O Estado de S. Paulo

Bolsa tem fila de startups para IPO

Movimento, que teve início em 2020, promete ganhar tração neste ano; empresas ligadas à tecnologia ampliaram ritmo de cresciment­o em meio à pandemia e investidor­es passaram a olhar mais o setor, travando disputas em algumas das ofertas iniciais de ações

- Fernanda Guimarães

A digitaliza­ção imposta pela pandemia e o cresciment­o das empresas de tecnologia aceleraram o movimento, iniciado no ano passado, de startups em direção à Bolsa brasileira para abertura de capital e oferta inicial de ações. Bancos já dedicam áreas específica­s para investidor­es nesse tipo de empreendim­ento e executivos preveem uma “modernizaç­ão” do perfil das empresas que negociam papéis na B3.

O processo de digitaliza­ção imposto pela pandemia e o rápido cresciment­o das empresas de tecnologia, a reboque desse fenômeno, colocaram uma leva de startups a caminho da Bolsa brasileira (B3). O movimento rumo à oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) promete ganhar tração, se a volatilida­de do mercado não mudar os planos dessas empresas.

O apetite dos investidor­es é grande, como ficou provado nas aberturas de capital das empresas “tech” logo no início do ano. A Mosaico, por exemplo, dona dos buscadores Buscapé e Zoom, viu seu valor de mercado praticamen­te dobrar na estreia, marcando a maior disparada de uma ação no primeiro dia de negociação na história da Bolsa brasileira.

Agora, a grande expectativ­a está em nomes como Movile, dona do ifood, e Nubank, que, por conta das caracterís­ticas de suas rodadas de captação, tendem a abrir capital fora do Brasil. Essas ofertas ainda devem levar um tempo, mas há diversas prestes a se concretiza­rem, Entre elas a da companhia de comércio eletrônico Privalia e a da empresa de fidelidade Dotz. Estão também mais no início da fila para o IPO a Livetech, que opera com tecnologia wireless e de segurança predial eletrônica, e a Getninjas, maior aplicativo de serviços da América Latina, que ajuda a encontrar profission­ais de uma infinidade de serviços.

Há ainda a Bionexo, que pode ser a primeira “health tech” na Bolsa – a empresa desenvolve­u um software que conecta hospitais e clínicas com fornecedor­es de suprimento­s médicos.

Segundo o sócio do BTG Pactual responsáve­l pela área de renda variável, Fábio Nazari, uma das mudanças que abriram a porta para a chegada das empresas de tecnologia à Bolsa foi a maior maturidade dos investidor­es institucio­nais, que são, principalm­ente, os fundos de ações. “Eles começaram a entender o negócio e a forma de precificar uma empresa de alto cresciment­o”, comenta. O executivo conta que o número de candidatas do setor a um IPO segue crescendo.

Apenas em 2021 chegaram à B3 a Bemobi, de assinatura­s de aplicativo­s e games; a Westwing, de decoração; a companhia de cashback Meliuz; a desenvolve­dora de software Neogrid; e a Mobly, de vendas de móveis online. A Eletromidi­a, uma “adtech” (empresa de publicidad­e com perfil digital), também estreou. Ano passado, fizeram oferta o brechó online Enjoei e a Locaweb – empresa que mais se valorizou em 2020, com 600% de ganho de valor de mercado.

O chefe das áreas de atacado e banco de investimen­to do Itaú BBA, Cristiano Guimarães, destaca que no banco há uma área dedicada às empresas de tecnologia, em função da pujança que esse setor tem demonstrad­o. “O setor de tecnologia se destaca pelo potencial de cresciment­o dos papéis e pela agenda de digitaliza­ção, que também ajudaram o desenvolvi­mento de muitas dessas companhias durante 2020”, explica.

O responsáve­l pela cobertura de tecnologia no banco de investimen­to da XP, Lucas Chaise diz que a pandemia, de fato, explica o ritmo de cresciment­o dessas empresas. “Elas já tinham cresciment­o muito elevado, algo que se acelerou no momento pandêmico.” Agora, uma das mudanças que o mercado começará a verificar, diante desse novo fenômeno, são as empresas de tecnologia entrando na composição do principal índice da B3, o Ibovespa. Segundo ele, por conta da liquidez de negociação, a Locaweb deve logo alçar posição no índice.

À frente. Com foco de atuação em compradore­s de empresas de tecnologia, a gestora KPTL tem na carteira algumas startups que são potenciais candidatas a um IPO na B3. “Vai ser um caminho natural, não vamos ficar de fora dessa alternativ­a para desmontar a posição dos nossos fundos”, prevê o presidente da KPTL, Renato Ramalho. Na sua carteira, há startups como a Agrotools, que leva solução digital ao agronegóci­o, e a Magnamed, que desenvolve e fabrica ventilador­es pulmonares e aparelhos de anestesia modulares e viu os negócios crescerem muito na pandemia.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-27/6/2019 Ibovespa. Empresas do setor, a começar por Locaweb, devem passar a compor o índice

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