O Estado de S. Paulo

MORRE ÍCONE DOS BEATNIKS AOS 101 ANOS

Poeta e editor americano foi um dos principais responsáve­is pela ascensão do movimento beat em São Francisco

- André Cáceres

O poeta, editor, escritor e artista plástico americano Lawrence Ferlinghet­ti, o último sobreviven­te da geração beat, morreu nesta segunda-feira, 22, aos 101 anos, em sua casa, em São Francisco.

Ele foi um dos grandes responsáve­is por difundir a cultura beatnik, não apenas com sua obra poética, mas também por meio de seu trabalho de editor.

Em 1953, Ferlinghet­ti fundou com Peter D. Martin a editora City Lights Bookseller­s & Publishers, na qual publicou Howl and Other Poems, coletânea paradigmát­ica do poeta Allen Ginsberg, em 1956, tido como uma das obras que abriram caminho para o surgimento da geração beat – na época, o livro foi recebido com horror por críticos, tido como ofensivo. Aliás, desde 2001, a editora e livraria City Lights é um patrimônio histórico da cidade de São Francisco.

Como poeta, o trabalho mais conhecido de Ferlinghet­ti é a coletânea A Coney Island of the Mind, de 1958, que o colocou ao lado de autores beatniks, como Jack Kerouac (de On The Road, clássico de 1957) e William S. Burroughs (de Almoço Nu, de 1959).

Esses e outros nomes do movimento beat levaram poemas e prosas aparenteme­nte kitsch ao patamar da alta literatura, lutando contra a percepção de que os escritores deveriam almejar a erudição. Por sua luta antiestabl­ishment – estética e politicame­nte, diga-se de passagem, uma vez que os beats foram críticos ferrenhos da perseguiçã­o política empreendid­a pelo macarthism­o, o que os deu a pecha equivocada de comunistas –, essa geração de poetas e escritores influencio­u em grande medida toda a contracult­ura do século 20.

Além de poeta, o autor também publicava prosa e pintava quadros. Em 2020, ele publicou seu último livro, Little Boy, um romance de cunho autobiográ­fico.

Sem jamais perder sua lucidez, tendo produzido até os últimos anos, Ferlinghet­ti viveu o suficiente para ver transforma­ções políticas e tecnológic­as afetarem a vida cotidiana. Em uma entrevista concedida à rádio NPR, o poeta reclamou por ver que as pessoas preferiam mexer em seus celulares a conversar no seu café favorito de São Francisco.

No Brasil, a publicação de dois de seus livros está sendo preparada pela Editora 34. Um deles é Poesia Como Arte Insurgente, que reúne alguns de seus ensaios e manifestos. O outro é uma antologia de seus poemas organizada por Fabiano Calixto e Natália Agra.

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BRIAN FLAHERTY/THE NEW YORK TIMES - 2/3/2016 Lenda. Em 1953, ele fundou a célebre livraria City Lights

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