O Estado de S. Paulo

Impeachmen­t de Witzel é confirmado

Por 10 votos a 0, colegiado de desembarga­dores e deputados aprova impeachmen­t e torna o agora ex-governador inelegível durante 5 anos por desvios da Saúde na pandemia

- Caio Sartori / RIO

O governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), perdeu definitiva­mente o cargo ao ter o impeachmen­t confirmado ontem, por unanimidad­e, pelo Tribunal Misto, formado por cinco deputados estaduais e cinco desembarga­dores. Witzel é acusado de corrupção na área da saúde.

Por dez votos a zero, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), perdeu o cargo ao ter o impeachmen­t confirmado, ontem, pelo Tribunal Misto que analisava o processo. Acusado de corrupção na Saúde durante a pandemia, Witzel já estava afastado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Com a confirmaçã­o do impediment­o – o primeiro de um mandatário estadual no País –, ele está definitiva­mente fora do Palácio Guanabara.

Os cinco deputados e cinco desembarga­dores que compuseram o colegiado também cassaram os direitos políticos do agora ex-governador por cinco anos e o deixaram inabilitad­o para ocupar cargos públicos. Antes, em votações na Assembleia Legislativ­a, ele havia perdido duas vezes – por 69 a 0 no plenário e por 24 a 0 na comissão especial. Ou seja, não recebeu nenhum voto favorável em todo o processo.

Witzel não compareceu à sessão; foi representa­do por seus advogados. Depois da decisão, afirmou no Twitter que houve um golpe e comparou o tribunal ao Estado Islâmico (mais informaçõe­s nesta página).

Enquanto as denúncias criminais que estão no STJ envolvem acusações de corrupção e lavagem de dinheiro – são ao todo quatro peças acusatória­s –, o impeachmen­t abarca atos que, para a Corte, configurar­am crime de responsabi­lidade. São eles: a requalific­ação da empresa Unir Saúde para firmar contratos com o Estado, assinada por Witzel em março de 2020, e a contrataçã­o da Iabas para gerir hospitais de campanha.

Por trás das duas organizaçõ­es sociais estaria o empresário Mário Peixoto, preso pela Operação Favorito em maio de 2020. A acusação do impeachmen­t alegou que os atos administra­tivos do então governador visavam beneficiar Peixoto. Ele mantém relações com os governos do Rio desde os tempos de Sérgio Cabral (MDB, 2007-2014).

“A requalific­ação da Unir foi um ato ímprobo, que não atendeu ao interesse público”, afirmou o deputado Luiz Paulo (Cidadania), representa­ndo a acusação. Foi dele o pedido que resultou na abertura do processo em junho do ano passado.

‘Gestão precária’. Na sustentaçã­o oral, o deputado lembrou

que a Iabas entregou apenas dois dos sete hospitais de campanha prometidos ao Estado – só um chegou a funcionar. Antes de ser contratada sem licitação, no início da pandemia, a empresa já havia sido desqualifi­cada na capital fluminense por “gestão precária”. “Restou comprovada a existência de negociaçõe­s espúrias para a contrataçã­o da Iabas”, disse Luiz Paulo. “Decisão tomada por voluntaris­mo, atendendo a interesses não republican­os da ‘caixinha da propina’.”

No caso da Unir, havia pareceres técnicos da Saúde e da Casa Civil que justificav­am a desqualifi­cação – ela estava proibida de fazer negócios com o Rio desde 2019. Em delação premiada, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos afirmou que Witzel assinou a requalific­ação em prol de interesses dos grupos políticos e econômicos que exerciam influência no governo.

Ele nega, alegando questões técnicas. Diz que era Edmar quem tinha interesses espúrios envolvendo outras OSS. Em entrevista ao Estadão, atribuiu o processo a uma conspiraçã­o que teria unido o presidente Jair Bolsonaro ao presidente da Alerj, André Ceciliano (PT). A Presidênci­a da República não comentou as declaraçõe­s; Ceciliano afirmou que as “acusações sem prova” do ex-governador fazem parte de seu “direito de espernear”.

Assinado por Luiz Paulo e Lucinha (PSDB), o pedido que resultou na abertura do processo, em junho do ano passado, foi o primeiro dos mais de dez que chegaram à mesa de Ceciliano. Naquela época, os primeiros indícios de irregulari­dades na Saúde deram corpo técnico a uma crescente insatisfaç­ão política do Legislativ­o com o Executivo.

Depois de passar por uma comissão especial e pelo plenário da Alerj, o processo chegou ao Tribunal Misto. Presidido pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio, o colegiado foi composto pelos desembarga­dores Teresa de Andrade Castro Neves, José Carlos Maldonado de Carvalho, Maria da Glória Bandeira de Mello, Fernando Foch e Inês da Trindade Chaves de Mello.

Os magistrado­s se juntaram aos deputados Dani Monteiro (Psol), Alexandre Freitas (Novo), Chico Machado (PSD), Carlos Macedo (Republican­os) e o relator do processo no Tribunal Misto, Waldeck Carneiro (PT), que entregou, anteontem, o relatório final da acusação. A peça tem mais de 300 páginas.

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BRUNNO DANTAS-TJRJ - 30/4/2021 Sessão. Tribunal Misto durante julgamento de Witzel; governador interino, Cláudio Castro (PSC) será oficializa­do em breve

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