Governo de SP ganha tempo para analisar se para ou não o Paulistão
Após se reunir com representantes do Ministério Público, Federação Paulista e clubes, governador João Doria opta pela manutenção dos jogos, mas posição poderá mudar de acordo com a evolução do quadro da pandemia; risco de paralisação ainda existe
Os jogos do Campeonato Paulista da Série A1 e dos demais torneios de futebol não vão ser interrompidos em São Paulo por causa da alta dos casos de covid-19, pelo menos por enquanto. Em entrevista coletiva ontem no Palácio dos Bandeirantes, o governo do Estado afirmou que vai continuar a monitorar a situação e, de acordo com os resultados, pode adotar medidas mais restritivas, como a suspensão do calendário.
Nos últimos dias, o Ministério Público de São Paulo recomendou a suspensão de partidas para ajudar na redução do número de casos. Mas, pelo menos no momento, a continuidade do Estadual não será afetada.
“Não tomamos medidas em função de um setor ou outro. Temos de reduzir o contato entre as pessoas. Isso a gente faz ficando em casa. Tivemos um resultado positivo nesses primeiros dias de fase vermelha”, disse o coordenador do centro de contingência da covid-19, Paulo Menezes.
O governo garante que, apesar da situação de momento ser pela continuidade do calendário do futebol, isso não significa que o quadro não possa mudar. “Se for necessário (alguma intervenção), o governador vai anunciar isso assim que for conveniente”, disse Menezes, que enfatizou respeitar a posição do MP. “Essas recomendações do MP acompanham justamente a discussão de medidas que podem ser necessárias para além do que já temos hoje para a fase vermelha”, explicou.
Uma atualização sobre o tema pode ser anunciada ainda hoje. No início da tarde, o governo do Estado vai novamente apresentar informações e planos para conter a pandemia. A possível paralisação das atividades esportivas continuará na pauta das autoridades.
Pela manhã, o governador de São Paulo, João Doria, fez uma reunião virtual com representantes do MP, da Federação Paulista de Futebol (FPF) e clubes. Em nota divulgada após o encontro, a FPF contou que, na conversa, defendeu a manutenção das competições e se colocou à disposição do poder público para prestar novos esclarecimentos sobre o assunto.
A recomendação do MP para suspender o futebol e o fato de outros Estados terem tomado essa decisão fizeram o governo paulista desejar fazer o mesmo. No entanto, a posição da federação e dos clubes pesou.
No ano passado o Campeonato Paulista ficou quatro meses paralisado. A disputa foi retomada com duas rodadas para o fim da primeira fase, já com um novo protocolo de rigor nos testes, elencos confinados e partidas com os portões fechados.
O modelo foi considerado um sucesso por clubes e FPF. O resultado positivo serviu até agora como argumento para a possível suspensão não ser aplicada. Mesmo com os portões fechados, a competição representa importante ganho para os clubes pela exposição dos patrocinadores e as cotas de televisão.
No ano passado, a FPF distribuiu R$ 187 milhões às equipes por direitos de transmissão. No entanto, quando houve a paralisação dos jogos, o pagamento foi suspenso e prejudicou as finanças de alguns clubes.
Nos bastidores, os principais clubes têm tentado convencer o governo a não paralisar o futebol. O diálogo entre as duas partes tem sido amigável, principalmente pela atitude recente de clubes ao transformarem estádios em pontos de vacinação. O principal argumento dos dirigentes é que, pela rotina de testes nos jogadores e comissões técnicas, o risco de contágio durante uma partida é baixo.
Mas caso exista uma determinação do governo de paralisar o calendário, a ordem será acatada. “O Palmeiras mantém o posicionamento de desde o início da pandemia, que é preservar vidas e cuidar das pessoas. Vamos respeitar as orientações das autoridades de saúde. Entendemos que essa é uma decisão técnica, e não política”, disse ao Estadão o presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte.
Paulo Menezes
CENTRO DE CONTINGÊNCIA DE SP ‘Se for necessário (fazer alguma intervenção), o governador vai anunciar isso assim que for conveniente’