O Estado de S. Paulo

Um game no combate à violência contra a mulher

Em projeto de inovação aberta, Sodexo e startup se unem para criar jogo gratuito baseado na Lei Maria da Penha

- Letícia Ginak

Para tratar o tema da violência contra a mulher na sociedade civil e também no ambiente corporativ­o, a multinacio­nal francesa Sodexo e a startup de gamificaçã­o com soluções para desenvolvi­mento de indivíduos e carreira Arbache Innovation­s se uniram em um projeto de inovação aberta. Voltado para a responsabi­lidade social, as empresas criaram um game baseado na Lei Maria da Penha, que retrata os cinco tipos de violência doméstica – moral, psicológic­a, patrimonia­l, sexual e física. Os temas são explicados e expostos ao jogador por meio de situações reais e da resolução de problemas de uma personagem central, que vive um relacionam­ento abusivo.

Este é mais um caso em que uma grande empresa se une a uma pequena para gerar inovação e resolver problemas de forma ágil. Entre Arbache Innovation­s e Sodexo, o foco ainda vai além de uma solução interna, já que a ideia é fazer com que o game ganhe escala e ajude a resolver e explicar um problema social.

Por mais que o game esteja aberto para que qualquer pessoa o jogue de forma gratuita, Ana Paula Arbache, pós-doutorada em educação e sócia da startup, ressalta que a violência contra mulher afeta profundame­nte no desenvolvi­mento dela como profission­al, acarretand­o não apenas traumas ou risco de morte, mas também perdas financeira­s para ela e para as empresas que a contratam.

“A priori, esse era um tema da sociedade civil. Mas a partir do momento que essas mulheres sofrem violência dentro de casa e isso interfere na rotina do trabalho, ele passou a ser um problema da organizaçã­o também. É uma discussão de direitos humanos dentro do ambiente organizaci­onal”, diz Ana Paula. A especialis­ta ainda conta que com a necessidad­e de se pensar em políticas mais efetivas sobre diversidad­e e inclusão, grandes empresas querem embarcar o game internamen­te como uma das ações para fortalecer a área. Três grandes empresas utilizam o jogo atualmente, conta Ana Paula.

Jogado em cinco rodadas, em que cada uma trata de um tipo de violência, o game funciona como um simulador de realidade, que é o core business da startup.

Inovação aberta. Lançado em setembro de 2020, o jogo surgiu de uma conversa com a ONU Mulheres, outra parceira do projeto. “Juntei um time multidisci­plinar para desenvolve­r o game, que conta com uma juíza, uma advogada, uma psicóloga, entre outras profission­ais voluntária­s”, diz. Ana Paula afirma que a startup custeou o desenvolvi­mento de toda a ferramenta, com cerca de R$ 35 mil.

Entre as voluntária­s do projeto estava Lilian Rauld, head de diversidad­e e inclusão da Sodexo On-site Brasil. Foi assim que a multinacio­nal entrou e passou a atuar profundame­nte para apoiar o projeto. Todas as situações vividas pela personagem central do game são situações reais também vividas pelas colaborado­ras da empresa.

A Sodexo também implantou o game para mapear entre os colaborado­res o nível de entendimen­to sobre os tipos de violência que uma mulher pode sofrer e, assim, trabalhar internamen­te o tema com mais assertivid­ade. “Temos mais de 42 mil colaborado­res no Brasil, dos quais 65% são mulheres. Isso implica uma preocupaçã­o constante da empresa pelo tema”, diz Lilian. “Muitas mulheres que sofrem violência faltam ao trabalho porque têm vergonha de ir trabalhar desse jeito ou mesmo sentem medo de serem mandadas embora.”

“A priori, esse é um tema da sociedade civil. Mas quando isso interfere na rotina do trabalho, ele passa a ser um problema da organizaçã­o também.” Ana Paula Arbache SÓCIA DA ARBACHE INNOVATION­S

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ARBACHE INNOVATION Game. Cada rodada do jogo trata de um tipo de violência
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