O Estado de S. Paulo

Atrasado, mas correto

- ✽ ANÁLISE: Gonzalo Vecina

O governo estadual deveria ter tomado essas medidas há duas ou três semanas.

Oconjunto de medidas tomadas está próximo do que deveria ser, mas o governador João Doria (PSDB) ainda fez muitas concessões, particular­mente no que diz respeito às igrejas (há veto a celebraçõe­s coletivas, mas é liberado o atendiment­o individual) e escolas privadas. A ideia seria limitar ao máximo a circulação de pessoas para reduzir casos. Talvez apertar o que pudesse ser apertado agora fosse a atitude mais correta para que pudéssemos ter queda nos números, como em Araraquara, no interior.

É inteligent­e a ideia de não reduzir a circulação de ônibus, manter a frota na rua para diminuir a probabilid­ade de haver ônibus cheios e manter o ciclo de contaminaç­ão nestes espaços. Pedir para que as empresas façam parte do esforço para o escaloname­nto do funcioname­nto de indústria, comércio e atividade escolar também é importante. Mas deveria fechar toda atividade escolar para diminuir o trânsito de pessoas – exceto a entrega de alimentaçã­o para crianças da rede pública.

E, com certeza, essas decisões demoraram. Deveriam ter sido implementa­das há duas ou três semanas, um pouco depois de Araraquara, que iniciou este ciclo. A cidade do interior demorou uma semana, mas tomou todas as decisões que deveriam ser tomadas. As novas medidas do governo do Estado já poderiam começar hoje.

Temos de manter nossa capacidade de responder com a rede de saúde. Reforçar equipes hospitalar­es, pois não dá para criar hospitais de campanha de repente. Para desafogar a rede, demora mais que os 14 dias. Estas duas semanas de restrição vão propiciar queda de casos, porém até o fim do 14.º dia enviaremos gente ao hospital. E as pessoas demoram de 15 a 20 dias para se salvar ou, infelizmen­te, morrer.

✽ É MÉDICO SANITARIST­A, EX-SECRETÁRIO DE SAÚDE DA CIDADE DE SÃO PAULO E COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’

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