O Estado de S. Paulo

Scania lança primeiro ônibus movido a gás do País

Modelo estreia na operação da Turis Silva, empresa responsáve­l por fazer o transporte dos colaborado­res da Gerdau

- Por Andrea Ramos

AScania vendeu o primeiro ônibus movido a gás do País. O modelo foi entregue à Turis Silva, operadora de Porto Alegre, capital gaúcha, que vai transporta­r os colaborado­res da Usina de Aços Gerdau.

O ônibus a gás é uma continuida­de da estratégia da Scania de oferecer um transporte mais limpo frente ao diesel. No ano passado, a marca introduziu essa mesma tecnologia nos caminhões. E, até o encerramen­to de 2020, havia vendido 70 veículos de carga para importante­s operadores logísticos do País. Possivelme­nte, a Scania estenderá a tecnologia para ônibus urbanos, em breve. Mesmo porque o maior apelo do motor a gás é a redução de emissão de poluentes como o CO2, na ordem de 15%.

O ônibus eleito para receber a tecnologia é o rodoviário K 320 4x2. O chassi, com motor traseiro, tem propulsor que desenvolve 320 cv de potência. Seu motor é Ciclo Otto, ou seja, o mesmo conceito dos automóveis. Portanto, não é um propulsor convertido do diesel para o gás, sendo movido 100% a gás e biometano ou a mistura de ambos. SOBRE O ÔNIBUS A GÁS Os cilindros do gás são produzidos com o mesmo material utilizado nas ogivas de mísseis. Em caso de incêndio ou batida, o gás é liberado na atmosfera e se dissolve sem perigo de explosão. Segundo a Scania, esse sistema é ainda mais seguro na comparação ao veículo similar abastecido a diesel que é mais perigoso, pois o líquido fica no chão ou pode se espalhar ao longo da carroceria. O K 320 conta com três válvulas (vazão, pressão e temperatur­a) que liberam o gás em caso de anomalia em um desses três quesitos.

O ônibus é equipado com carroceria Marcopolo Paradiso New G7 1050. Essa versão se destaca pela lista de equipament­os a bordo. Possui acesso à internet, TV digital, poltronas semileito, sistema de monitorame­nto por câmeras, tomadas USB individuai­s, sistema de ar-condiciona­do e monitores no salão de passageiro­s.

O modelo ainda traz algumas das soluções da plataforma Marcopolo Biosafe. O sanitário e o sistema de ar-condiciona­do possuem lâmpadas UV-C para desinfecçã­o dos ambientes. As cortinas são produzidas com material antimicrob­iano. Há ainda dispenser de álcool em gel na entrada da escada de acesso. A carroceria tem capacidade para transporta­r 44 passageiro­s, mas, por causa do distanciam­ento social, o modelo vai operar com metade desse número. AUTONOMIA DE 300 QUILÔMETRO­S O trajeto feito na operação da Gerdau será de 190 quilômetro­s entre ida e volta. O veículo sairá de Porto Alegre, capital gaúcha, com destino à cidade de Charqueada­s. Mas sua autonomia é de 300 quilômetro­s, graças aos oito cilindros de gás instalados na lateral dianteira do veículo. O início do trabalho do ônibus a gás deverá ocorrer até o final do primeiro trimestre, período em que deve ser concluído o processo de certificaç­ão e homologaçã­o para receber a autorizaçã­o de rodagem.

ATuris Silva, operadora de transporte da Região Sul do Brasil, vai estrear a operação do primeiro ônibus rodoviário movido a GNV para aplicações em fretamento no País. O veículo, que inicia a operação até o final deste primeiro trimestre, começou a ser negociado há cerca de um ano. “Cresce a cada dia os pedidos de contratant­es para termos alternativ­as ao diesel no transporte de funcionári­os. A Gerdau é uma delas. Nos procurou há dois anos para colocar na frota veículos mais limpos. Não dará mais para continuar tendo o diesel como matriz única”, diz Jaime Silva, fundador e proprietár­io da Turis Silva Transporte­s.

Por causa dessa demanda dos clientes por energias mais limpas no transporte, até novembro do ano passado o empresário avaliou a tecnologia elétrica. Ficou impression­ado com as vantagens que o veículo, um modelo BYD, oferece, uma vez que é livre de poluentes. Porém, Silva acredita que, neste momento, é inviável que empresário­s de pequeno e médio portes adquiriram o veículo. “O ônibus elétrico custa cerca R$ 2 milhões. E ainda há os desafios de infraestru­tura de recarga. Minha empresa está localizada em uma região cuja estrutura ainda é precária; precisaria renovar a rede de energia para montar essa infraestru­tura. Além dos investimen­tos que eu teria de fazer, iria precisar da intervençã­o do Poder Público, o que seria inviável”, explica Silva.

Para Silva, a eletromobi­lidade fará parte da realidade do transporte em breve, mas ainda precisa se tornar viável. “É questão de tempo, e, havendo demanda, os valores baixam. Dessa forma, será possível investir na infraestru­tura”, diz. VANTAGENS Já com relação ao gás, além de o custo de aquisição ser menor – o empresário não quis relevar o preço –, a Turis Silva fez um convênio com o posto de combustíve­l próximo de sua empresa. “Nós também vamos abastecer na própria Gerdau, que tem infraestru­tura de gás na empresa. Aliás, eu diria que 90% do abastecime­nto desse ônibus ocorrerá na empresa, e já estamos acertando os valores”, diz.

Para Silva, a menor complexida­de do veículo a gás é o que tornará possível expandir a tecnologia na operação de ônibus. O empresário, que também é presidente da Associação Nacional dos Transporta­dores de Turismo e Fretamento (Anttur), acredita que a solução irá se expandir, primeiro, pelo segmento de fretamento.

“Tenho muitos clientes que me pedem solução. Comecei pela Gerdau e é questão de tempo a gente levar a frota para atender outros clientes. Há operadores de fretamento nos demandando um ônibus a gás para o transporte de fretamento. E acho que colegas de outras empresas também devem receber esse pedido.”

A Turis Silva Transporte­s é uma empresa com 31 anos de mercado. Com sede em Porto Alegre, presta serviços de fretamento contínuo e eventual. Possui 250 ônibus, com idade média de 4,5 anos. Entre os clientes da Turis Silva estão Ambev, Brasken, Thyssenkru­pp Elevadores, empresas que têm compromiss­os ambientais. Sobre o preço do ônibus, a Scania revela que a versão a gás custa entre 25% e 30% a mais em relação ao modelo movido a diesel.

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Scania K 320 4x2 com carroceria Marcopolo da gama topo de linha G7 é pioneiro no Brasil no uso do combustíve­l
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Ônibus da Turis é equipado com oito cilindros, o que lhe garante 300 km de autonomia
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A bordo, ônibus traz alguns dos sistemas de biossegura­nça da Marcopolo, entre eles, cortina antimicrob­iana

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