O Estado de S. Paulo

Casa Branca avalia se deve enviar vacinas a outros países

Especialis­tas advertem que americanos estariam perdendo a chance de conter avanço de China e Rússia

- WASHINGTON / WP

O presidente dos EUA, Joe Biden, enfrenta uma pressão crescente para distribuir vacinas para outros países em resposta às agressivas campanhas da China e da Rússia, uma medida que ele rejeitou até agora, alegando que milhões de americanos ainda buscam imunizaçõe­s com urgência.

Os esforços da China, em particular, serão o foco de uma reunião entre Biden e os líderes de Austrália, Índia e Japão. Assessores dizem que os quatro podem discutir um acordo de princípios para distribuir os excedentes depois que suas populações forem atendidas.

Os adversário­s autoritári­os dos EUA – que não se preocupam com a opinião pública interna – estão livres para enviar vacinas a vários países, do México ao Usbequistã­o.

Isso desatou um debate dentro do governo sobre como equilibrar a segurança nacional, as necessidad­es humanitári­as e as preocupaçõ­es políticas. Ativistas e especialis­tas alertam que os EUA podem estar perdendo uma oportunida­de única de reconquist­ar a influência mundial após o isolacioni­smo do governo de Donald Trump.

• Promessa

“Se tivermos um excedente, vamos compartilh­á-lo com o restante do mundo. Vamos começar garantindo que os americanos sejam atendidos primeiro.”

Joe Biden PRESIDENTE DOS EUA

J. Stephen Morrison, diretor do Global Health Policy Center, do Center for Strategic and Internatio­nal Studies, disse que Biden não deve subestimar o risco de perder em uma disputa de poder que as nações autoritári­as poderiam explorar durante anos. “Chineses e russos estão avançando em sua diplomacia de vacinas e estão ganhando amigos, influencia­ndo pessoas e expandindo sua esfera de influência”, disse.

Pequim, por exemplo, prometeu entregar vacinas chinesas a mais de 50 países, incluindo o Paquistão, cuja cooperação é a chave para uma retirada militar bem-sucedida dos EUA do Afeganistã­o, e Filipinas, uma base para as operações dos EUA no Sudeste da Ásia e tradiciona­lmente um baluarte contra a expansão militar chinesa.

A Rússia também está se esforçando para elevar o perfil de sua vacina Sputnik V, buscando vários acordos de licenciame­nto. Krishna Udayakumar, diretor do Duke Global Health Innovation Center, disse que os EUA estão “perdendo a oportunida­de de consolidar sua liderança no cenário global”. Segundo ele, os EUA poderiam doar mais vacinas para outros países sem afetar significat­ivamente a disponibil­idade para os americanos.

Biden decepciono­u o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, na semana passada, ao descartar a doação de vacinas dos EUA, por enquanto. Ainda assim, a reação entre os americanos pode ser explosiva se Biden fornecer vacinas para outros países, enquanto muitos nos EUA ainda não foram imunizados.

“Se tivermos um excedente, vamos compartilh­á-lo com o restante do mundo”, disse Biden, na quarta-feira, quando pressionad­o sobre o assunto. “Vamos começar garantindo que os americanos sejam atendidos primeiro.”

A declaração foi feita após o anúncio de que os EUA garantiram mais 100 milhões de doses da vacina de dose única desenvolvi­da pela Johnson & Johnson, elevando o fornecimen­to projetado para os EUA muito além do número de americanos na fila para receber as vacinas este ano. Mais de 30 milhões de pessoas nos EUA – cerca de 10% da população – já foram totalmente vacinadas.

 ?? ANDREW HARNIK / AP ?? Imigração. Biden no Salão Oval: dor de cabeça na fronteira
ANDREW HARNIK / AP Imigração. Biden no Salão Oval: dor de cabeça na fronteira

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil