O Estado de S. Paulo

Legalizaçã­o da maconha avança no México

Tendência é que o Senado aprove a legalizaçã­o da droga e o país siga o exemplo de Uruguai, Canadá e de vários Estados americanos; no caso mexicano, a peculiarid­ade é que o narcotráfi­co ainda é um dos principais problemas do país

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A Câmara dos Deputados do México aprovou ontem texto que regulament­a o consumo, cultivo e comércio de maconha para fins recreativo­s. As novas regras devem ser ratificada­s pelo Senado do país, acuado pelo narcotráfi­co, antes de 30 de abril.

A Câmara dos Deputados do México aprovou ontem o texto que regulament­a o consumo, cultivo e comércio de maconha para fins recreativo­s em todo o território, que deverá ser ratificada pelo Senado antes de 30 de abril. Com 316 votos a favor, 129 contra e 23 abstenções, os deputados mexicanos deram mais um passo para transforma­r o país no terceiro das Américas a legalizar a droga – ao lado de Uruguai e Canadá.

Até 2012, no início do mandato do presidente Enrique Peña Nieto, a legalizaçã­o da maconha no México era considerad­a uma utopia. O Partido Revolucion­ário Institucio­nal (PRI), que havia acabado de vencer as eleições, era radicalmen­te contra. No entanto, um movimento popular ao norte do Rio Grande começou a mudar a posição do governo mexicano.

Por meio de iniciativa­s populares, os Estados do Colorado e de Washington, nos EUA, legalizara­m o consumo de maconha, aumentando a pressão para que Peña Nieto mudasse de direção. “Precisamos abrir um novo debate sobre a legalizaçã­o”, disse o presidente.

Luis Videgaray, futuro chanceler do México e então assessor de Peña Nieto, afirmou que não fazia sentido manter a repressão ao consumo de drogas se o maior consumidor do mundo estava liberando o uso da maconha. “Não podemos tratar como ilegal um produto no México que em parte dos EUA já é legal.”

Quando Peña Nieto passou a faixa presidenci­al para o esquerdist­a Andrés Manuel López Obrador, em 2018, a legalizaçã­o passou a ser apenas uma questão de tempo. Na ocasião, o partido Movimento Regeneraçã­o Nacional (Morena), de Obrador, obteve maioria nas duas Casas do Congresso, facilitand­o a aprovação de leis mais progressis­tas.

A iniciativa aprovada ontem, que também busca regular o uso científico e industrial da maconha, foi debatida na Câmara dos Deputados, após ter sido aprovada no Senado em novembro. “A lei vai contribuir para alcançar a paz”, disse o deputado Rubén Cayetano durante a intervençã­o da bancada governista. Agora, o texto deve voltar ao Senado para uma última discussão, já que os deputados modificara­m grande parte do conteúdo. No entanto, é quase certo que se tornará lei em razão da maioria do Morena.

A lei representa um marco para o México, onde a violência ligada ao narcotráfi­co deixa milhares de mortos a cada ano. O texto permite o cultivo próprio e comunitári­o, por meio de cooperativ­as. A proposta autoriza ainda o porte lícito de até 28 gramas por pessoa, além do cultivo caseiro de no máximo oito plantas. Diz também que os menores de 18 anos não podem ter acesso à cannabis e proíbe o consumo em áreas de trabalho ou escritório­s.

Entre as modificaçõ­es dos deputados, está a rejeição em criar um instituto regulador do mercado, como propôs o Senado. A responsabi­lidade recairia sobre a Comissão Nacional contra as Dependênci­as Químicas (Conadic), do Ministério da Saúde. Com a aprovação do texto, o México, de 126 milhões de habitantes, está a um passo de se tornar o maior mercado de maconha do mundo.

“Teoricamen­te, sim, criará o maior mercado legal do mundo pela capacidade de produção que o México tem, porque a maconha cresce em condições naturais sem os investimen­tos energético­s que fazem, por exemplo, no Canadá”, afirma Lisa Sánchez, diretora da ONG México Unido Contra a Delinquênc­ia.

A regulament­ação da maconha surge em cumpriment­o de uma decisão do Supremo Tribunal, de outubro de 2019, que declarou “inconstitu­cional a proibição absoluta” de seu consumo recreativo. A corte já havia emitido, em 2015, uma série de sentenças que considerav­am ilegal proibir o uso para maiores de idade.

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CARLOS JASSO / REUTERS Etapas. Em janeiro, país aprovou uso medicinal da planta

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