Bolsonaro volta a pedir fim de restrições
Em almoço com empresárias, presidente afirma que recursos foram repassados a Estados e que cabe à sociedade cobrar por seu uso
O presidente Jair Bolsonaro reiterou, no almoço com empresárias e executivas, que aconteceu ontem em São Paulo, que o governo federal não terá como dar nova ajuda financeira às famílias, caso as restrições à circulação permaneçam,
Na conversa com o grupo, Bolsonaro afirmou ter reparado que, no caminho até o hotel Palácio Tangará, onde o evento foi realizado, havia várias lojas com portas fechadas e placas de aluga-se e vende-se. Seriam reflexo de medidas de restrição para conter a pandemia, adotadas por prefeitos e governadores.
Para ele, após os repasses feitos pelo governo federal tanto por meio do auxílio emergencial quanto pela ajuda aos Estados, cabe à população cobrar dos governadores o uso dos recursos, bem como alternativas para fazer a economia girar e, consequentemente, reduzir o desemprego.
Novamente, o presidente disse que ninguém esperava pandemia com tamanha gravidade e, sem perspectivas de que termine, será preciso aprender a conviver com o vírus e voltar a trabalhar para a economia caminhar.
“Ninguém discordou”, afirmou Marly Parra, conselheira da ihub Investimentos e ex-executiva da E&Y e do GPA.
Segundo ela, as discussões nas meses giraram sobretudo em torno de reformas, principalmente tributária. “Há 22 projetos importantes parados”, disse Marly. “Quisemos saber o que os ministros podem fazer para agilizar essas votações.”
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também falou sobre as iniciativas para controlar a inflação e voltou a mencionar o lançamento de um programa para os “cerca de 40 milhões dos chamados invisíveis, que atuam com trabalho informal e não têm conta em banco”, sem dar detalhes.
Entre amigos. De maneira geral, os temas mais espinhosos foram evitados. Bolsonaro e seus ministros pareciam estar em um almoço com apoiadoras, sendo que várias participantes não responderam a pedidos de entrevistas. Já outras importantes lideranças femininas, ao serem consultadas sobre se tinham sido convidadas, disseram sob condição de anonimato que “felizmente, não”. A leitura é que não se recusa o convite de almoço com um presidente, mesmo com a gestão polêmica e no pior momento da crise sanitária, que ele teria ajudado a agravar.
Não foram feitas, por exemplo, cobranças mais duras em relação ao atraso na vacinação, que vem retardando a retomada das atividades econômicas.
Também não foi mencionado o projeto de lei que prevê multas maiores a empresas que não praticam isonomia salarial entre homens e mulheres. “É um tema polêmico e também discutimos no IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, no qual é membro da comissão de ética em governança) que pode ser prejudicial às próprias mulheres: já ficamos grávidas, temos de levar os filhos ao médico e ficamos de TPM. A punição às empresas pode acabar fechando vagas, principalmente para o pequeno empregador que pode ser questionado na Justiça.”
Na semana passada, Bolsonaro adotou discurso semelhante, ao sugerir que arranjar emprego pode se tornar “quase impossível” para as mulheres e o projeto foi novamente enviado ao Congresso – onde entrou num impasse na Câmara dos Deputados, que teme ser impopular se aprovar uma versão mais branda do projeto.
Dulce Pugliese, cofundadora da Amil, conselheira da Dasa, e uma das mulheres mais ricas do
Brasil, com fortuna de US$ 6 bilhões, segundo a revista Forbes, falou em nome das convidadas. “Nem nos meus sonhos pensei em falar para nosso presidente e seus ministros”, disse ela, em seu discurso.
A primeira-dama, Michele Bolsonaro, e as ministras Tereza Cristina (Agricultura) e Damares Alves (Família e Direitos Humanos), cuja presença era esperada, não compareceram ao almoço. Segundo a organização do evento, foram substituídas pelos ministros homens. Além de Guedes, compareceram Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Luis Eduardo Ramos (Casa Civil), Fábio Faria (Comunicações) e Pedro Guimarães (Caixa Econômica Federal).
No total, havia quase 70 pessoas no encontro organizado pelo Grupo Voto, que promove a aproximação entre empresários e políticos e fez ontem o primeiro evento exclusivamente para mulheres. As fotos de divulgação mostravam o salão cheio e até 12 pessoas nas mesas, sem respeitar as regras de distanciamento social. A maioria era empresárias e executivas de grandes companhias.
“Há 22 projetos importantes parados. Quisemos saber o que os ministros podem fazer para agilizar as votações.” Marly Parra
CONSELHEIRA DA IHUB INVESTIMENTOS