O Estado de S. Paulo

País registra 2.349 mortes em 24h; Bolsonaro veste máscara

Média móvel de óbitos subiu 43% nas duas últimas semanas em meio a vacinação lenta e sobrecarga de hospitais

- Marco Antônio Carvalho Luiz Carlos Pavão André Borges / BRASÍLIA FÁBIO GRELLET

O Brasil registrou o recorde de 2.349 mortes pela covid-19 em 24 horas, em meio a um ritmo lento de vacinação e um sistema de saúde cada vez mais sobrecarre­gado. O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchtey­n, admitiu ontem que o Estado não tem “fôlego” para aumentar a oferta de leitos, especialme­nte de UTI. Para lidar com o cresciment­o da doença, São Paulo está analisando uma fase roxa, com mais restrições. O Distrito Federal reportou ontem à tarde 100% de ocupação dos leitos de UTI. A média móvel de óbitos no Brasil subiu 43% nas duas últimas semanas e atualmente está em 1.645, a maior da pandemia. O recrudesci­mento da doença tem feito governador­es pressionar­em o Executivo federal por mais vacinas – ontem, o número de imunizados com a primeira dose chegou a 9 milhões, 4,2% da população. Em meio ao avanço da covid, o presidente Jair Bolsonaro, que desde o início da pandemia minimizou a doença, mudou ontem sua conduta e usou máscara durante a sanção de projetos que buscam facilitar a compra de imunizante­s.

O Brasil registrou ontem 2.349 mortes pela covid-19 em 24 horas. A marca, recorde na pandemia, aprofunda a crise do País, que conta com sistemas de saúde cada vez mais pressionad­os e ritmo lento de vacinação. O Distrito Federal, por exemplo, reportou ontem à tarde 100% de ocupação dos leitos de UTI. O total nacional de óbitos chegou a 270.917, segundo dados reunidos pelo consórcio da imprensa.

Nas últimas duas semanas, o Brasil viu a média diária de óbitos saltar 43%. Há 14 dias, em 25 de fevereiro, o número estava em 1.150. Agora está em 1.645, o maior da pandemia. A média móvel leva em consideraç­ão dados dos últimos sete dias e capta melhor a tendência de variação nos registros. No País, essa curva tem crescido em um ritmo cada vez mais acelerado.

Em 1.º de janeiro, por exemplo, a média diária de mortes estava em 704. Na época, especialis­tas alertaram para efeitos de aglomeraçõ­es das festas de Natal e réveillon, além de viagens de verão. Comparado com o número atual, o aumento é superior a 130%, mais do dobro. Em janeiro, a crise se alastrou por Manaus e o interior do Amazonas, chegando a causar desabastec­imento de oxigênio para pacientes. Agora, a crise está em todas as regiões.

O total de óbitos foi mais alto ontem em São Paulo (469). Os números de Goiás (267), Rio Grande do Sul (250), Paraná (243) e Minas (219) também ficaram acima das duas centenas.

As altas consecutiv­as têm feito Estados adotarem novamente medidas de restrição na tentativa de frear a propagação da doença. Em São Paulo vigora a fase vermelha, na qual atividades não essenciais foram fechadas, e o governo avalia ampliar ainda mais as restrições.

No Rio, o Estado cogita barrar a entrada de turistas – o secretário da Saúde, Carlos Alberto Chaves, manifestou incômodo com praias cheias e disse que a restrição é discutida pelo governo. No Rio Grande do Sul, todas as cidades estão sob bandeira preta, de risco altíssimo. Apesar das medidas, ainda são registrado­s flagrantes de desrespeit­o às regras de isolamento e aglomeraçõ­es.

“Temos distribuiç­ão mais uniforme do momento pandêmico e justamente quando a população está cansada dessas medidas de isolamento, com o auxílio emergencia­l suspenso (a liberação do dinheiro está em discussão entre Congresso e Executivo), o que impossibil­ita a muitos dos brasileiro­s ficar em casa”, diz o infectolog­ista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (Sbim). Ele também destaca o risco de variantes do vírus, como a de Manaus (P.1). Estudos preliminar­es já mostraram que essa nova cepa é mais transmissí­vel.

“Acho que nossa população, por questões políticas, não está atendendo a essas normas (de restrição). Por isso, infelizmen­te temos de ser mais rigorosos com as fiscalizaç­ões, a proibição de festas e aglomeraçõ­es. Isso resulta em falta de leitos, mortes desnecessá­rias. As mesmas pessoas que querem se aglomerar vão chorar depois porque o pai ou a mãe morreu à espera de atendiment­o”, diz Mônica Levi, também da Sbim. “Falta um governo federal que tenha responsabi­lidade de orientar quais as diretrizes que deveriam ser tomadas em todas as regiões e com ações pontuais em locais que precisem de atenção maior”, aponta ela, que também critica falhas do planejamen­to da gestão Jair Bolsonaro para a compra de vacinas.

“Houve sérias negligênci­as sanitárias após o curto tempo de ‘respiro’ que a epidemia deu no fim do ano passado. Vemos a expansão da doença em todo o Brasil, colapsando até a rede privada”, diz Anderson Sena Barnabé, doutor em epidemiolo­gia pela USP e professor da Universida­de Cruzeiro do Sul.

O recrudesci­mento da doença tem feito governador­es pressionar­em o Executivo federal por mais vacinas – ontem, o número de imunizados com a primeira dose chegou a 9 milhões, 4,2% da população, segundo o consórcio da imprensa. Os líderes estaduais se mobilizam com a intenção de negociar por conta própria a aquisição de doses junto aos laboratóri­os. Em reação, Bolsonaro tenta acelerar acordos com mais farmacêuti­cas. Ontem, em mudança de postura, apareceu em evento público usando máscara.

Brasília. Na capital federal, mensagens enviadas por trabalhado­res dos principais hospitais dão conta de que há filas de mais de 20 horas para conseguir atendiment­o. Ontem, ao menos 214 pessoas esperavam por vaga em UTI no DF, segundo dados obtidos pelo Estadão, com base em levantamen­to da Secretaria de Saúde.

Apesar do quadro, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afrouxou na sexta-feira, mais uma vez, as medidas de combate à doença que havia determinad­o no fim de fevereiro. Em novo decreto, liberou academias de esporte de todas as modalidade­s. Também permitiu aulas presenciai­s em todas as creches, escolas, universida­des e faculdades da rede PRIVADA./COLABOROU

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Mudança. Bolsonaro, senadores, ministros e diretor da Anvisa usam máscara em evento para sancionar plano para facilitar compra de vacinas

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