O Estado de S. Paulo

DRAMA BASEADO NA VIDA REAL

- / M.M.

A situação da crise dos opioides é tão grave nos Estados Unidos que, como diz a roteirista Jessica Goldberg, “todo o mundo foi tocado por ela de alguma maneira”. No caso dos diretores Joe e Anthony Russo e de Angela Russo-otstot, corroteiri­sta e irmã dos dois, que são de Cleveland, o impacto foi sentido não apenas com pessoas conhecidas, mas na cidade em si. “O sistema num lugar como Cleveland oferece um número muito limitado de escolhas para seus habitantes. Para nós era importante captar esse sentimento de que é um mundo em que é cada um por si”, disse Russo-otstot.

A atriz Ciara Bravo, que nasceu no norte do Kentucky, na fronteira com Ohio, também sabe bem do que o filme Cherry fala. “Infelizmen­te, sendo de lá, é difícil não conhecer alguém que sofra com o vício”, disse ela. “Mas isso significou que eu precisava ir ainda mais fundo na minha pesquisa, para abordar o assunto da forma mais respeitosa possível, sem glamouriza­r.” Ela procurou pessoas que foram vítimas da droga, muitas vezes sob indicação médica. “Elas foram muito abertas, falaram de todos os estágios diferentes, de como são tratadas pelos outros.”

Para Tom Holland, que cresceu em Londres, informar-se era fundamenta­l. “Não sabia muito sobre essa crise, mas não assisti a filmes ou séries de televisão para me preparar”, explicou o ator. “Preferi me inspirar pelas histórias de vida reais de pessoas que passaram por essas coisas horríveis.” Holland conversou com 30 veteranos de guerra que tiveram experiênci­as semelhante­s à de Cherry. “Um deles me disse que eles treinam civis para serem assassinos, mas não treinam os assassinos para voltarem a ser civis. Eles esperam que esses jovens homens e mulheres simplesmen­te se encaixem novamente na sociedade. Seu sistema de apoio é muito falho. Então Cherry, como tantos outros, toma suas decisões baseado em seu trauma.” O ator precisou emagrecer e passou por longas sessões de maquiagem prostética para retratar os efeitos da droga e também o envelhecim­ento do personagem – o filme cobre cerca de dez anos de sua vida.

Ciara Bravo espera que o longa sirva para derrubar a noção de que pessoas que lutam contra o vício são fracas. “Qualquer um pode se viciar, especialme­nte hoje em dia, com essas drogas legais poderosas”, disse ela. “E basta uma decisão errada para alterar o resto da sua vida. Então espero que, depois de assistir ao longa, as pessoas tenham mais empatia por aqueles em suas vidas que estão passando por algo do tipo.”

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