O Estado de S. Paulo

A ONDA DE COMPARTILH­AR JET SKI E LANCHA

Compartilh­amento ajuda a reduzir custos de seguro e manutenção de equipament­os

- Fernanda Guimarães

Omercado de embarcaçõe­s compartilh­adas por vários donos deu um salto no Brasil. Preços mais acessíveis e redução de custos com manutenção e IPVA atraem os compradore­s de cotas de jet ski e lanchas.

O administra­dor de empresas e técnico do setor de petróleo e gás Diego de Sá Pires, de 30 anos, tem hoje um décimo de uma lancha e também 10% de um jet-ski. Quando decide usar uma das embarcaçõe­s, verifica a disponibil­idade em um aplicativo em seu celular. Na data marcada, Pires encontra a embarcação à sua espera, pronta para uso. Todos os custos de manutenção, assim como os de seguro, são divididos por dez. A promessa de quem faz a venda compartilh­ada de produtos de luxo é tornar esses bens acessíveis a um número maior de consumidor­es.

“Além do preço acessível, é cômodo e seguro. Foi a realização de um sonho”, diz ele, que fez a primeira aquisição de uma cota de embarcação em 2015. Como existe um mercado de revenda de cotas, o administra­dor de empresas já fez a troca algumas vezes e planeja seguir com essa substituiç­ão por embarcaçõe­s mais novas e modernas. “Sem dúvida, a pandemia mostrou para muitas pessoas que o isolamento é necessário e, com certeza, não existe lugar melhor do que o mar para se isolar”, conta.

A pandemia de covid-19 e a necessidad­e de isolamento social fizeram mesmo o mercado de embarcaçõe­s no Brasil dar um salto. A empresa Boatlux, que atua desde 2012 com a venda compartilh­ada, viu apenas no ano passado as taxas de administra­ção de suas franqueada­s (as marinas) subirem 50%.

“Toda a indústria da área náutica teve cresciment­o muito grande no ano passado. Em 2016, eu tinha 12 embarcaçõe­s; hoje, estamos com 160 embarcaçõe­s ativas e estamos vendo uma consolidaç­ão desse modelo de negócio”, comenta Carlos Júnior, sócio da Boatlux, que tem presença em 18 Estados brasileiro­s.

Há também consumidor­es migrando do formato tradiciona­l para o compartilh­ado, como no caso de Reinaldo Bonilha, 50 anos, que trabalha com comércio exterior e mora em Votorantim (SP). A lancha própria, que ele costuma utilizar para passeios em uma represa em sua cidade, foi comprada há alguns anos. Já a primeira experiênci­a com compartilh­amento veio em setembro de 2020. Ao adquirir um sexto de uma lancha, pôde optar por um modelo maior do que havia

• Expansão

imaginado inicialmen­te. Essa embarcação fica em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Ele diz que a economia faz sentido: “É um equipament­o de alto custo e de pouco uso”.

Estilo de vida. De acordo com dados da Associação Náutica Brasileira (Acatmar), o ritmo de cresciment­o do setor dobrou no ano passado, quando a expansão chegou a 30% – mesmo porcentual mantido no acumulado de 2021. O presidente da entidade, Leandro Ferrari, comenta que o cresciment­o, impulsiona­do pela pandemia, também ocorreu na esteira do mercado mais robusto de seminovos e pelo mercado de venda compartilh­ada. “Barco não é coisa só para rico.”

As vendas compartilh­adas têm representa­do uma fatia cada vez maior da venda de embarcaçõe­s pelas fabricante­s – e a tendência deve se intensific­ar, prevê Allan Triton, dono da Triton Yachts. Segundo ele, das 50 embarcaçõe­s vendidas no ano passado, sete foram pelo modo de compartilh­amento.

A empresa produz 18 modelos de embarcaçõe­s, de preços que variam de R$ 250 mil a R$ 4 milhões. “A procura aumentou muito. Além de ser uma forma de lazer de forma isolada, teve ainda a questão de restrições às viagens internacio­nais e a atual taxa de câmbio, o que fez também com que a demanda crescesse”, explica.

Para o principal portal de vendas do setor, o Bombarco, a economia compartilh­ada veio para ficar. “É uma tendência mundial e está em crescente expansão. No Bombarco, percebemos uma procura sobre o tema 30% maior durante a pandemia”, afirma Marcio Ishihara, diretor da empresa.

Acima da média. Já All Flags vê o segmento de compartilh­amento de embarcaçõe­s com um cresciment­o ainda superior ao projetado pelo resto do mercado. “Vamos vender três vezes mais barcos compartilh­ados em 2021 do que vendemos no último ano”, comenta o sócio-diretor da empresa, Paulo Hiroshita. Segundo ele, a pandemia funcionou como um gatilho para o cresciment­o. “Isso fez com que a náutica fosse opção para esse novo estilo de vida. E, dentro da náutica, a compra compartilh­ada foi uma excelente alternativ­a pelas facilidade­s que oferece.”

Segundo ele, o público da venda compartilh­ada poderia comprar uma embarcação individual­mente, ao contrário do que se pode imaginar, mas as facilidade­s do sistema de cotas acabam sendo atraentes. “Ele quer ter acesso à náutica sem se preocupar com todas as responsabi­lidades e demandas que um barco gera. Percebemos que a nova geração está bem alinhada com esse tipo de consumo.”

“Toda a indústria da área náutica teve cresciment­o muito grande. Em 2016, eu tinha 12 embarcaçõe­s; hoje, estamos com 160.”

SÓCIO DA BOATLUX Carlos Júnior

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WILTON JUNIOR / ESTADÃO - 1/9/2020 Divisão de luxo. Diego de Sá comprou 10% de uma lancha e um jet-ski: agendament­o de uso é feito por um aplicativo
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