O Estado de S. Paulo

MORRER À ESPERA DE EQUIPAMENT­O

Larissa Marques, enteada de Marcos Drumm, morto aos 38 anos

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Parentes de jovens que morreram de covid-19 relatam o sofrimento daqueles que não conseguira­m vencer a doença.

O Marcos era supervisor de loja, viajava o Estado (de Santa Catarina) inteiro, atendendo clientes. Moramos em Xaxim, no Oeste, e eu o tinha como um pai. Éramos muito amigos, ele era uma pessoa maravilhos­a. Era uma pessoa que gostava das coisas simples da vida, cheia de sonhos. Ele e minha mãe tinham planos de construir uma casa.

No dia 6 de fevereiro, ele precisou ser internado. Foi para Chapecó, mas a situação lá está um caos e ele piorou. Foi transferid­o para Rio do Sul, perto de Blumenau. O médico, então, disse que ele precisava de um pulmão artifi- cial. Você não imagina como corremos atrás desse aparelho. Custa R$ 200 mil, mas nem comprar podíamos, porque não vendem para pessoa física. Descobrimo­s que havia um aparelho disponível em um hospital privado de Blumenau. Procuramos políticos, médicos, o Estado, e sempre diziam que havia uma burocra- cia a ser cumprida.

Conseguimo­s uma decisão judicial que obrigava o governo a fornecer o aparelho em 48 horas. Achamos onde tinha o equipament­o, mas ninguém fez nada. Dá um sentimento de frustração. Tinha equipament­o, era uma questão de as pessoas terem entendido melhor a situação, a burocracia ter sido menos rígida. Foi essa burocracia que matou o Marcos, que ficou esperando, espe- rando. E o equipament­o nunca chegou. Até que ele morreu sem poder respirar.

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