OS 10 ANOS DE UMA TRAGÉDIA TRIPLA NO JAPÃO
Japoneses lembram do dia em que enfrentaram terremoto, tsunami e um grave acidente nuclear
Os japoneses relembraram ontem os dez anos de uma tragédia tripla: o terremoto e o tsunami que provocaram o pior acidente nuclear do mundo desde Chernobyl. Uma década depois, as cidades próximas a Fukushima se perguntam: como reconstruir uma comunidade? As autoridades declararam muitas regiões como seguras após as operações de descontaminação, mas muitos dos deslocados hesitam em voltar, apesar dos incentivos financeiros e dos aluguéis baratos.
Masakazu Daibo se atreveu a dar o passo no ano passado e assumiu o restaurante que seu avô tinha antes da catástrofe em Namie. Mas, por enquanto, serve uns poucos vizinhos. O local continua cercado de prédios abandonados, cobertos de ervas daninhas, bem ao lado da estação ferroviária.
A cidade do nordeste do Japão, a 9 km da usina nuclear, foi esvaziada após a catástrofe, em março de 2011. “Não havia ninguém, mas a cidade permanecia. Era como um cenário de filme”, contou Daibo, de 65 anos. “Só se via cães de rua, vacas e porcos.”
Por causa da radiação, foi preciso derrubar as paredes do restaurante e Daibo teve de jogar fora tudo o que havia dentro. Agora, ele espera que seus clientes recuperem, graças a ele, o “sabor de antigamente”. “Espero que minha presença seja um raio de sol para esta cidade.”
As restrições foram suspensas para 20% do território de Namie, cujos 1.580 habitantes de hoje representam apenas 7,5% da população de antes de março de 2011. Cerca de 36% dos moradores têm 65 anos ou mais, em comparação com 29% da média nacional. Os colégios do município têm apenas 30 alunos – dez anos atrás, eram 1.800.
O Japão sofre um forte processo de envelhecimento demográfico, mas em Namie “é como se o futuro tivesse chegado de uma vez”, diz Takanori Matsumoto, funcionário municipal. “Nosso principal desafio é sobreviver como comunidade.”