O Estado de S. Paulo

‘Não há mais espaço para política, negacionis­mo; é hora de trancar’

Para procurador-geral ‘só um isolamento social dos mais rígidos’ será suficiente para conter o avanço da pandemia

- Mário Sarrubbo, procurador-geral de Justiça de São Paulo, Pepita Ortega Fausto Macedo

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubbo, considera que “não há mais espaço para política e negacionis­mo”, alertando que “só um isolamento social dos mais rígidos” será suficiente em meio ao recrudesci­mento da pandemia. “É hora de trancar e finalmente a população entender que ou nós resolvemos essa questão do vírus de uma vez por todas ou vamos ficar reféns disso por mais 3, 4 anos. Se ficarmos abertos, se a população insistir em não obedecer às regras, se houver flexibiliz­ações aqui acolá, não vamos vencer essa pandemia nunca”, afirmou o chefe do Ministério Público paulista em entrevista ao Estadão.

• Como se deu a discussão sobre suspender os cultos e jogos de futebol nesta segunda? Não deveria ter sido feito antes?

No nosso comitê de crise temos um sistema de monitorame­nto da ocupação de leitos e vagas de UTI do Estado e chegamos à conclusão de que vivemos o momento mais difícil da pandemia. Fizemos reuniões com membros do comitê gestor do governo e eles anunciaram que estávamos caminhando para a fase vermelha no Estado – era o que iríamos pedir. Mas no fim da semana, com esses índices subindo, começamos a trabalhar vendo onde conseguíam­os estancar. Aí veio a decisão do governo no sentido de considerar a atividade religiosa como essencial. Nós sabemos das dificuldad­es, pois é um decreto federal, mas o governo do Estado pode impor restrições maiores que a União, assim como o município pode impor maiores que as do Estado. Nosso grupo achou que a medida era urgente. Sobre o futebol chegamos à mesma conclusão.

• Foi uma surpresa a decisão do governo de considerar atividades religiosas essenciais?

Não. A gente já tem visto esses movimentos em todo o Brasil e notadament­e no governo federal. Não desconhece­mos a importânci­a da religião e da assistênci­a que igrejas e templos têm dado à população. Mas a questão é o momento excepciona­l que vivemos, jamais visto na pandemia. É hora de trancar e de a população entender que ou resolvemos essa questão do vírus ou vamos ficar reféns disso por mais 3, 4 anos. E é hora de nos conscienti­zarmos de que não há mais espaço para política, negacionis­mo. Há um critério que o mundo todo reconhece, que é vacinação, uso de máscaras e isolamento social.

• Se o governo não acolher a recomendaç­ão, o que fará o MP? Nossa expectativ­a é a de que a recomendaç­ão seja acolhida. Caso não haja acolhiment­o, poderemos acionar o Judiciário para ver satisfeita a pretensão, que é de um coletivo de colegas, médicos e portanto é um pedido da sociedade que quer se ver livre da pandemia. A pandemia não dura 6, 7 meses, ela pode durar 2, 3 anos e aí sim teremos a destruição total do nosso sistema econômico. Então é melhor que neste momento agente imponha uma restrição mais rígida.

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ALERIA GONCALVEZ/ESTADÃO–13/6/2018 Sarrubbo. ‘Vamos ficar reféns disso por mais 3, 4 anos?’

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