O Estado de S. Paulo

Emendas ‘sem carimbo’ triplicam e chegam a R$ 2 bilhões

Tipo de repasse não passa por órgãos técnicos dos ministério­s nem por fiscalizaç­ão do TCU; em 2020 foram R$ 621 milhões

- Daniel Weterman

Deputados e senadores indicaram quase R$ 2 bilhões em emendas parlamenta­res para repasse direto a Estados e municípios neste ano, sem intermedia­ção dos ministério­s nem pente-fino do Tribunal de Contas da União (TCU). O volume das chamadas emendas sem carimbo é três vezes maior do que o indicado em 2020, quando foram pagas pela primeira vez.

Com a transferên­cia direta, prefeitos e governador­es podem usar o recurso em qualquer área, sem prestar contas no momento do repasse, diferentem­ente do que ocorre com outros tipos de emendas, carimbadas para projetos específico­s. A fiscalizaç­ão das transferên­cias especiais caberá aos tribunais locais.

Emendas parlamenta­res são recursos indicados todos os anos por deputados e senadores no orçamento da União e é usado por eles como ferramenta para aumentar o cacife político em seus redutos eleitorais. O pagamento é obrigatóri­o, mas o momento da liberação é negociado com o Executivo, e serve como moeda de troca por votos em projetos de interesse do governo no Congresso.

Em 2020, essas emendas totalizara­m R$ 621,2 milhões e, neste ano, ficarão em R$ 1,979 bilhão, conforme proposto pelos parlamenta­res no projeto de Lei Orçamentár­ia (LOA). A proposta deve ser votada no Congresso até o próximo dia 24.

O argumento dos congressis­tas para escolher esse tipo de emenda é a rapidez para a chegada da verba em obras e projetos de interesse nos redutos eleitorais. Como não passam por ministério­s nem precisam de atestado técnico de órgãos como a Caixa Econômica Federal, o risco de o recurso ficar “pendurado” e atrasar é menor, afirmam.

Das emendas empenhadas nos últimos seis anos, por exemplo, R$ 28,6 bilhões ainda não foram pagos. No caso das transferên­cias especiais, tudo foi pago no mesmo ano, o que ampliou a adesão do Congresso a esse tipo de indicação.

“Antes, se a obra dependia da Caixa, eram seis anos até receber o recurso. Tinha prefeito que não via a obra acontecer. Hoje, a gente manda e ele faz em sete meses”, afirmou o deputado Eduardo Bismarck (PDTCE), que indicou R$ 7,5 milhões para o Ceará nessa modalidade. “A fiscalizaç­ão na ponta é tão eficiente quanto na esfera federal. Talvez até melhor, porque os órgãos estão próximos de quem está executando a obra.”

Ampliação. As transferên­cias especiais são autorizada­s para emendas individuai­s, aquelas indicadas por cada deputado e senador no Orçamento. Uma mudança na Constituiç­ão, em dezembro de 2019, permitiu esse recurso no Orçamento para os anos seguintes. Agora, o Congresso avalia ampliar o modelo sem carimbo para aquelas indicadas coletivame­nte por parlamenta­res de um mesmo Estado. Não há consenso, porém, sobre essa ampliação porque parlamenta­res de oposição aos governador­es de seus Estados resistem a repassar recurso livre às administra­ções estaduais.

O primeiro ano das emendas sem carimbo, em 2020, serviu como um teste, na avaliação dos parlamenta­res. Vendo os recursos chegarem com mais rapidez em relação às outras indicações, a adesão aumentou. “Realmente, só conseguire­i verificar o exato uso na prestação de contas, mas espero que o dinheiro público chegue o quanto antes a quem precisa”, disse o senador Plínio Valério (PSDB-AM), autor de R$ 1,980 milhão em emendas sem carimbo.

• Contas “Só conseguire­i verificar o exato uso na prestação de contas, mas espero que o dinheiro chegue o quanto antes a quem precisa.” Plínio Valério (PSDB-AM) SENADOR

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 27/1/2021 Plenário. Congresso aprovou uso de emendas especiais em 2020, e já discute ampliação

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