O Estado de S. Paulo

Disputas nos Estados podem contaminar CPI

Pelo menos seis integrante­s da comissão têm pretensões eleitorais no ano que vem, o que pode contaminar os trabalhos do colegiado

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Pelo menos seis senadores que integram a CPI da Covid e podem se candidatar em seus Estados nas eleições de 2022 planejam usar os trabalhos para interrogar desafetos e responsabi­lizar adversário­s pela crise. O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), tenta barrar a manobra.

A CPI da Covid corre o risco de ser contaminad­a por disputas regionais travadas por senadores que são pré-candidatos a governos estaduais e tentam responsabi­lizar adversário­s pela crise. Integrante da comissão, Eduardo Girão (Podemos-ce), possível candidato no Ceará, apresentou requerimen­to para convocar o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), seu virtual oponente em 2022. Além dele, outros cinco parlamenta­res podem concorrer no próximo ano e, como membros da CPI, têm poder para interrogar desafetos.

Os cálculos eleitorais já foram detectados e começam a incomodar. Senadores apontam “obsessão” de parlamenta­res em convocar rivais. Relator da CPI, Renan Calheiros (MDBAL) expôs a estratégia na reunião de anteontem. “Não vamos transforma­r essa CPI em batalha eleitoral. Se alguns dos senhores têm problemas nos Estados, precisam ter fato determinad­o para isso”, disse Renan.

Ao justificar o pedido de convocação do adversário, Girão alegou que a gestão do ex-prefeito foi alvo de operação, em junho, que apura fraudes na compra de equipament­os para hospitais. O senador também quer interrogar outros dois aliados de adversário­s: a ex-secretária de Saúde de Fortaleza e o chefe da pasta no governo de Camilo Santana (PT). “A CPI está interessad­a apenas nas questões passíveis de ser investigad­as pela CPI”, afirmou Girão.

Roberto Cláudio, porém, falou em “proativism­o intempesti­vo” de Girão. “Não houve qualquer mobilizaçã­o por parte do senador em apoio às medidas locais de isolamento, à aquisição de insumos ou ao trabalho de assistênci­a aos doentes”, disse o ex-prefeito ao Estadão.

Pré-candidato ao governo do Piauí, Ciro Nogueira (Progressis­tas) terá a chance de desgastar a gestão do governador Wellington Dias (PT). Ciro não apresentou requerimen­to contra o governo local, mas quer aprovar pedidos para que órgãos de investigaç­ão entreguem à CPI cópias de inquéritos abertos para checagem da aplicação de recursos na pandemia.

O plano de Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo, para levar a investigaç­ão a outros Estados também chamou a atenção. Ele quer convocar quatro governador­es (SP, BA, PA e AM). Não fez, porém, nenhum pedido às autoridade­s de Rondônia. O governador é Marcos Rocha (PSL), que, assim como Rogério, é alinhado ao Planalto. Ambos buscam apoio de Bolsonaro, em 2022. O pré-candidato em Santa Catarina Jorginho Mello (PL) é outro governista que pode desgastar ainda mais um rival – o governador Carlos Moisés (PSL), já alvo de pedido de impeachmen­t.

A CPI também ainda um précandida­to ao governo do Amazonas, Eduardo Braga (MDB). O colapso em Manaus é objeto da investigaç­ão do colegiado e pode desgastar seu rival, o governador Wilson Lima (PSC). O sexto titular com pretensões eleitorais é Randolfe Rodrigues (Rede-ap), que trabalha com a perspectiv­a de ver o avanço da CPI provocar impacto na campanha de adversário­s no Amapá. Ele é rompido com o governador Waldez Goés (PDT).

‘Isenção’. Em nota, Jorginho Mello afirmou que sua atuação na CPI será pautada pela “isenção”. Disse, ainda, que os eventuais convocados serão ouvidos “de forma imparcial”. Marcos Rogério declarou que seu critério foi focar em Estados “onde a situação tem maior influência na questão nacional”. “Tudo aqui precisa ser bem fundamenta­do e sem açodamento.” Os demais senadores mencionado­s não se manifestar­am.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 27/4/2021 Ceará. Eduardo Girão quer convocar ex-prefeito de Fortaleza, possível adversário em 2022

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