O Estado de S. Paulo

‘Ele ficou em casa e tomou ivermectin­a’

Bruno Belmont, primo de Gerdson Damasceno, morto aos 36 anos

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Ele tinha 36 anos, iria fazer 37 em agosto. Ficou em casa um bom tempo dizendo que era apenas uma gripe que pegou do padrasto, que trabalha com embarcação. Mas eles fazem testes antes de sair – e quando fez o teste com o padrasto deu negativo. A tal gripe foi piorando, piorando...e ele foi foi fazer o teste para a covid e deu positivo. Tentando se recuperar em casa, tomou ivermectin­a (remédio sem eficácia defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, cuja prescrição para covid a própria fabricante não recomenda).

Cada vez mais, o estado de saúde de Gerdson ia piorando. No 11.º dia, já não aguenta- va se levantar da cama para ir ao banheiro, tivemos de levar para o hospital – e lá ele já foi para a UTI da covid.

A saturação estava muito baixa, na faixa dos 50%, e ele foi para o oxigênio direto. No domingo foi entubado e na quinta morreu com parada cardiorres­piratória.

Comorbidad­e, não tinha: era atleta, jovem, todos os dias caminhava no condomínio. Não fumava. Bebia social- mente, era solteiro, morava com a mãe e o padrasto. Mexia com compra e venda de carros, mas não tinha um negócio certo. Ele era muito família. Éramos muito próximos. A gente só começa a entender essa doença depois que um ente querido morre. Começa a ficar receoso, a fazer as coisas que a OMS deter- mina. Eu mesmo não estava ligando muito.

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