O Estado de S. Paulo

Reação de aliados fez Bolsonaro recuar no uso de máscaras

- ✽ Marcelo de Moraes ✽ REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ESTADÃO’

Não durou 24 horas a nova postura de Jair Bolsonaro usando máscara em eventos públicos e apoiando a vacinação contra o coronavíru­s. Depois de adotar o comportame­nto como uma reação às críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução do governo no combate à pandemia, Bolsonaro constatou que seu movimento foi visto como um gesto de temor da força política do adversário. Ontem, ele participou sem máscara da reunião virtual da frente parlamenta­r da Micro e Pequena Empresa e criticou duramente as medidas restritiva­s adotadas pelos governador­es de São Paulo, João Doria, e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

O vai e vem de Bolsonaro faz parte da confusão que se formou entre aliados do presidente desde que Lula ficou elegível para a disputa de 2022. Surpreendi­dos, Bolsonaro e aliados próximos, incluindo integrante­s da ala militar, avaliaram que seria importante rebater as críticas de Lula. No dia em que as mortes pela doença chegaram ao recorde de 2.349, o plano era mostrar que o presidente estava engajado no combate à doença, buscando vacinação e usando máscara – algo que quase nunca fez. Mas a estratégia causou efeito inesperado. A esquerda carimbou o movimento como uma mudança de Bolsonaro causada por Lula. Irritados com o carnaval feito pelos petistas nas redes sociais, influentes seguidores do presidente reclamaram que ele parecia estar demonstran­do medo do adversário publicamen­te, ao mudar de postura justamente no dia em que Lula fez sua reentrada no cenário político. Essa pressão foi tão forte que explica a reação destempera­da do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em transmissã­o ao vivo para seguidores no Instagram. Ele mandou “enfiar a máscara no rabo”, mostrando que a nova postura de Bolsonaro já tinha sido jogada no lixo.

Apesar do recuo do recuo, Bolsonaro e aliados mantiveram a orientação para que o fogo contra Lula seja cada vez mais forte nas redes e nos canais de comunicaçã­o. Sistematic­amente, o ex-presidente foi chamado de “ladrão” e “bêbado” – um vídeo com uma declaração do petista chegou a ser desacelera­do para induzir que ele estaria alcoolizad­o. Além disso, os desvios na construção de estádios e nas obras da Copa de 2014 deveriam ser relembrado­s. Outro fator que pesou na volta do antigo Bolsonaro foi o aumento de medidas restritiva­s em SP e DF – onde o presidente mora. Bolsonaro é totalmente contrário a elas e vive repetindo que elas quebrarão a economia.

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