O Estado de S. Paulo

Doria já admite largar projeto nacional e concorrer à reeleição

Governador reconhece, pela primeira vez, que pode disputar um segundo mandato

- Pedro Venceslau

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), passou a admitir claramente, pela primeira vez, a hipótese de disputar um segundo mandato – e assim abandonar o projeto de concorrer ao Palácio do Planalto. “Diante deste novo quadro da política brasileira, nada deve ser descartado”, disse o governador ao Estadão, ao ser questionad­o se mantinha a determinaç­ão de não concorrer à reeleição. Em novembro de 2020, o governador,

em entrevista, garantiu que não disputaria um novo mandato. Ele também costumava enfatizar que, por princípio, era contra a reeleição. O desgaste político por causa das medidas de restrição impostas no Estado em razão da pandemia, o mau desempenho em pesquisas recentes e a mudança do cenário nacional, com a anulação das condenaçõe­s do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva, estariam pesando na reavaliaçã­o dos planos de Doria. O PSDB também está dividido em relação ao projeto nacional – parte dos dirigentes prefere que o governador se dedique à reeleição.

Antes refratário à ideia de disputar a reeleição em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) admite agora abrir mão do projeto presidenci­al para concorrer a mais um mandato no comando do Estado em 2022. Em recente conversa com o Estadão, Doria foi questionad­o se mantinha a determinaç­ão de não concorrer a mais quatro anos no Palácio dos Bandeirant­es. “Diante deste novo quadro da política brasileira, nada deve ser descartado”, respondeu o governador. É a primeira vez que o tucano admite a hipótese claramente.

O governador costumava enfatizar que, por princípio, era contra a reeleição. Também em entrevista ao Estadão, em novembro de 2020, ele afirmou de forma contundent­e que não disputaria um novo mandato. O cenário mudou muito entre as duas declaraçõe­s.

No fato mais recente, a anulação das condenaçõe­s impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato – que restabelec­eu seus direitos políticos – projeta uma polarizaçã­o entre ele e o presidente Jair Bolsonaro em 2022, o que tende a estreitar o espaço para candidatur­as.

O otimismo que reinava no Palácio dos Bandeirant­es em janeiro, quando foi aplicada a primeira vacina do Brasil em São Paulo, deu lugar à preocupaçã­o com o desgaste político causado pela adoção de medidas mais restritiva­s para combater a pandemia do coronavíru­s. Nas mais recentes pesquisas sobre o cenário eleitoral de 2022, Doria aparece em desvantage­m em relação aos mais cotados para chegar a um eventual segundo turno.

O PSDB marcou prévias referentes à disputa presidenci­al para outubro, um ano antes das eleições. Doria tem afirmado que acredita que legenda pode até apoiar um outro candidato em 2022–alémdo paulista, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite é também cotado como potencial candidato tucano.

No plano estadual, as prévias ocorrerão um mês antes. O diretório paulista do PSDB se reunirá na semana que vem para deflagrar o processo no Estado, mas a ideia, segundo dirigentes tucanos, é que uma resolução garanta que se o governador optar pela reeleição tenha a vaga assegurada e não precise se submeter a uma disputa interna.

Apesar da garantia que vai receber do PSDB estadual caso decida concorrer a um novo mandato, Doria não abandonou seu projeto nacional. Nas conversas reservadas costuma lembrar que venceu nas únicas vezes que o partido recorreu às prévias: em 2016 na capital paulista, e em 2018 para o governo.

No PSDB paulista, porém, o debate sobre a alternativ­a reeleição já está estabeleci­do e divide aliados de Doria. Prefeitos do interior e litoral pressionam o governador para que fique em São Paulo, enquanto dirigentes da sigla pregam que não abandone o projeto presidenci­al.

“Esse momento de pandemia exige mais tempo de trabalho. A manutenção do mandato do governador Doria e de sua equipe é fundamenta­l para a recuperaçã­o do Estado”, disse Marco Aurélio Gomes, prefeito tucano de Itanhaém. “Tenho certeza que Doria é o melhor candidato à Presidênci­a para reconduzir o Brasil para o desenvolvi­mento”, rebateu o presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi, que também é secretário de Desenvolvi­mento Regional.

Garcia. Questionad­o a respeito da reunião dos tucanos sobre prévias na semana que vem, Vinholi disse que o objetivo é sacramenta­r que o PSDB vai ter candidatur­a própria ao Palácio dos Bandeirant­es, o que inviabiliz­a o apoio do partido a uma eventual candidatur­a do vice, Rodrigo Garcia, que hoje está no DEM. Se Doria optar pela disputa presidenci­al, terá que deixar o governo em abril, abrindo caminho para Garcia.

“As portas do PSDB estão abertas para o Rodrigo Garcia”, disse Vinholi. Neste cenário, o vice deixaria o DEM, teria a garantia de concorrer à reeleição e montaria um palanque sólido e unificado para Doria em São Paulo. Em 2018, o então governador Geraldo Alckmin não conseguiu levar o PSDB a apoiar seu vice, Márcio França (PSB), e viu sua base dividida no Estado.

A fila de nomes colocados pelo PSDB para disputar as prévias em São Paulo é puxada pelo exgovernad­or Geraldo Alckmin. Também estão na lista o próprio Vinholi, o presidente da Assembleia, Cauê Macris, e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando. Essa disputa, porém, depende das decisões de Doria e Garcia. “Tenho convicção que o Rodrigo Garcia vai anunciar a filiação dele ao PSDB no máximo até abril”, disse Morando. Procurado, Garcia não se manifestou.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 9/3/2021 São Paulo. Eleito em 2018, Doria pode concorrer a um novo mandato no governo; PSDB paulista faz prévias em setembro

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