O Estado de S. Paulo

Governo de Minas é alvo de CPI por ‘fura-fila’ na vacinação

Foram imunizados pelo menos 806 servidores do alto escalão; gastos no combate à pandemia serão investigad­os

- Leonardo Augusto

A Assembleia Legislativ­a de Minas Gerais instalou uma comissão parlamenta­r de inquérito (CPI) para investigar a suspeita de que servidores estaduais tenham furado a fila de vacinação contra a covid-19. É a primeira vez que o governador Romeu Zema (Novo), eleito com a promessa de combater privilégio­s, enfrenta uma CPI.

Dos 77 deputados da Assembleia, 39 votaram pela abertura da comissão – 13 a mais que o mínimo necessário. Conforme seu requerimen­to de criação, a CPI não vai investigar apenas a vacinação dos servidores, e alcançará também recursos gastos pelo governo na pandemia.

Zema anunciou, anteontem, a demissão do secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral. Em sua defesa, Amaral afirmou que o Plano Nacional de Imunização (PMI) prevê a vacinação dos profission­ais de saúde, e disse que sua vacinação se justificav­a por ter feito visitas a campo.

Ao menos um assessor próximo ao governador, que não trabalha na área da Saúde, tomou a vacina. Nicolau Coimbra Campedelli trabalha na Diretoria Central de Relação com a Imprensa, vinculada à Secretaria­geral do Estado. Todo o alto escalão da Secretaria de Saúde, subsecretá­rios, assessores de comunicaçã­o e de cerimonial da pasta, além de funcionári­os de gabinete, foram imunizados, totalizand­o 806 servidores.

Enquanto isso, menos de 70% dos profission­ais que atuam diretament­e no combate à pandemia – médicos, enfermeiro­s e técnicos em enfermagem – no Estado receberam a primeira dose da vacina até agora. A segunda dose foi aplicada em 39,36% dos profission­ais da área. O Ministério Público de Minas (MP-MG) investiga o caso e, anteontem, deu prazo de cinco dias para que o governo apresente a lista de servidores vacinados.

Na Assembleia, a avaliação entre deputados é de que a CPI foi instalada no pior momento possível para o governo Zema. O bloco considerad­o governista, que reúne deputados de sete partidos (Avante, Novo, Podemos, PP, PSDB, PSC e Solidaried­ade), não tem sido uma base coesa de apoio. Nas contas de deputados, apenas 11 dos 21 parlamenta­res do bloco se mantêm fiéis a Zema.

“Vamos investigar a fundo esses que se entendem privilegia­dos em passar na frente dos demais na vacinação, o que, segundo o Ministério da Saúde, no momento que vivemos de pandemia, é um dos crimes mais graves nos nossos dias atuais”, declarou o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), na instalação da CPI.

Além das suspeitas de fura-fila, a CPI deve alcançar outras áreas da Saúde no Estado. A justificat­iva para a instalação diz que a CPI também investigar­á “o baixo investimen­to em ampliação de leitos para enfrentame­nto da pandemia no Estado, concomitan­te à não aplicação do mínimo constituci­onal em serviços públicos de saúde”.

Autorizada. Nas redes sociais, Zema afirmou que determinou que os órgãos de controle apurem o processo de vacinação de servidores. Disse ainda que o secretário “garantiu que todas as ações adotadas são técnicas e legais”. A assessoria do governador informou que o servidor da Secretaria-geral vacinado “cumpre expediente presencial na Secretaria de Estado de Saúde” e “todos os demais profission­ais citados atuam na área de comunicaçã­o da SES”. Segundo o governo, a vacinação dos servidores foi autorizada conforme critérios técnicos.

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PEDRO GONTIJO / IMPRENSA MG - 21/5/2020 Minas. Zema foi eleito prometendo combater os privilégio­s

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