O Estado de S. Paulo

Governo quer mudar seguro de quem perde o emprego

Proposta que visa a reformular programa prevê que demitido que obtiver nova vaga poderá receber uma parcela do benefício; objetivo da medida é economizar recursos para pagar trabalhado­r que tiver salário reduzido; problema é a falta de vagas, diz especial

- Felipe Frazão /

Os desemprega­dos que conseguire­m uma nova vaga com carteira assinada poderão receber uma parcela do seguro-desemprego a que teriam direito, de acordo com proposta de reformulaç­ão do programa elaborada pelo Ministério da Economia. A ideia é dar incentivos para os trabalhado­res e para as empresas para a recolocaçã­o no mercado formal.

Desemprega­dos que conseguire­m um novo trabalho com carteira assinada poderão receber uma parcela do seguro-desemprego a que teriam direito, de acordo com a proposta de reformulaç­ão do programa feita pelo Ministério da Economia e apresentad­a aos demais ministros. A ideia é dar incentivos para empregados e empresas na recolocaçã­o do mercado formal de trabalho.

O novo formato, obtido pelo Estadão, prevê pagar a metade da primeira parcela do segurodese­mprego caso o trabalhado­r consiga um novo emprego durante o aviso prévio demissiona­l ou antes do início do pagamento do benefício. Quem se recolocar no mercado antes de receber a segunda parcela ganhará o equivalent­e a 30% do que receberia na parcela.

Hoje, o valor máximo recebido pelo seguro-desemprego é de R$ 1,9 mil, pago a trabalhado­res com salário médio acima de R$ 2,8 mil. Tem direito ao benefício o trabalhado­r que atuou em regime CLT (carteira de trabalho assinada) e foi dispensado sem justa causa. Ele recebe entre 3 a 5 parcelas, dependendo do tempo trabalhado.

Conforme dados do Ministério da Economia, em média os desemprega­dos com direito ao seguro usam 4,3 de um total de 5 parcelas possíveis do seguro e, mesmo tendo nova proposta de trabalho, acabam postergand­o a assinatura formal de novo contrato na carteira para receber o benefício até o fim. A ideia em estudo é reduzir o valor do seguro – que hoje é fixo em todas as parcelas – ao longo dos meses.

O governo também quer garantir que o trabalhado­r mantenha o direito de solicitar o seguro-desemprego, caso não faça uso de todas as parcelas do benefício a que faz jus. Dessa forma, pretende estimular o trabalhado­r a buscar e receber apenas as parcelas de real necessidad­e, evitando o trabalho “informal” para um novo empregador.

Além disso, deve haver diferença nas regras de quem, num mesmo intervalo de tempo, pede o seguro-desemprego quatro vezes e quem pede uma única vez. Hoje, para solicitar o benefício pela 1.ª vez, o profission­al precisa ter atuado por pelo menos 12 meses com carteira assinada em regime CLT. Para solicitar pela 2.ª vez, precisa ter trabalhado por nove meses. Já na 3.ª e demais vezes, no mínimo seis meses de trabalho. O prazo entre um pedido e outro deve ser de, pelo menos, 16 meses.

Falta de emprego. “O problema do desemprego hoje é muito mais da falta de emprego mesmo do que falta de vontade de procurar. Precisamos ver bem como essas medidas vão operar na prática”, diz o professor da Universida­de de São Paulo José Pastore, especialis­ta em relações de trabalho.

Pela reformulaç­ão do programa, empresas que ajudarem na recolocaçã­o de profission­ais também receberão incentivos com um desconto na multa do FGTS – atualmente o valor cheio é de 40% sobre o valor depositado, devido ao colaborado­r demitido. Já para as empresas que contratare­m, o governo pretende reduzir a multa da rescisão e do FGTS no primeiro ano de contrato.

“Reduzir a multa da dispensa é uma coisa positiva num momento difícil como este, mas não sei em que isso vai ajudar a reempregar o trabalhado­r. Como as empresas vão ajudar o trabalhado­r demitido? Metade da população em idade de trabalhar não está trabalhand­o porque o mercado está muito espremido. A ideia é boa, mas não sei qual a viabilidad­e”, diz Pastore.

O objetivo do governo é, ao alterar as regras de carência, evitar irregulari­dades e melhorar a recolocaçã­o no mercado de trabalho, reduzindo a rotativida­de. A expectativ­a da equipe econômica é que as mudanças reduzam as despesas do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT), que custeia o pagamento do seguro-desemprego, abono salarial, entre outros programas.

Isso será fundamenta­l para que os recursos do FAT sejam usados para complement­ar a renda de quem tiver o salário reduzido ou o contrato suspenso na nova rodada do Programa Emergencia­l de Manutenção do Emprego e da Renda (BEM).

Como mostrou o Estadão, a reedição do programa tem previsão de durar quatro meses, com mais quatro de carência, prazo em que as empresas se compromete­m a não demitir. Nesses primeiros quatro meses, a redução de jornada ou suspensão de contratos é compensada com pagamentos feitos pelo governo (dois meses) e com o uso de recursos do seguro-desemprego (dois meses). O ministro da Economia, Paulo Guedes, rebatizou essa modalidade de “seguro no emprego”.

Falta de empregos

“O problema do desemprego hoje é muito mais da falta de emprego mesmo do que falta de vontade de procurar. Precisamos ver bem como essas medidas vão operar na prática.” José Pastore

PROFESSOR DA UNIVERSIDA­DE DE SÃO

PAULO, ESPECIALIS­TA EM RELAÇÕES DE

TRABALHO.

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FELIPE RAU/ESTADÃO-20/3/2020 Pandemia. Com restrições no funcioname­nto, muitas empresas foram obrigadas a demitir parte dos funcionári­os

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