O Estado de S. Paulo

BNDES tem mais cinco leilões de saneamento na fila

São R$ 17 bi previstos em investimen­to; Amapá, Porto Alegre e Rio Grande do Sul devem fazer esse ano, e Ceará e Alagoas, em 2022

- Renée Pereira

Cinco novos leilões do setor de saneamento estão na fila do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) para serem realizados até o primeiro semestre do ano que vem. No total, são R$ 17 bilhões de investimen­tos para universali­zar e modernizar os serviços de água e esgoto para 10,4 milhões de pessoas.

Cada licitação vai seguir um modelo diferente, dependendo da área. Algumas serão feitas por meio de concessão plena, que inclui produção e distribuiç­ão de água e esgoto, outras serão feitas por meio de Parcerias Público-privadas (PPP) de esgoto ou a concessão apenas da distribuiç­ão – como foi o caso da Cedae, leiloada ontem, na B3, e considerad­a um sucesso pelos especialis­tas.

Pelo cronograma do BNDES, três leilões devem ocorrer ainda neste ano, no segundo semestre: São eles: Amapá (R$ 3 bilhões de investimen­tos), Porto Alegre (R$ 2,17 bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 3 bilhões). Alagoas e Ceará ficam para o próximo ano. O Estado de Minas Gerais também iniciou o processo de estudo com o banco de fomento, mas ainda não tem previsão para leilão.

O banco está em negociaçõe­s ainda para fazer a modelagem dos Estados da Paraíba, Pernambuco e Rondônia. “Não vai faltar investimen­to no setor”, diz o chefe do Departamen­to de Desestatiz­ação e Estruturaç­ão de Projetos do BNDES, Guilherme Albuquerqu­e. Segundo ele, os governador­es precisam de bons exemplos, como foi Maceió

e Cedae, para aderir às concessões.

O presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, concorda. Na avaliação dele, o leilão da Cedae foi simbólico não só porque é o maior do País, mas pelos desafios ambientais gigantesco­s. Além disso, completa o executivo, muitos governador­es estavam de olho no certame para decidir como fazer suas licitações e se aderem ao programa do BNDES.

Na avaliação de especialis­tas, o leilão da Cedae será um modelo a ser seguido. Seu sucesso pode incentivar outros administra­dores a adotar a mesma fórmula para universali­zar os serviços de água e esgoto, que tem data para ocorrer: 2033.

Atualmente, o setor privado está presente em 7% dos municípios brasileiro­s e atende 30 milhões de pessoas. A expectativ­a é que essa participaç­ão dobre com as licitações em andamento. Em 10 anos, essa fatia pode alcançar entre 40% e 50%, segundo cálculos do mercado.

Efeito Cedae. Com o leilão da Cedae ontem a participaç­ão da iniciativa privada já teve um avanço. No total, os investimen­tos previstos para a concessão vão universali­zar os serviços de água e esgoto para 11 milhões de pessoas – esse número representa mais de um terço do total de clientes atendidos pela iniciativa privada, que respondem por 7% dos municípios atendidos no País e 26,3% da população. Com o leilão da Cedae, esses números sobem para 7,5% e 34,3%, respectiva­mente, segundo dados da Associação Brasileira das Concession­árias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto.

Além disso, para alguns vencedores do leilão, assumir os blocos representa­rá dar um salto no tamanho da companhia. É o caso da Iguá, que deve dobrar em termos financeiro­s, afirmou o presidente da concession­ária, Carlos Brandão. Outro ponto positivo, diz ele, é que essa concessão também coloca a empresa em outro patamar em termos de ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança).

Resultado. O leilão de ontem é uma esperança para reduzir os índices vergonhoso­s de saneamento no País. Hoje 100 milhões de brasileiro­s não têm acesso à coleta de esgoto e 35 milhões não são abastecido­s com água potável – números que refletem a falta de prioridade que o setor teve nos últimos anos e explicam a proliferaç­ão de epidemias, como dengue e zika, além de doenças gastrointe­stinais no País. Esses indicadore­s colocam o País em posição pior que Iraque, Jordânia e Marrocos.

Para mudar esse cenário, o setor terá de receber entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões em novos investimen­tos. Pelas regras do novo marco regulatóri­o do setor, a universali­zação dos serviços terá de ocorrer até 2033.

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