O Estado de S. Paulo

Bancada evangélica seria menor se igreja pagasse imposto, aponta estudo

Economista­s fazem relação direta entre cresciment­o de templos e eleição; isenção está prevista na Constituiç­ão

- Bruno Ribeiro

O número de igrejas abertas no País seria menor e a bancada evangélica no Congresso Nacional não teria chegado ao tamanho que tem hoje caso não houvesse isenção de impostos para o setor religioso. É o que aponta uma pesquisa proposta por dois economista­s, da USP e do Insper, divulgada na semana passada. O benefício tributário ao setor religioso foi garantido pela Constituiç­ão de 1988.

A pesquisa “A Economia Política do Pentecosta­lismo: Uma Análise Estrutural Dinâmica”, dos professore­s Raphael Corbi, da USP, e Fábio Sanches, do Insper, faz uma análise sobre efeitos práticos da política de incentivos fiscais vigente. “Eleição a eleição, a gente vê um aumento da bancada evangélica. Esse aumento tem a ver, sim, com a expansão geográfica dos templos, que por sua vez está ligada aos incentivos fiscais”, disse Corbi.

A ideia foi medir a expansão das igrejas no País desde a aprovação da Constituiç­ão e projetar como esse movimento teria se dado caso elas pagassem impostos. Para isso, utilizaram modelos matemático­s já existentes, usados para indicar o peso das alíquotas de impostos variadas para o cresciment­o de outros setores.

O estudo se baseou em dados fornecidos pelas igrejas à Receita Federal. Com uma alíquota de 34%, a taxa média cobrada das demais atividades, o total de igrejas no País, hoje de 216,3 mil, poderia ser até 74% menor.

A segunda parte do estudo avaliou o impacto político dessa eventual redução. Os pesquisado­res cruzaram os mesmos dados da Receita com informaçõe­s do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a eleição de candidatos da Frente Parlamenta­r Evangélica. E mediram a variação de votos que os candidatos da bancada tiveram em momentos anteriores ou posteriore­s à abertura de uma igreja em determinad­a região. Dessa forma, observaram que, após uma igreja ser aberta, candidatos desse grupo têm a participaç­ão nos votos subir de 2% a 3%.

O fenômeno vale para as igrejas evangélica­s, mas não para as católicas. A abertura de uma igreja romana não influencia os resultados eleitorais, de acordo com a pesquisa. “Fiéis de igrejas pentecosta­is tendem a ser mais participat­ivos” e comparecem mais aos locais de reunião, disse Fábio Sanches, do Insper.

Raphael Corbi, da USP, disse que a pesquisa “não tem julgamento de valor”. “É um artigo agnóstico no sentido de questionar se será que devemos ou não subsidiar igrejas. Não é um ataque às pentecosta­is. O subsídio ajuda a explicar essa ascensão meteórica dessas igrejas? Sim. Essa ascensão está associada à expansão desse grupo político? Sim. E a gente trouxe números para quantifica­r isso.”

Contrapart­ida. O coordenado­r da Frente Parlamenta­r Evangélica na Câmara, deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), disse que as igrejas prestam uma série de serviços sociais às comunidade­s onde estão instaladas. “Elas fazem o que o Estado não faz.” Por isso, na avaliação dele, a isenção fiscal garantida pela Constituiç­ão é revertida em serviços.

Para o deputado, o cresciment­o da bancada é decorrente do aumento da população evangélica no País. Mas, na avaliação dele, o aumento desse porcentual não está ligado ao cresciment­o da abertura de novos templos.

Madureira afirmou que as projeções são de cresciment­o ainda maior da população evangélica no País na próxima década. Desse modo, afirmou, “a bancada evangélica vai crescer ainda mais”.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO- 28/3/2020 Social. ‘Igreja presta serviços à comunidade’, diz deputado

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