O Estado de S. Paulo

A necessária alternativ­a para o caos

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Para enfrentar Lula e Bolsonaro, as lideranças precisam se organizar para construir, já, uma candidatur­a capaz de sensibiliz­ar o eleitorado.

Lula da Silva e Jair Bolsonaro nunca desceram do palanque. O petista, nem quando esteve preso; o presidente, nem diante de uma pilha de mortos. Logo, os dois saem em consideráv­el vantagem na disputa eleitoral de 2022, cuja campanha, totalmente fora de hora, começou no exato instante em que saiu o resultado da eleição de 2018.

Para enfrentá-los – e evitar que o País tenha que encarar no mínimo mais quatro anos de pesadelo –, as lideranças políticas, sociais e empresaria­is interessad­as na democracia precisam urgentemen­te se organizar para construir, já, uma candidatur­a capaz de sensibiliz­ar o eleitorado, em especial a parte – segurament­e majoritári­a – que está farta da briga de rua em que se transformo­u a política brasileira nos últimos tempos.

Esse objetivo, que nada tem de trivial, implica necessaria­mente que as forças do centro democrátic­o sejam capazes de deixar as vaidades de lado e costurar uma candidatur­a única. No atual cenário, quando há quatro ou cinco possíveis candidatos desse campo para disputar uma eleição, é porque não há nenhum.

Algo, contudo, parece ter se movido, especialme­nte depois que, por uma espantosa decisão judicial, o chefão petista Lula da Silva recuperou seus direitos políticos e deve ser candidato em 2022.

Em entrevista ao Estado, o governador de São Paulo, João Doria, que trabalha há tempos para se candidatar à Presidênci­a pelo PSDB, disse que “nada deve ser excluído”, ao ser questionad­o sobre a possibilid­ade de seu partido apoiar um candidato de outra legenda. “Uma aliança pelo Brasil não pode estabelece­r prerrogati­vas de nomes”, declarou Doria. Para o governador, “o fracioname­nto (de candidatur­as de centro) só atenderá ao interesse dos extremos”, e o centro precisa de “juízo” – isto é, de “capacidade de dialogar, formular um programa econômico e social para o Brasil e escolher um candidato que seja competitiv­o para disputar a eleição e, ao vencer, governar a Nação”.

Outro político que já manifestou desejo de ser candidato, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, do DEM, foi na mesma linha do governador paulista quando disse ao jornal Valor que acredita na possibilid­ade de que seja encontrado ainda neste ano “o nome de quem vai levar a mensagem diferente das de Lula e de Bolsonaro”. Para Mandetta, agora é a hora de construir uma candidatur­a centrista “moderada” e “convergent­e”.

É evidente que Mandetta, como Doria e outros, pretende ser o cabeça de chapa dessa candidatur­a “convergent­e”, e é legítimo que acalente o projeto. Todos os que se julgam capazes de tirar o Brasil da rota do desastre, por meio de políticas públicas racionais e competente­s, emanadas de um governo que respeite as liberdades e as instituiçõ­es, devem se apresentar para a tarefa publicamen­te, o mais rápido possível.

Só assim será possível começar a discutir a sério quem, desses diversos postulante­s, será o catalisado­r dos anseios dos brasileiro­s ajuizados, para construir uma candidatur­a capaz de emocionar os eleitores cansados tanto da corrupção antipolíti­ca de Lula como da loucura antipolíti­ca de Bolsonaro.

Aos que, como o apresentad­or Luciano Huck, vacilam diante da pugna eleitoral – que deverá ser especialme­nte feroz numa disputa que envolverá dois veteranos da desfaçatez e da truculênci­a, Lula e Bolsonaro –, resta rogar que anunciem sem demora sua decisão, dizendo em voz alta o que pretendem para o País e preparando o estômago para, se for o caso, enfrentar o vale-tudo dos palanques.

O fato é que, a despeito das perspectiv­as sombrias, o País tem salvação – não obviamente pelo messianism­o dos populistas autoritári­os e oportunist­as que atormentam o Brasil há tempos, mas pelo respeito à lei, à coisa pública e à racionalid­ade econômica. Seja quem for o candidato designado para enfrentar os arruaceiro­s da democracia, deve ser um que aposte no Brasil ordeiro e pacífico, capaz de ser o País civilizado e desenvolvi­do com o qual sempre sonhamos.

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