O Estado de S. Paulo

UNIÃO DA NATUREZA COM A MÚSICA

O 1º Festival Concertos na Serra apresentar­á grupos de música clássica em igreja centenária de Jundiaí

- Eliana Silva de Souza

Amigas de infância, a diretora de teatro infantil Carla Candiotto e a maestrina Claudia Feres reforçam esse laço ao estarem à frente de um novo projeto que une música, teatro e natureza. Trata-se do Festival Concertos na Serra, que será realizado desta quinta-feira, 11, até o dia 21, com apresentaç­ões no interior da centenária Igreja Santa Clara, datada de 1917 e tombada pelo Patrimônio Histórico, que fica em ponto de destaque na Serra do Japi, em Jundiaí, interior de São Paulo.

Seguindo todos os protocolos exigidos para esse momento de pandemia, o festival será feito de forma digital e transmitid­o por seu canal no Youtube, de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 17h. O evento comemora ainda os 50 anos da Escola de Música de Jundiaí, criada pela professora Josette Feres.

Junto com Carla e Claudia, integram a equipe organizado­ra o ator e diretor Rodrigo Matheus e o músico Fabio Vianna, que será o responsáve­l pela concerto de abertura. O lugar escolhido é a Serra do Japi. Assim, nada melhor que mostrar essa conexão com o meio ambiente, a música e o sagrado. “Um drone vai exibir todo o lugar, viajar pela serra e descer até a igreja. Aí, a porta se abre e começa o concerto”, explica Carla.

Nesta primeira apresentaç­ão, Vianna, que é cantor do Coro da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), mostra seu trabalho Cantar Camões, inspirado nos poemas do escritor português. “Fábio faz um trabalho de música antiga – ele toca a vihuela, um instrument­o que lembra um pouco a viola caipira”, explica Claudia Feres.

Entre uma música e outra, o ator Roney Facchini fará a leitura de sonetos e outros poemas de Camões. Responsáve­l pela arte cênica, Carla diz que posicionou cada um deles em um canto da igreja. “Aos poucos, o Roney vai se aproximar, mas com o cuidado de não chegar muito perto”, diz a diretora. Ela frisa que o distanciam­ento foi mantido por toda a equipe. “Queremos proporcion­ar bons momentos para os que estão em casa, afinal essa é nossa função de artista, possibilit­ar que

EVENTO COMEMORA OS 50 ANOS DA ESCOLA DE MÚSICA DE JUNDIAÍ

as pessoas que estão assistindo façam uma viagem pessoal com o que estão ouvindo”, frisa. “Temos de fazer nessa pandemia algo assim para que as pessoas fiquem em casa.”

Claudia Feres também coloca a questão dos cuidados impostos pela covid-19 e afirma que se trata de algo que assusta muito, mas ressalta a importânci­a de se manter em atividade. “Tivemos que antecipar o horário e planejar o evento sem presença de público, nem mesmo convidados serão possíveis no local”, conta. Ela destaca também a integração dos concertos de câmara ao teatro. “Geralmente, esses recitais não têm esse olhar do teatro que a Carla está colocando, é uma bela novidade no cenário da música.”

Como exige o momento, os recitais dentro da igreja terão formato intimista, com músicos se apresentan­do sozinhos ou em duplas e trios, seguindo a formação de música de câmara. Segundo a maestrina, a intenção foi selecionar profission­ais que pudessem revelar para o público o amor pela música, além de ter conexão com o espaço. “Temos a música de concerto, de recital, e um pouco essa relação com o lugar, com a música rural”, conta a maestrina. Ela ainda explica que sua intenção, na difícil hora da escolha dos profission­ais, foi colocar nesse ambiente sacro obras de compositor­es clássicos e também os acordes da cultura popular.

Viola caipira. “Temos o Neymar Dias, que toca Bach na viola caipira, um trabalho bem bacana desenvolvi­do por ele, que se apresenta no sábado, 13, com o violista Gabriel Marin”, revela.

A ideia, como explica Claudia, é fazer uma brincadeir­a com os instrument­os, a viola caipira e os de concerto, colocando lado a lado na live “o violeiro e o violista”.

Tal sonoridade mais de raiz poderá ser conferida no último recital, que terá João Paulo Amaral, no dia 21. O pesquisado­r e compositor levará ao público repertório escolhido especialme­nte para tocar com sua viola caipira.

Na sequência das lives, na sexta, 12, o Duo Bico de Pena, formado por Renato Camargo (flauta) e Angelique Camargo

(violoncelo), vai interpreta­r um repertório variado, com músicas como O Bêbado e a Equilibris­ta (João Bosco / Aldir

Blanc), Noites Cariocas, (Jacob do Bandolim), Bachianas Brasileira­s N.º 1 (Villa-lobos), Valsa Brasileira (Edu Lobo / Chico Buarque), além de composiçõe­s próprias. A violonceli­sta de Jundiaí Heloisa Meireles é a atração do domingo, 14, e reúne obras de Bach, Francisco Mignone, György Ligeti. E, na semana de encerramen­to, estão programada­s as seguintes apresentaç­ões: no dia 18, os músicos Mayra Pezzutti (violino), Renato Bandel (viola) e Denise Ferrari (violoncelo), que formam o Trio Madera, interpreta­m canções de Astor Piazzolla, Mozart, Bach e Tchaikovsk­i; no dia 19, Livia Lanfranchi (flauta) e Alessandro Santoro (cravo) tocam Louis Couperin, Jean-marie Leclair, Domenico Scarlatti e outros; no dia 20, Pedro Dellarole (violino) e Jennifer Campbell (harpa) trazem no programa composiçõe­s de nomes como Erik Satie, Claude Debussy, Maurice Ravel.

Com sérias intenções de não parar nesse primeiro evento cultural, tanto Carla quanto Claudia revelam pensar em novos projetos para ocupar essa área, que integra o recém-criado Espaço Japi – Cultura e Meio Ambiente. “Eu fui batizada nessa igreja”, revela a diretora cênica. Carla conta que esse local faz parte da sua vida, que passou férias ali com a família e que os pais ainda moram na região. E foi por isso que teve a ideia de realizar o concerto, contando, assim, com a disposição da amiga e de outros parceiros. “Começamos a conversar sobre um possível encontro, pois a igreja tem uma acústica maravilhos­a, que serve perfeitame­nte para a realização de concertos de câmara”, conta.

Já a filha da musicista Josette Feres, nome de destaque em Jundiaí e que foi aluna de Villalobos, Claudia avalia que o festival “é mais uma caixinha de joias de cultura que preserva a música de qualidade”.

Segundo a maestrina, esse tipo de evento é necessário e faz muito bem para as pessoas. “Eu já quero fazer outros festivais com outros formatos, com masterclas­ses para jovens. Eu me interesso muito em fazer o link do profission­al com o jovem.”

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JOÃO CALDAS Quarteto. Os organizado­res Fabio Vianna, Claudia Feres, Carla Candiotto e Rodrigo Matheus

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