O Estado de S. Paulo

Particular recusa pacientes; em 80%, ocupação de UTI supera 91%

Suspender as cirurgias eletivas e atender em pronto-socorro são medidas comuns; as altas ocorrem ‘por óbito’

- Júlia Marques

Hospitais privados de São Paulo suspendem cirurgias eletivas, recusam pacientes e atendem em prontos-socorros diante do agravament­o da pandemia. Pacientes mais jovens agora ocupam leitos de UTI por mais tempo, com quadros graves. “As altas hoje são por óbito. É dramático”, resumiu o presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratóri­os (SindHosp), Francisco Balestrin. O Sírio-Libanês já informou que teve de suspender cirurgias eletivas e o Albert Einstein deu prioridade aos procedimen­tos mais urgentes.

Balestrin vê pressão no sistema hospitalar privado paulista superior à registrada no pico da primeira onda, no ano passado. O aumento de demanda, diz, faz surgirem cenas como pacientes recebendo ventilação e cateter de oxigênio nos prontos-socorros.

Prontos-socorros também deixam de receber pacientes. Pesquisa do SindHosp mostra que 32% dos hospitais não conseguem aumentar o número de leitos para covid e 15% só conseguem ofertar mais leitos clínicos.

• Tsunami

“Há muitos pedidos de transferên­cia, não há como atender. Cancelamos as cirurgias eletivas. O sistema não aguenta um tsunami.”

Paulo Chap chap CEO DO SÍRIO-LIBANÊS

O levantamen­to, concluído ontem, indica que 83% dos hospitais estão cancelando cirurgias eletivas. Dos hospitais privados, 82% relataram ocupação superior a 91% de leitos de UTI. A pesquisa ouviu 93 hospitais , que dispõem de 6.517 leitos clínicos e 3.009 leitos de UTI. Foram 38 hospitais da Grande SP e 55 do interior.

Referência em todo o Brasil, o Sírio-Libanês recusou receber pacientes de outras unidades e suspendeu cirurgias eletivas. “Há muitos pedidos de transferên­cia e não temos como atender. Cancelamos todas as cirurgias eletivas”, disse o CEO do Sírio, Paulo Chapchap. “Tenho 36 pacientes que pediram transferên­cia para o Sírio e não estou atendendo. O sistema não aguenta um tsunami”, falou Chapchap em evento restrito; a declaração foi confirmada ao Estadão.

Já o Albert Einstein deu prioridade a cirurgias de acordo com a urgência. Nesta quinta, o hospital tinha ocupação geral (todas as doenças) de 104% – sendo 200 pacientes com covid, 101 deles na UTI. No Oswaldo Cruz, 97% dos leitos de UTI para covid estavam ontem ocupados. Para atender os que aguardam leitos, o hospital instalou uma “área de internação transitóri­a” no pronto-atendiment­o.

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