Reação de aliados fez Bolsonaro recuar no uso de máscaras
Não durou 24 horas a nova postura de Jair Bolsonaro usando máscara em eventos públicos e apoiando a vacinação contra o coronavírus. Depois de adotar o comportamento como uma reação às críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução do governo no combate à pandemia, Bolsonaro constatou que seu movimento foi visto como um gesto de temor da força política do adversário. Ontem, ele participou sem máscara da reunião virtual da frente parlamentar da Micro e Pequena Empresa e criticou duramente as medidas restritivas adotadas pelos governadores de São Paulo, João Doria, e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
O vai e vem de Bolsonaro faz parte da confusão que se formou entre aliados do presidente desde que Lula ficou elegível para a disputa de 2022. Surpreendidos, Bolsonaro e aliados próximos, incluindo integrantes da ala militar, avaliaram que seria importante rebater as críticas de Lula. No dia em que as mortes pela doença chegaram ao recorde de 2.349, o plano era mostrar que o presidente estava engajado no combate à doença, buscando vacinação e usando máscara – algo que quase nunca fez. Mas a estratégia causou efeito inesperado. A esquerda carimbou o movimento como uma mudança de Bolsonaro causada por Lula. Irritados com o carnaval feito pelos petistas nas redes sociais, influentes seguidores do presidente reclamaram que ele parecia estar demonstrando medo do adversário publicamente, ao mudar de postura justamente no dia em que Lula fez sua reentrada no cenário político. Essa pressão foi tão forte que explica a reação destemperada do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em transmissão ao vivo para seguidores no Instagram. Ele mandou “enfiar a máscara no rabo”, mostrando que a nova postura de Bolsonaro já tinha sido jogada no lixo.
Apesar do recuo do recuo, Bolsonaro e aliados mantiveram a orientação para que o fogo contra Lula seja cada vez mais forte nas redes e nos canais de comunicação. Sistematicamente, o ex-presidente foi chamado de “ladrão” e “bêbado” – um vídeo com uma declaração do petista chegou a ser desacelerado para induzir que ele estaria alcoolizado. Além disso, os desvios na construção de estádios e nas obras da Copa de 2014 deveriam ser relembrados. Outro fator que pesou na volta do antigo Bolsonaro foi o aumento de medidas restritivas em SP e DF – onde o presidente mora. Bolsonaro é totalmente contrário a elas e vive repetindo que elas quebrarão a economia.