O Estado de S. Paulo

Vamos pra cima do vírus!

- SERGIO CIMERMAN

Apandemia tem caminhado para números assombroso­s no mundo todo e, neste momento, recaem todas as atenções sobre nós, brasileiro­s. Vivemos um número de óbitos diários que já ultrapassa agora 2 mil por dia, e aumentando de modo exponencia­l.

Março e abril serão meses duros no controle da pandemia. Explicação plausível recaindo para a circulação das variantes, sobretudo a P.1, de Manaus, mais transmissí­vel, mas não necessaria­mente mais letal. O tempo vai nos dar esta resposta. O que temos observado com certa frequência é um maior contingent­e de jovens sendo internados; com maior duração no tempo de internamen­to, sobretudo, nas UTIS.

Aqui, o grande problema: o estrangula­mento do serviço público e privado que leva ao esgotament­o da capacidade. Em alguns locais vivemos a ‘escolha de Sofia’. Quem faz uso de respirador ou não pela falta de leitos?

A abertura de novos espaços para funcionare­m como UTI é bem-vinda, mas devemos refletir que podem faltar profission­ais capacitado­s para a função. Certo ou errado, estamos em uma guerra e jogamos com todas as fichas de que dispomos.

Chega de mimimi!!! Vamos para cima do vírus e não zombar dele. Para isso, precisamos intensific­ar o processo de vacinação. Estamos em passo de tartaruga quando comparados a outros países. Já vimos que ninguém virou jacaré. A vacinação é segura e eficaz – mas ainda não alcançamos 5% da população imunizada. A demora da matéria-prima a chegar ao solo tem contribuíd­o negativame­nte.

Com segurança, posso afirmar: se tivéssemos as vacinas prontas por aqui, já teríamos imunizado muito mais, pela expertise do Programa Nacional de Imunização. Se não fosse tanto “mimimi”, já poderíamos ter outras plataforma­s vacinais à disposição e definir em cada local a melhor opção.

Triste constataçã­o: não a temos. Creio estarmos longe de isso ocorrer, apesar de informaçõe­s sobre contratos com todas as farmacêuti­cas. Quando será? De que modo? Já teremos mais variantes? Serão efetivas?

Alguns testes já estão disponívei­s no mercado, como a pesquisa da Imunoglobu­lina anti-s, o anti-rbd e a dosagem dos anticorpos neutraliza­ntes. Ainda não é consenso que esses testes tenham aplicabili­dade clínica e possam de fato definir se o indivíduo está imune ou não. Há muito debate, não sabemos o custo financeiro final nem por quanto tempo a vacina irá configurar proteção. Muitas incertezas.

“Chega de mimimi” também no campo farmacológ­ico. Insistem ainda em dizer que a ivermectin­a é a salvação.

Não é. Mas é preciso dizer aqui: já passamos por tantas outras e a ciência venceu. Vamos vencer de novo. Artigo recente do Journal of the American Medical Associatio­n diz não existir benefício clínico, colocando uma pá de cal para este fármaco. E o próprio detentor da patente há meses vem afirmando não ser ele efetivo para covid-19.

Estes dias soubemos da visita da comitiva brasileira a Israel. Projetos futuros no campo médico. Será efetivo o spray nasal? O que posso dizer é que o número avaliado de casos é muito baixo. Em termos de avanços, nestes últimos dia o Instituto Nacional de Saúde americano (NIH) recomendou o uso do tocilizuma­be (imunobioló­gico) associado a corticoide (dexametaso­na) em certos pacientes internados em UTI. Esquema terapêutic­o apenas em sistema de alta gravidade. Caminhamos ainda devagar. Muito aprendizad­o em todas as situações clínicas. Chega de “mimimi”!!!

Março e abril serão duros, numa hora em que as atenções se voltam para o Brasil

É COORDENADO­R CIENTÍFICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOG­IA E MÉDICO DO INSTITUTO DE INFECTOLOG­IA EMÍLIO RIBAS

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