O Estado de S. Paulo

Seguro será usado para pagar a quem tiver seu salário reduzido

- Lorenna Rodrigues Daniel Weterman / BRASÍLIA L. R. e D. W.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo retomará o programa que permitiu às empresas cortar salários e jornada ou suspender contratos. Ele afirmou que parte da complement­ação paga pelo governo aos trabalhado­res será uma antecipaçã­o do seguro-desemprego.

• Novas medidas

“O presidente (Jair Bolsonaro) deve anunciar novas medidas para frente.”

“A economia voltou em ‘V’ e está começando a decolar de novo."

Paulo Guedes MINISTRO DA ECONOMIA

Ministro garante que ‘economia está de novo decolando’

Ministro afirmou que o governo finaliza detalhes para retomar o programa de redução de jornada e salários para aliviar folha de pagamento de empresas; parte da compensaçã­o será feita com a antecipaçã­o do dinheiro a que o trabalhado­r tem direito quando é demitido

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o governo vai retomar o programa que permitiu às empresas cortarem salários e jornada dos funcionári­os ou suspendere­m contratos. Ele sinalizou que parte do benefício de complement­ação de renda paga pelo governo aos trabalhado­res nessas condições virá da antecipaçã­o do seguro-desemprego.

De acordo com o ministro, o Benefício Emergencia­l (BEm), programa que permitiu a suspensão dos contratos e a redução dos salários no ano passado, ajudou a preservar 11 milhões de empregos.

Ontem, Guedes falou da criação de um “seguro-emprego”. Segundo ele, em vez de dar R$ 1 mil para pessoas que ficaram desemprega­das no seguro-desemprego por quatro meses, o governo pode dar R$ 500 para segurar o emprego por até 11 meses. “O presidente (Jair Bolsonaro) deve anunciar novas medidas para frente”, afirmou Guedes, em participaç­ão em audiência na Frente Parlamenta­r da Micro e Pequena empresa.

Segundo o secretário especial de Previdênci­a e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, o novo programa será lançado “nos próximos dias”.

Como mostrou o Estadão,o governo quer permitir um novo período de até quatro meses de redução de jornada e salário ou suspensão de contrato de trabalhado­res para evitar alta no desemprego em meio às medidas restritiva­s contra a covid-19, mas o pagamento do benefício que compensa a perda salarial deve ter um desenho distinto.

A intenção é garantir dois meses do BEm, pago pelo governo, e outros dois meses seriam de antecipaçã­o do seguro-desemprego a que teria direito se demitido.

O novo modelo ainda está sendo fechado pelos técnicos, que também buscam uma fonte de financiame­nto para a parte do BEm que será bancada pelo governo. Há discussões internas no sentido de empregar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT), que hoje já banca o abono salarial e o próprio seguro-desemprego. O principal desafio, porém, é que esse fundo já gasta mais do que arrecada e precisa de aportes do Tesouro Nacional para operar.

Porcentuai­s. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o novo desenho do Programa Emergencia­l de Manutenção de Emprego e Renda deve manter os mesmos porcentuai­s de redução de jornada e salário (25%, 50% e 70%), além da suspensão de contrato. A mudança mais substancia­l deve ser mesmo a forma de pagamento do benefício.

Após os meses do acordo, o trabalhado­r tem por igual período (até quatro meses) uma estabilida­de temporária, em que ele até pode ser demitido, mas recebe uma indenizaçã­o adicional por isso. Em caso de dispensa, ele continua a receber o segurodese­mprego, embora o número final de parcelas fique reduzido pela antecipaçã­o.

Em seu formato original, o seguro-desemprego paga de 3 a 5 prestações, a depender do tempo que o trabalhado­r está na ativa. É daí que serão descontada­s as parcelas antecipada­s por meio do programa emergencia­l. Na prática, segundo uma fonte ouvida pela reportagem, o trabalhado­r que fizer o acordo poderá ainda ter entre uma e três parcelas.

Nas estimativa­s do governo, contabiliz­ados os quatro meses de acordo, os quatro meses de garantia provisória e o período do seguro-desemprego normal, o trabalhado­r poderá ter uma “proteção” de 9 meses a 11 meses.

Segundo apurou a reportagem, mesmo na fase de antecipaçã­o do seguro-desemprego, o trabalhado­r deve receber apenas a fatia correspond­ente ao seu acordo (ou seja, 25% do seguro em caso de redução da jornada nessa proporção, ou 50%, ou 70%, ou 100% na suspensão de contrato). O saldo restante dessas antecipaçõ­es seria pago depois, em caso de demissão do funcionári­o.

Caso a duração do acordo seja menor que quatro meses, a ordem do pagamento é a mesma. Ou seja, caso as reduções valham apenas por dois meses, apenas o benefício a cargo do governo será pago.

O governo ainda pretende estabelece­r regras para prever quando um trabalhado­r que faça o acordo e permaneça com vínculo formal retomará o direito a obter todas as parcelas do seguro-desemprego, a despeito da “antecipaçã­o” durante a pandemia. Esses detalhes ainda estão em finalizaçã­o.

•No momento em que há um agravament­o da pandemia do novo coronavíru­s, com novas medidas de restrição de circulação impostas por prefeitos e governador­es, Guedes disse que “a economia está de novo decolando”. "A economia voltou em ‘V’ e está começando a decolar de novo", disse o ministro. A volta em ‘V’ significa retorno da atividade no mesmo ritmo da queda.

Segundo ele, a arrecadaçã­o do governo com impostos em fevereiro foi recorde para o mês. Os números devem ser anunciados até a semana que vem. No primeiro bimestre, de acordo com Guedes, o cresciment­o foi de 3% a 3,5% na comparação com os dois primeiros meses de 2020, antes da pandemia.

Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, Guedes disse, durante seu pronunciam­ento online, que o chefe está dando todo o apoio a seu programa de governo. Guedes defendeu o ajuste fiscal – apesar de, em dado momento, ter esquecido o nome da regra de ouro, que prevê que o governo não pode emitir dívida para custear gastos correntes. "Quando uma geração faz guerra, ela paga, não empurra para filhos e netos”, disse.

Guedes disse ainda que os “negacionis­tas” não poderão negar o que chamou de bom desempenho da economia em 2020. “Tivemos, do ponto de vista econômico, muito sucesso no combate à crise. Previam que ia cair acima de 10%, quem caiu 10% foi a Inglaterra. O Brasil caiu 4%.”, afirmou o ministro. De acordo com o IBGE, o PIB caiu 4,4% em 2020, o terceiro pior resultado da história. /

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MARCOS CORRÊA/PR Novo programa. Ao lado de Bolsonaro, Guedes disse que o governo vai criar o ‘seguro-emprego’ para enfrentar pandemia

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