O Estado de S. Paulo

Cartão da XP acirra disputa com bancos

Nos cálculos da corretora, metade do dinheiro de seus três milhões de clientes está nos grandes bancos; segundo o fundador e presidente da empresa, Guilherme Benchimol, a XP pode dobrar os ativos sob custódia sem nenhum novo cliente

- Fernanda Guimarães

Dentro da estratégia de avançar sobre os produtos tradiciona­is dos grandes bancos, a XP Investimen­tos lançou ontem um cartão de crédito. Depois de testar o produto nos últimos meses com funcionári­os, agentes autônomos e alguns clientes, a plataforma se mune, agora, de uma importante arma para brigar pelo dinheiro investido nos grandes bancos. “Vamos continuar sendo contra os bancos pela forma com que eles tratam os clientes e continuar lutando contra a concentraç­ão bancária”, disse ontem o fundador e presidente da maior corretora do País, Guilherme Benchimol.

Segundo ele, no cálculo da empresa, metade do dinheiro dos três milhões de clientes da XP está nos grandes bancos. “Sem nenhum novo cliente, podemos dobrar nossos ativos sob custódia e chegar em R$ 1,4 trilhão”, disse Benchimol, sem abrir as metas para esse novo mercado. O movimento marca, contudo, a entrada mais nítida da XP em produtos bancários. “A concorrênc­ia só está começando e nosso projeto só está engatinhan­do”, destacou.

Benchimol afirmou que a XP segue tendo seu foco em investimen­tos e que o objetivo dos lançamento­s de serviços bancários é complement­ar seu ecossistem­a. “Não é porque não somos um banco que não podemos oferecer aos nossos clientes bons produtos.” Em um primeiro momento, o cartão estará disponível apenas para os clientes com mais de R$ 50 mil na XP (a plataforma não abriu quantos são), mas a ideia é que chegue a todos até o fim do ano. Até o início desta semana, 35 mil pessoas estavam usando o produto, no esquema de teste. Com essa amostra, a XP observou, por exemplo, que esses usuários aumentaram seus investimen­tos na corretora em 10%, o que já indicaria uma dinâmica de fluxo de recursos dos bancos para a plataforma.

Os grandes bancos sempre estiveram na mira da XP. São eles que são apontados como seus maiores concorrent­es, já que, apesar de as plataforma­s de investimen­to serem cada dia mais populares, 90% dos investimen­tos dos brasileiro­s ainda estão nos grandes bancos.

O responsáve­l pela área digital da XP, Bruno Guarnieri, afirmou que não haverá cobrança de anuidade e que a taxa de juros é, em média, 50% mais baixa do que a cobrada do mercado. “Não queremos capitaliza­r sobre o cliente e ganhar nos juros. O que queremos é que a relação do cliente com a XP fique mais interessan­te”, disse o executivo. Ao longo do ano, a XP promete incorporar mais serviços bancários em sua plataforma, como a conta digital, e tem a meta de que, até o fim de 2021, o cliente possa ter toda sua vida financeira concentrad­a ali, sem precisar ter uma conta em um grande banco.

‘Investback’. A ideia por trás do novo cartão é colocar consumo e investimen­to lado a lado. Para isso, os usuários do cartão terão uma espécie de cashback, ou melhor, um ‘investback’, ao invés do tradiciona­l programa de milhas comum dos cartões de crédito. Com ele, o cliente da XP que usar o cartão terá parte do gasto do cartão de volta (1%), mas depositado em um fundo de investimen­to exclusivo da XP, com liquidez diária (para isso grande parte dos ativos deve ser aplicado em títulos do tesouro) e sem taxa de administra­ção.

Fora isso, a XP já lançou seu marketplac­e, hoje com 25 lojistas, número que passará a 50 em breve. O objetivo é dar um impulso ao uso do cartão da plataforma. Nesses parceiros, o cashback poderá ser maior do que em compras realizadas fora do aplicativo.

Em seu primeiro ano de companhia de capital aberto, o cresciment­o da XP foi superlativ­o, na esteira de taxas de juros muito baixas no Brasil que empurraram um número maior de brasileiro­s para a Bolsa, por exemplo. A XP fechou o ano com R$ 660 bilhões em ativos sob custódia e 2,8 milhões de clientes ativos, além de lucro líquido ajustado de R$ 2,27 bilhões, aumento de 111% em relação a 2019. Para o professor e coordenado­r do curso de Economia da FGV, Joelson Sampaio, o lançamento do cartão de crédito pela XP reflete uma tendência que deve ser repetida por outras instituiçõ­es financeira­s.

“Temos poucos bancos comerciais no Brasil e você acaba tendo concentraç­ão bancária. Então ter em alguns produtos mais concorrênc­ia, e o cartão de crédito é um deles, é muito bom para o consumidor, para o usuário final”, comenta Sampaio.

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FELIPE RAU/ESTADÃO - 8/2/2018 Mantra. ‘Vamos continuar sendo contra os bancos pela forma com que eles tratam os clientes’, afirma Benchimol

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