Mercado de bem-estar sexual cresce no Brasil
Grandes empresas se unem a startups para impulsionar um setor cujos empreendedores triplicaram em 2020
Na busca constante pelo bem-estar, é comum que o consumidor vá atrás de itens de cuidado com o corpo, exercícios físicos, produtos para a pele e de cuidados com o sono, sessões de terapia, ioga e até meditação. Mas há, também, quem já esteja de olho em uma parte importante desse mercado, ainda pouco reconhecido: o bem-estar sexual.
O tema atraiu mais olhares – e mais dinheiro – durante o isolamento social, quando foram criadas diversas “sextechs” (startups do setor do sexo). Agora, grandes empresas de outros nichos se juntam a essas startups para impulsionar o mercado e marcar presença no assunto.
O interesse dos consumidores – principalmente o das mulheres – por produtos e serviços ligados ao mercado erótico tem crescido desde o começo da pandemia. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Portal Mercado Erótico, especializado no setor, o número de empreendedores triplicou no Brasil no ano passado. Já a consultoria KBV Research estima que o mercado de bem-estar sexual deve movimentar globalmente US$ 125 bilhões até 2026.
“O bem-estar é holístico, tem o bem-estar mental, físico, emocional e, agora, vem o bem-estar sexual. Tivemos muitos investimentos nas outras frentes, como alimentação, corpo e sono, ainda mais no contexto de estresse da pandemia. O movimento do bem-estar sexual acompanha o de bem-estar geral”, diz Lídia Cabral, especialista em tecnologia e inovação e fundadora da Tech4Sex, plataforma de tendências e pesquisas em sextechs.
De olho na mudança de comportamento das consumidoras e no potencial de crescimento do setor, a Amaro – varejista de roupas e acessórios – incorporou no seu portfólio produtos de bem-estar sexual. Para isso, fez parcerias com nove pequenas e médias marcas do setor, nacionais e internacionais.
“Depois de oito anos focados em moda, decidimos expandir para outras categorias de lifestyle: beleza, bem-estar e casa. O bem-estar sexual é uma categoria muito escondida, tanto no varejo físico quanto no e-commerce. Nunca são lugares com um branding legal, que deixa a consumidora à vontade para descobrir e aprender sobre os produtos. E as pessoas não falam muito sobre isso como marca ou varejista. Nenhum varejista conseguiu posicionar essa categoria como ela merece”, diz o presidente da empresa, Dominique Oliver.
Tendência. O movimento segue uma tendência internacional, como aponta Lídia Cabral. “Do ponto de vista de mercado, lá fora as empresas estão mais atentas ao fato de que, quando elas trazem esses negócios para o contexto do bem-estar, o mercado se abre, porque por muito tempo a gente associou a sexualidade a coisas nem sempre positivas.”
Além da Amaro, quem já passou a olhar com atenção para o mercado do bem-estar sexual é a pequena Holistix, que há dois anos oferece produtos e serviços focados em saúde e bem-estar, como limpador de língua, almofada térmica e escova seca. Para abarcar também o prazer sexual, no fim de 2020, a marca fez uma parceria com a sextech Lilit e passou a comercializar o Kit do Prazer, que vem com um guia de masturbação (desenvolvido por uma ginecologista) e um vibrador para iniciantes.
“O nosso time é basicamente formado por mulheres, então o bem-estar sexual já era um papo nosso. Começamos a perceber que tinha alguma coisa ali, vimos que o mercado brasileiro é um pouco mais erótico e entendemos que tem um lugar para a saúde, de conhecer 0 próprio corpo, ter intimidade consigo mesma” explica Nicole Vendramini, uma das fundadoras da empresa.
Caminho. Para a criadora da Lilit, Marilia Ponte, a parceria com outras marcas (além da Holistix, a empresa também é uma das parceiras da Amaro) ajuda a vencer barreiras culturais impostas ao mercado do bem-estar sexual e chegar a novos clientes, de forma online e offline. “Com essas marcas, a gente acelera o crescimento e apresenta soluções para um público que não conseguiríamos chegar. A gente não está falando com parte da população que já se sente super à vontade para entrar em um sex shop. A nossa marca fala com mulheres cujas principais preocupações são em que embalagem o produto vai chegar e o que o porteiro e o entregador vão pensar”, diz.
No caso de quem vende vibradores, as barreiras para chegar até lojas físicas, como farmácias e supermercados, por exemplo, são ainda maiores. Como não há regulamentação para esses produtos, a venda em farmácias e supermercados fica comprometida. “Entrar em grandes varejistas é um sinal de que talvez a gente esteja caminhando para ter produtos mais acessíveis, olhando para a intimidade de forma integral, para o prazer e bem-estar”, diz Marilia.
Além das parcerias de revenda, outro movimento das grandes empresas em relação às pequenas do setor pode ser feito em forma de aceleração de negócio e investimento. A sextech Feel, que surgiu em 2020 vendendo gel de massagem íntima e óleo para desconforto pélvico, foi selecionada para o programa de aceleração GB Ventures, do Grupo Boticário.
“Em outubro, começamos a vender os dois produtos e em duas semanas vendemos o estoque de dois meses, sem trabalhar o marketing. Ainda que fosse um estoque pequeno, a gente viu que tem uma demanda reprimida. Então, ficamos ainda mais preocupadas em escalar e crescer. Hoje, a gente produz e vende e precisamos ter um estoque maior para ter tração”, explica uma das fundadoras da Feel, Marina Ratton.
Durante seis meses, a startup vai contar com a estrutura e mentoria do Grupo Boticário para desenvolver e acelerar o negócio. “Nós temos um amplo portfólio com produtos feitos para o autocuidado e o autocuidado íntimo é um segmento com um potencial enorme”, conta o vicepresidente de tecnologia do Grupo Boticário, Daniel Knopfholz.