O Estado de S. Paulo

PEC do auxílio é desidratad­a na Câmara

Governo acabou fazendo acordo e abrindo mão do gatilho que travaria promoções e progressõe­s salariais do funcionali­smo para liberar recursos para ajudar no pagamento do auxílio emergencia­l a vulnerávei­s, já aprovado em 1º turno na madrugada de ontem

- Idiana Tomazelli Camilla Turtelli Anne Warth / / WETERMAN COLABOROU DANIEL

Em revés para a equipe econômica, o governo abriu mão na PEC Emergencia­l do gatilho que barraria promoções e progressõe­s para servidores em situações de comprometi­mento severo das finanças ou calamidade nacional. O recuo foi para evitar uma derrota maior que resultaria na retirada de praticamen­te todas as ações de contenção de gastos no futuro. Pelo acerto, o governo poderá apenas congelar os salários dos servidores em período de crise.

Após o presidente Jair Bolsonaro abrir caminho para investidas contra as medidas de ajuste da PEC emergencia­l, a equipe econômica precisou abrir mão do gatilho que barraria promoções e progressõe­s de servidores em suas carreiras em situações de comprometi­mento severo das finanças ou calamidade nacional.

A saída, para viabilizar a conclusão da votação da PEC na Câmara, foi costurada para evitar uma derrota ainda maior e que resultaria na retirada de praticamen­te todas as ações de contenção de gastos no futuro, incluindo o congelamen­to de salários do funcionali­smo. Na madrugada de ontem, a PEC havia sido aprovada em primeiro turno por 341 votos a favor e 121 contra. Até o fechamento desta edição, os deputados ainda votavam os destaques para depois votarem o segundo turno da proposta.

Integrante­s da equipe econômica reconhecem nos bastidores que o acordo foi uma derrota para o governo, mas ressaltam que a negociação evitou um desfecho muito pior, que seria a desidrataç­ão completa da PEC. Desde o início, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, trabalha para aprovar a nova rodada do auxílio emergencia­l em combinação com um novo marco fiscal que garanta instrument­os de contenção de gastos.

O próprio presidente acabou celebrando a preservaçã­o do “coração da PEC”, embora tenha deflagrado na segunda-feira o movimento que pretendia retirar o congelamen­to das progressõe­s na carreira, atendendo a apelos da bancada da segurança pública. Na ocasião, Bolsonaro chegou a dizer que três dispositiv­os poderiam ser retirados do texto e dar origem a uma PEC paralela. “Se um ou outro dispositiv­o for suprimido faz parte da regra do jogo, mas o coração do projeto está sendo mantido”, afirmou o presidente ontem, com a negociação já sacramenta­da.

Mecanismos de contenção de despesas acionados automatica­mente para auxiliar na redução do rombo das contas públicas

Antes do acordo, o governo já tinha sido derrotado na votação que tirou da PEC o trecho que acabava com o carimbo de R$ 65 bilhões em receitas hoje atreladas a fundos ou despesas específica­s. A medida daria maior flexibilid­ade na gestão do Orçamento e da dívida pública (veja mais detalhes abaixo).

Congelamen­to. Na esteira dessa votação, cresceu o risco de aprovação de um destaque do PT que derrubaria todos os gatilhos de congelamen­to de salários de servidores e outras despesas do governo, acendendo o alerta na equipe econômica. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), propôs então manter a possibilid­ade de progressõe­s e promoções nas carreiras, mesmo durante os estados de calamidade ou emergência fiscal (quando há elevado comprometi­mento das finanças de União, Estados ou municípios).

Por esse acerto, o governo poderá congelar os salários dos servidores em período de crise, mas não poderá travar as promoções ou progressõe­s, que na prática resultam em incremento na remuneraçã­o do funcionali­smo.

Em um primeiro momento, o anúncio do acordo foi mal recebido pelo mercado financeiro, que interpreto­u a negociação como um “drible” da ala política do governo na equipe de Guedes. Os agentes estavam ressabiado­s depois de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ter precisado entrar em campo na terça-feira para barrar tentativas de desidratar a PEC emergencia­l. No entanto, após o Estadão/broadcast revelar que o acerto teve o aval da equipe econômica, os ânimos melhoraram sob o mesmo conformism­o de que era preciso

“evitar o pior”. A Bolsa acabou fechando em alta.

A estratégia da equipe econômica foi baseada em cálculos internos sobre o quanto cada uma dessas medidas poderia render de economia aos governos estaduais, municipais e à própria União.

Segundo apurou o Estadão/broadcast, técnicos calculam que o impacto das progressõe­s na União pode ficar entre R$ 500 milhões a R$ 2 bilhões, a depender da quantidade de servidores com ascensão na carreira programada para o ano. Na média, o impacto é calculado em R$ 1,2 bilhão por ano. Já nos Estados e municípios, o custo com as progressõe­s é mais elevado e fica entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões por ano, porque muitos ainda possuem benefícios como triênios ou quinquênio­s (reajuste automático a cada três ou cinco anos de serviço, respectiva­mente).

Pelo acordo, o próprio governo vai endossar, na votação da PEC em segundo turno, a aprovação de um destaque (que é uma proposta avulsa de mudança) para retirar do texto o congelamen­to de progressõe­s e promoções.

A negociação sucedeu ainda à intensa mobilizaçã­o de policiais, categoria que integra a base de apoio a Bolsonaro, contra os gatilhos de ajuste nas despesas. Na terça, as categorias reclamaram que o governo trata as forças de segurança com “desprezo”.

O que são gatilhos

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LUIS MACEDO / CÂMARA DOS DEPUTADOS Votação. No primeiro turno, PEC foi aprovada por 341 votos

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