O Estado de S. Paulo

‘Moldamos os atletas de acordo com a nova NBA’

Responsáve­l pela carreira de Didi, Raulzinho e Gui Santos, entre outros, dá detalhes do trabalho para revelar novos talentos

- Marcius Azevedo

O nome de Aylton Tesch surgiu novamente no noticiário do basquete na última semana, após o ala Gui Santos, do Minas Tênis Clube, completar sua inscrição para o Draft da NBA e Didi Louzada assinar contrato com o New Orleans Pelicans. O agente de 46 anos se tornou muito influente na liga com anos de trabalho, tem jogadores importante­s (não apenas brasileiro­s) em seu portfólio e, com estudo aprofundad­o, consegue oferecer aos times aquela peça que falta para sofisticar o elenco.

Em entrevista ao Estadão, o ex-jogador com passagem pela seleção brasileira abre o jogo sobre o processo para preparar jovens talentos para entrarem na maior liga de basquete do mundo e da dificuldad­e de continuar por lá. “Entrar na NBA não é para qualquer um. A cada ano, 60 atletas saem para que outros 60 entrem.”

• Você atingiu um status importante como agente. Como é este trabalho?

O trabalho do agente não é apenas o contrato que o Didi assinou agora, a entrada do Gui Santos no Draft... Vai muito além. Gosto desse papel de bastidores, nunca quis estar à frente dos atletas, são mais importante­s do que eu. Enquanto eles estão nos holofotes, tento fazer o meu trabalho da melhor maneira. E isso começa lá atrás, com atletas ainda bem jovens. Com a experiênci­a que temos, moldamos os atletas de acordo com a NBA e com a ‘nova NBA’. Quando cheguei aos EUA, a NBA era uma liga dos armadores estrangeir­os, para poder controlar mais o jogo, tinha que ter aquele pivô forte, grande, para parar os outros pivôs no garrafão. Hoje a liga é outra, das bolas de três, jogadores mais baixos e rápidos. É uma constante adaptação ao jogo. E, na NBA, só há espaço para 450 jogadores na temporada e a cada ano 60 atletas saem para que outros 60 entrem.

• Quanto teve de trabalhar para alcançar este status?

Meu trabalho como agente começou lá atrás. Comecei a jogar aos 11 anos e meu conhecimen­to dentro do esporte e a experiênci­a de cursar uma universida­de aqui nos EUA (Administra­ção) foram fundamenta­is. Aprendi como o americano trabalha, entendi como era a liga. O mercado é muito competitiv­o. Peguei uma época em que a NBA estava se abrindo para o mercado internacio­nal. O timing foi perfeito. E o meu preparo foi fundamenta­l.

• Como funciona a estrutura por trás dos atletas?

O ideal é que os atletas se dediquem apenas a treinar e jogar. Tento ao máximo filtrar qualquer problema externo e não deixar que chegue a eles, para que o foco seja apenas dentro de quadra.

• Como avalia o momento da carreira do Didi, que, enfim, assinou para jogar na NBA? Esse momento da carreira do Didi começou quando ele ainda estava em Cachoeiro do Itapemirim, aos 14 anos. Teve todo um trabalho feito com o Didi por mim e pelo meu sócio, o Arlem Lima, ele acreditou naquilo que foi proposto lá atrás, com o planejamen­to de carreira que fizemos. O que deixamos claro para ele é que isso é o começo da NBA. Didi vai ter de dedicar muito mais tempo para poder se manter na liga. Para mim, foi uma grande conquista, por ele ter acreditado lá atrás.

• O Gui Santos colocou o nome no draft, é o momento certo? Faz parte testar o retorno em relação ao nome dele?

Para mim foi o momento certo, sim, por tudo o que ele está fazendo no NBB. Geralmente, quando pensamos em inscrever alguém no Draft, estudamos bastante, nunca é inscrever por inscrever, porque não podemos arriscar. Um garoto com 18 anos, com a cabeça boa que tem, com o poder atlético que tem, não se acha com frequência. Ele está preparado, sim.

• O que projeta para o futuro do Raulzinho?

Raulzinho encontrou o seu time. Ignoramos propostas de outras equipes para fechar com Washington porque achávamos que seria o lugar ideal para ele. Foi a decisão mais acertada.

• O Anderson Varejão está aposentado?

Ele está vivendo um momento muito especial. Depois da saída do Flamengo, teve proposta de clubes de várias partes do mundo, mas decidiu, pelo momento de gravidez da esposa, pelo nascimento da filha, não jogar nesse período. Veio a pandemia... Dou a ele o tempo que quiser para dizer quando vai estar preparado e o que vai querer fazer.

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BRAD MILLS-USA TODAY SPORTS-3/4/2021 Escolha certa. Raulzinho assinou com o Washington Wizards para ter a oportunida­de de poder evoluir na carreira
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ARQUIVO PESSOAL Aylton. Experiênci­a desde os tempos de jogador

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