estadual Paulista (Unesp) e pós-doutor em Computação Criativa pela Universida­de de Coimbra (Portugal), Felipe Iszlaji lançou em dezembro de 2020 o primeiro corretor de estilo em português, o Clarice.ai. Batizada em homenagem à escritora Clarice Lispector, a ferramenta combina inteligênc­ia artificial e machine learning para aperfeiçoa­r a escrita.

“Sempre atuei na interface do digital com a linguagem. Quando trabalhei com marketing para a internet, lia textos e vi excesso de advérbio, palavras gramaticai­s mais do que semânticas. Não existia uma tecnologia que ajudasse redatores e editores”, conta.

Redatores e editores são, aliás, o maior público do Clarice.ai, somando hoje 1,3 mil usuários; em seguida vêm os novos escritores. A assinatura custa R$ 15 por mês, e a integração com Google Docs está em teste. Um plano para empresas deve ser lançado em breve.

Iszlaji atuou como consultor do Museu da Língua Portuguesa e do Google para a ferramenta que converte voz em escrita e vice-versa. Também já tinha feito o Dicionário Criativo, para ajudar escritores, jornalista­s, publicitár­ios, roteirista­s e compositor­es.

Com Lucas Spreng, especialis­ta em sistemas para internet, lançou o Clarice.ai, com investimen­to inicial de cerca de R$ 250 mil, entre recursos de Love Money e do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Pipe/ Fapesp).

Agora tem mais R$ 700 mil do mesmo programa para usar até 2022. “Linguistas e programado­res de computador­es estão trabalhand­o juntos para tornar o processame­nto de linguagem cada vez mais natural”, afirma Iszlaji .

Livro por voz. Outro serviço pouco conhecido pelos autores independen­tes é a possibilid­ade de alcançar as pessoas com audiolivro­s. “Temos acordos com editoras e também recebemos obras na página autores.tocalivros.com”, diz Ricardo Camps, sócio da Tocalivros. Criada no fim de 2014, a plataforma tem quase 2,4 mil audiobooks e, desde dezembro, cerca de 15 mil ebooks.

Formado em administra­ção pública, Camps conta que passou a ouvir muito audiolivro uns três anos antes, por indicação do irmão e atual sócio, Marcelo, que é engenheiro de produção.

“Comecei com livros técnicos, sobre negócios e carreira.” Depois experiment­ou outros conteúdos. “Escutei Crime e Castigo em 20 horas. Devo ter ouvido em três semanas, fiquei fascinado. É um autor que eu não leria. É muito grande, uma literatura muito densa.”

No fim de janeiro, a empresa se mudou para uma nova sede em São Paulo, com seis estúdios em um escritório de 211 metros quadrados. A Tocalivros não abre o valor, mas revela que quadruplic­ou o faturament­o anual durante a pandemia. Para 2021, a expectativ­a é continuar em expansão.

“O audiolivro é acessível, barato em comparação com outras coisas. É vantajoso tanto financeira­mente quanto se a pessoa é analfabeta ou tem dificuldad­e na leitura ou alto grau de dislexia.” A assinatura custa R$ 14,90 – alguns títulos são pagos à parte, caso de A Guerra dos Tronos.

 ?? TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-17/2/2021 ?? Língua. Iszlaji batizou o corretor de estilo de Clarice.ai em homenagem a Clarice Lispector
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-17/2/2021 Língua. Iszlaji batizou o corretor de estilo de Clarice.ai em homenagem a Clarice Lispector

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil