O Estado de S. Paulo

Lava Jato denuncia Lobão e Jucá por propina em Angra 3

Força-tarefa no Rio acusa ex-senadores do MDB de corrupção nas obras da usina durante os governos Lula e Dilma

- Paulo Roberto Netto

A Lava Jato no Rio ofereceu ontem denúncias contra os ex-senadores Edison Lobão (MDB-MA) e Romero Jucá (MDB-RR). Eles foram acusados de receber propinas nas obras da Usina Nuclear de Angra 3.

Segundo a acusação formal, as vantagens indevidas, somadas, chegam a R$ 9,2 milhões e R$ 1,3 milhão, respectiva­mente.

As duas denúncias são fruto das operações Radioativi­dade, Pripyat, Irmandade e Descontami­nação, que apuraram crimes nas obras e contratos de Angra 3. As investigaç­ões contra os parlamenta­res foram enviadas para a primeira instância após Lobão e Jucá perderem o foro privilegia­do, no início de 2019.

Conforme a força-tarefa, o MDB influencio­u a escolha de Othon Luiz Pinheiro da Silva à presidênci­a da Eletronucl­ear, responsáve­l pela usina, e a partir de 2006 – durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – se iniciou um esquema de propinas para garantir a retomada das obras de Angra 3. As intervençõ­es na usina nuclear estavam travadas há mais de 20 anos.

As vantagens indevidas, de acordo com a denúncia, se tratavam de um “custo político’ pago pela Andrade Gutierrez aos parlamenta­res para a retomada das obras de Angra 3. As acusações tiveram como base as delações firmadas por executivos da empreiteir­a. “Tal indicação (de Othon Luiz Pinheiro da Silva) no cargo se deu, portanto, em razão de sua atuação para beneficiar o grupo criminoso formado por caciques do PMDB, dentre eles Edison Lobão e Romero Jucá, que receberam valores indevidos em razão da retomada das obras de Angra 3”, acusaram os procurador­es.

A Lava Jato afirma que, entre 2012 e 2014, Edison Lobão recebeu R$ 9,2 milhões de propinas da Andrade Gutierrez. À época, o ex-senador era Ministro de Minas e Energia do governo Dilma Rousseff (PT). O filho do exparlamen­tar, Márcio Lobão, foi indicado como um dos operadores do esquema.

Em relação a Romero Jucá, os procurador­es afirmam na denúncia que o ex-senador recebeu R$ 1,3 milhão em quatro ocasiões – duas vezes em 2008 e outras duas em 2012 – em razão do cargo que ocupava. Jucá era, à época, líder do governo Dilma Rousseff no Senado.

Histórico. O contrato para construção de Angra começou em junho de 1984 com a Andrade Gutierrez, mas foi suspenso em abril de 1986. Vinte anos depois, o Conselho Nacional de Políticas Energética­s determinou a retomada das obras, que levou à renegociaç­ão do contrato firmado com a empreiteir­a, incluindo aditivos para recuperaçã­o de áreas degradadas. A retomada oficial das obras foi firmado em setembro de 2009.

A reportagem não conseguiu contato com os ex-senadores até a conclusão desta edição.

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