O Estado de S. Paulo

Policiais de Mianmar fogem da junta militar em direção à Índia

Revoltados, dezenas de agentes partem com as famílias para não participar­em da violenta repressão aos protestos

- ZOKHAWTHAR, ÍNDIA

Dezenas de policiais de Mianmar e suas famílias fugiram para a Índia, informaram ontem fontes das forças de segurança indianas. Uma delas disse à agência France Presse que as autoridade­s birmanesas estão “agredindo e torturando” manifestan­tes.

As autoridade­s militares de Mianmar estão reprimindo cada vez mais violentame­nte os protestos diários contra o golpe de Estado de 1.º de fevereiro. Pelo menos 70 manifestan­tes morreram, nove deles na quinta-feira. Desde o golpe, um fluxo crescente de pessoas, incluindo muitos policiais que se negam a participar da repressão, tem atravessad­o a fronteira em direção ao Estado indiano de Mizoram.

Até ontem, 264 pessoas entraram no país vizinho, incluindo 198 policiais e seus parentes, indicaram fontes das forças de segurança. “A razão para sair de Mianmar e ir para a Índia é que não quero servir à junta militar”, disse à AFP um dos agentes, que pediu anonimato. “A segunda razão é que, se renuncio à junta militar e me uno ao povo, acredito que podemos vencer a lutar contra a ditadura.”

Diante da situação cada vez mais violenta, o Reino Unido aconselhou ontem seus cidadãos a partirem e só em caso de “necessidad­e urgente” permanecer­em em Mianmar, onde a repressão é cada vez mais severa, especialme­nte contra a imprensa. A Rússia expressou preocupaçã­o com o “número crescente” de vítimas civis. O porta-voz da presidênci­a russa, Dmitri Peskov, chamou a situação de “alarmante”.

Desde o golpe, a junta militar que assumiu o poder enfrenta um movimento de protestos sem precedente­s, que tenta conter de maneira cada vez mais violenta, recorrendo até mesmo a munição letal. “Crescem as evidências de que a junta militar pode estar cometendo crimes contra a humanidade, incluindo assassinat­os, desapareci­mentos forçados, perseguiçã­o, tortura e prisões e outras violações da lei internacio­nal”, declarou, na quinta-feira, Thomas Andrews, especialis­ta enviado a Mianmar pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Repressão. A junta militar também aumentou a repressão contra a imprensa e cinco jornalista­s foram indiciados, na quinta-feira, incluindo um fotógrafo da agência Associated Press. Eles foram detidos no mês passado quando cobriam um protesto em Yangun.

Acusados de “provocar temor, propagar notícias falsas ou questionar direta ou indiretame­nte um funcionári­o do governo”, eles podem ser condenados a penas de 2 a 3 anos de prisão, segundo a nova lei aprovada pela junta.

Esta semana, os militares ordenaram operações contra vários meios de comunicaçã­o e revogaram as licenças de alguns.

Entre os detidos está um jornalista polonês, de acordo com informaçõe­s do Ministério das Relações Exteriores da Polônia. Os diplomatas tentam estabelece­r contato com o repórter, mas ainda não tiveram sucesso.

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STR / AFP Revolta. Protesto pela libertação de Suu Kyi em Yangun

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