O Estado de S. Paulo

• Primeiro remédio contra covid

Anvisa aprovou uso hospitalar do remdesivir, para reduzir internação e uso de oxigênio suplementa­r.

- Mateus Vargas

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ter dado aval para o uso do antiviral remdesivir contra a covid-19, o primeiro a ter essa indicação no País. O produto só poderá ser utilizado em ambiente hospitalar, ou seja, não será vendido em farmácias, e ainda não tem preço definido. A droga também não serve para prevenção da doença e não é considerad­a uma “cura”. Ela é indicada para reduzir o tempo de internação e a necessidad­e de suporte de oxigênio.

Segundo a Anvisa, testes apontaram que a substância impede a replicação do vírus no organismo, diminuindo o processo de infecção. O registro foi concedido para o laboratóri­o Gilead e a droga é indicada para o tratamento da covid-19 em adultos e adolescent­es, maiores de 12 anos, com peso superior a 40 quilos, que apresentam pneumonia e precisam de suporte de oxigênio, mas não estão sob ventilação mecânica invasiva.

O gerente-geral de Medicament­os e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, disse que “ajuda a desonerar o SUS (Sistema Único de Saúde), hospitais, reduz o tempo médio de hospitaliz­ação”. “Não estamos falando de cura, mas é um importante auxílio nessa situação que vivemos.”

O antiviral já havia sido autorizado pela agência sanitária dos Estados Unidos no ano passado e utilizado pelo ex-presidente Donald Trump, inclusive após ser diagnostic­ado com covid-19. Outros medicament­os do chamado “kit-covid”, aposta do governo Jair Bolsonaro, como a hidroxiclo­roquina, não são indicados para a doença, pois não apresentar­am bons resultados.

O remdesivir é injetável e será produzido pela empresa no formato de pó para diluição. Durante os estudos clínicos do produto no Brasil, não foram registrado­s eventos adversos graves com os voluntário­s.

A Câmara de Regulação do Mercado de Medicament­os (CMED) ainda deve definir um preço para venda do produto ao governo e iniciativa privada. Em geral, o grupo avalia uma “cesta” de preços internacio­nais e define um teto que pode ser cobrado no Brasil, mas também pode fazer uma análise “caso a caso”, quando ainda não há dados de outros países. O produto é encontrado pelo equivalent­e a R$ 15 mil nos Estados Unidos. Para entrar na rede pública, em condições normais, o medicament­o precisa ter o preço definido e passar pela análise da Comissão Nacional de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no SUS. “Mas a gente sabe que no contexto da pandemia várias estratégia­s distintas estão sendo adotadas”, disse Mendes, que declarou ser difícil o produto ficar disponível antes de uma definição de preço.

Polêmica. A Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) já se posicionou contra o uso do antiviral no tratamento de pacientes hospitaliz­ados com covid-19. Segundo a Anvisa, porém, a análise do órgão avaliou dados de redução de mortalidad­e, enquanto a agência considerou benefícios para encurtar o tempo de internação.

Já um estudo feito pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosa­s dos Estados Unidos (NIAID) com cerca de mil pacientes hospitaliz­ados mostrou que o remdesivir reduziu o tempo de internação de pacientes de 15 para 11 dias. Em pacientes com doença grave que usaram oxigênio suplementa­r, o tempo de recuperaçã­o caiu de 18 para 12 dias. Não foi observada, porém, diferença no tempo de recuperaçã­o no grupo de pacientes com doença grave que iniciaram o tratamento com remdesivir quando já estavam em ventilação mecânica – nem em casos leves ou moderados.

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AMR ABDALLAH DALSH / REUTERS–25/6/2020 O medicament­o. Ele não será vendido em farmácias; no exterior, chega a custar R$15 mil

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