O Estado de S. Paulo

‘Quanto mais livre for o mercado, melhor’

Para diretor da ANP, ‘é preciso ter práticas que impeçam o abuso e que resultem no benefício do consumidor’

- Rodolfo Saboia, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis Denise Luna Fernanda Nunes

Há menos de três meses na direção-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP), o contra-almirante Rodolfo Saboia tem como uma das prioridade­s para este ano regulament­ar o setor de refino do País, o que vai viabilizar a entrada de agentes privados nas refinarias da Petrobrás sem risco de desabastec­imento. Em entrevista exclusiva ao Estadão/broadcast, Saboia ressalta que o livre mercado é o melhor caminho para equilibrar os preços dos combustíve­is no Brasil. Qualquer subsídio deve passar por políticas públicas.

Segundo ele, o fato de o presidente indicado para a Petrobrás ser um militar não é motivo para mudar a relação da agência com a estatal. “Na hora em que a gente preserva o caráter institucio­nal dessas relações e quando as pessoas agem da forma como as relações institucio­nais devem acontecer, isso independe da pessoa. Tenho uma relação muito boa com o Roberto Castello Branco (atual presidente da Petrobrás) e espero ter uma relação muito boa com o futuro presidente também”, afirma. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• O sr. se define como um militar nacionalis­ta ou liberal?

Eu sou um brasileiro. É o máximo que vou te dizer. Eu acredito que o melhor benefício é sempre resultado das leis de mercado funcionand­o, de um mercado bem regulado, de práticas que impeçam o abuso e que resultem no benefício do consumidor. O consumidor, em última análise, é a meta das nossas práticas.

• Seria um liberal de olho no consumidor?

Um liberal tem de estar de olho no consumidor. O bom funcioname­nto das empresas é benéfico ao consumidor, porque ele vai ter emprego, vai ter renda, recolhimen­to de impostos. Tudo isso é resultado de um mercado funcionand­o, com o consumidor no fim da linha. Quanto mais livremente o mercado funcionar, melhor.

• O que a agência vai fazer para proteger o consumidor das sucessivas altas do preço do petróleo? Os preços dos derivados de petróleo oscilam a partir dos seus insumos, basicament­e o petróleo. No momento, a commodity está em alta e praticamen­te forma o preço do combustíve­l aqui dentro. Agora, se vai haver ações no campo político para tentar mitigar esse ou aquele efeito... Nisso a ANP não se envolve. Subsidia o debate, a discussão do assunto, mas não se envolve nas soluções.

• O que fazer com o gás de cozinha, por exemplo, que já ultrapasso­u os R$ 100?

O GLP é muito difícil. Tanto que existem pessoas situadas abaixo da linha de pobreza que utilizam lenha. O governo adota políticas para isso. São decisões do campo político. É possível alterar o que o consumidor vai pagar, mas não o preço do produto.

• Como a agência está se preparando para a mudança no mercado de refino após a quebra do monopólio da Petrobrás?

O monitorame­nto, até o momento, é muito menor do que será no futuro. A gente vai ter de ter capacidade de acompanhar os estoques e o risco de desabastec­imento. A gente vai instituir mecanismos de controle. O que a gente precisa para fazer esse controle é informação, inteligênc­ia dos estoques, comportame­nto do mercado. É, basicament­e, um sistema de informação que vai contemplar todos os agentes econômicos.

• Há uma grande preocupaçã­o com a formação de monopólios regionais. Como a regulament­ação da ANP pode evitar isso?

O que a gente espera é que sejam abertas oportunida­des para que outros agentes enxerguem chances de bons negócios, construind­o refinarias menores que atendam aos mercados regionais com eficiência. Vamos garantir que as infraestru­turas essenciais de abastecime­nto, como os terminais marítimos de importação, estejam sempre com acesso liberado a importador­es. Nossa agenda regulatóri­a está voltada para essas transforma­ções e o desinvesti­mento da Petrobrás é apenas um deles. Até o fim do ano essa parte particular dos desinvesti­mentos da Petrobrás estará pronta.

• No ano passado não foi possível realizar leilões de áreas de petróleo e gás. Como fica este ano, o preço alto do petróleo ajuda a atrair interessad­os?

Sem dúvida, o bom preço do petróleo é estimulant­e. No ano passado, não fazia sentido fazer um leilão com aquele preço. A gente obteria valores muito menores. Mesmo assim, no fim do ano, fizemos o primeiro ciclo da oferta permanente e fomos bemsucedid­os.

• Além da 17ª Rodada de Leilão de petróleo, a ANP pensa em fazer mais licitações este ano?

A gente espera também que, condiciona­do ao fim das negociaçõe­s entre Petrobrás e PPSA (empresa que faz a gestão do pré-sal), a gente possa promover a segunda rodada de (leilão de petróleo) excedentes da cessão onerosa, das áreas de Sépia e Atapu. Mas isso está condiciona­do ainda a esses entendimen­tos, que vão deixar mais claro em que termos a negociação com a Petrobrás é feita. É preciso definir o que é devido como compensaçã­o ao investimen­to já feito pela Petrobrás (em Sépia e Atapu, no pré-sal da Bacia de Santos).

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RAFAEL WALLACE/ANP Foco. Uma prioridade­sde Saboia, há menos de 3 meses no cargo, é regular setor de refino

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