O Estado de S. Paulo

Bolsonaro volta a pedir fim de restrições

Em almoço com empresária­s, presidente afirma que recursos foram repassados a Estados e que cabe à sociedade cobrar por seu uso

- Cristiane Barbieri

O presidente Jair Bolsonaro reiterou, no almoço com empresária­s e executivas, que aconteceu ontem em São Paulo, que o governo federal não terá como dar nova ajuda financeira às famílias, caso as restrições à circulação permaneçam,

Na conversa com o grupo, Bolsonaro afirmou ter reparado que, no caminho até o hotel Palácio Tangará, onde o evento foi realizado, havia várias lojas com portas fechadas e placas de aluga-se e vende-se. Seriam reflexo de medidas de restrição para conter a pandemia, adotadas por prefeitos e governador­es.

Para ele, após os repasses feitos pelo governo federal tanto por meio do auxílio emergencia­l quanto pela ajuda aos Estados, cabe à população cobrar dos governador­es o uso dos recursos, bem como alternativ­as para fazer a economia girar e, consequent­emente, reduzir o desemprego.

Novamente, o presidente disse que ninguém esperava pandemia com tamanha gravidade e, sem perspectiv­as de que termine, será preciso aprender a conviver com o vírus e voltar a trabalhar para a economia caminhar.

“Ninguém discordou”, afirmou Marly Parra, conselheir­a da ihub Investimen­tos e ex-executiva da E&Y e do GPA.

Segundo ela, as discussões nas meses giraram sobretudo em torno de reformas, principalm­ente tributária. “Há 22 projetos importante­s parados”, disse Marly. “Quisemos saber o que os ministros podem fazer para agilizar essas votações.”

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também falou sobre as iniciativa­s para controlar a inflação e voltou a mencionar o lançamento de um programa para os “cerca de 40 milhões dos chamados invisíveis, que atuam com trabalho informal e não têm conta em banco”, sem dar detalhes.

Entre amigos. De maneira geral, os temas mais espinhosos foram evitados. Bolsonaro e seus ministros pareciam estar em um almoço com apoiadoras, sendo que várias participan­tes não respondera­m a pedidos de entrevista­s. Já outras importante­s lideranças femininas, ao serem consultada­s sobre se tinham sido convidadas, disseram sob condição de anonimato que “felizmente, não”. A leitura é que não se recusa o convite de almoço com um presidente, mesmo com a gestão polêmica e no pior momento da crise sanitária, que ele teria ajudado a agravar.

Não foram feitas, por exemplo, cobranças mais duras em relação ao atraso na vacinação, que vem retardando a retomada das atividades econômicas.

Também não foi mencionado o projeto de lei que prevê multas maiores a empresas que não praticam isonomia salarial entre homens e mulheres. “É um tema polêmico e também discutimos no IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativ­a, no qual é membro da comissão de ética em governança) que pode ser prejudicia­l às próprias mulheres: já ficamos grávidas, temos de levar os filhos ao médico e ficamos de TPM. A punição às empresas pode acabar fechando vagas, principalm­ente para o pequeno empregador que pode ser questionad­o na Justiça.”

Na semana passada, Bolsonaro adotou discurso semelhante, ao sugerir que arranjar emprego pode se tornar “quase impossível” para as mulheres e o projeto foi novamente enviado ao Congresso – onde entrou num impasse na Câmara dos Deputados, que teme ser impopular se aprovar uma versão mais branda do projeto.

Dulce Pugliese, cofundador­a da Amil, conselheir­a da Dasa, e uma das mulheres mais ricas do

Brasil, com fortuna de US$ 6 bilhões, segundo a revista Forbes, falou em nome das convidadas. “Nem nos meus sonhos pensei em falar para nosso presidente e seus ministros”, disse ela, em seu discurso.

A primeira-dama, Michele Bolsonaro, e as ministras Tereza Cristina (Agricultur­a) e Damares Alves (Família e Direitos Humanos), cuja presença era esperada, não comparecer­am ao almoço. Segundo a organizaçã­o do evento, foram substituíd­as pelos ministros homens. Além de Guedes, comparecer­am Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Tarcísio de Freitas (Infraestru­tura), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Luis Eduardo Ramos (Casa Civil), Fábio Faria (Comunicaçõ­es) e Pedro Guimarães (Caixa Econômica Federal).

No total, havia quase 70 pessoas no encontro organizado pelo Grupo Voto, que promove a aproximaçã­o entre empresário­s e políticos e fez ontem o primeiro evento exclusivam­ente para mulheres. As fotos de divulgação mostravam o salão cheio e até 12 pessoas nas mesas, sem respeitar as regras de distanciam­ento social. A maioria era empresária­s e executivas de grandes companhias.

“Há 22 projetos importante­s parados. Quisemos saber o que os ministros podem fazer para agilizar as votações.” Marly Parra

CONSELHEIR­A DA IHUB INVESTIMEN­TOS

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ALAN SANTOS/PR Em formação. Presidente Bolsonaro com executivas que participar­am de almoço com ele

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