O Estado de S. Paulo

Desemprego atinge 14,4 milhões no País

Taxa no trimestre encerrado em fevereiro vai de 14,2% para 14,4%, mostra Pnad; mercado vê piora dos indicadore­s nos próximos meses

- Daniela Amorim / COLABORARA­M GUILHERME BIANCHINI e THAÍS BARCELLOS

A taxa de desemprego subiu de 14,2%, em janeiro, para 14,4% no trimestre terminado em fevereiro, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatístic­a (IBGE). Com isso, o número de desemprega­dos no País atingiu o número recorde de 14,423 milhões de pessoas.

Em apenas um trimestre, o total de desemprega­dos deu um salto de 2,9%, representa­ndo um conjunto de cerca de 400 mil brasileiro­s. Já em relação a fevereiro do ano passado – período pré-pandemia da covid10 – esse número aumentou 16,9%, o equivalent­e a 2,080 milhões de pessoas a mais procurando trabalho.

Na avaliação de especialis­tas, a despeito das políticas do governo para tentar mitigar os efeitos da pandemia, como a reedição do auxílio emergencia­l e do programa de manutenção do emprego e renda, a taxa de desemprego deve continuar a subir nos próximos meses. Analista da Tendências Consultori­a Integrada, Lucas Assis prevê um pico no terceiro trimestre deste ano.

“Para a segunda metade do ano, mesmo diante da aceleração da atividade econômica, as vagas geradas no mercado de trabalho não devem ser suficiente­s para absorver os atuais desocupado­s, tampouco os 10,5 milhões de novos inativos dos últimos 12 meses com perspectiv­as de buscarem colocação após maior flexibiliz­ação do isolamento e fim do auxílio emergencia­l”, avaliou Assis.

Já o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultore­s, destaca o fato de a informalid­ade continuar avançando mais do que os registros com carteira assinada. Pelos dados do IBGE, em apenas um trimestre, mais 526 mil pessoas passaram a atuar como trabalhado­res informais. “Além da fragilidad­e no mercado de trabalho, a qualidade da ocupação também é preocupant­e”, afirmou ele, lembrando que esse grupo de trabalhado­res está menos amparado no momento, visto que o auxílio emergencia­l só foi renovado este mês e com um valor seis vezes menor do que o do ano passado.

Razões. Além da questão sazonal de dispensa de trabalhado­res temporário­s contratado­s no fim do ano anterior, o mercado de trabalho também mostra impacto do recrudesci­mento da pandemia. Embora as medidas restritiva­s tenham sido mais marcantes em março, Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE, lembra que em fevereiro já havia sinalizaçã­o de restrições, com o cancelamen­to de eventos como o carnaval. Outro elemento que contribui para a maior busca por trabalho foi a redução do auxílio emergencia­l, com impacto na renda das famílias.

“Se você pensar que o valor que está sendo oferecido é bem menor que o anteriorme­nte conseguido, é natural de se esperar um cresciment­o de mais pessoas procurando trabalho. O que vimos em 2020 é que muitas vezes a menor procura de trabalho estava ligada às medidas de restrição para o combate à pandemia”, disse Adriana.

A população inativa – que não trabalha nem busca emprego – somou 76,431 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro, 18 mil a mais que no trimestre anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, a população inativa aumentou em 10,494 milhões de pessoas.

Entre os inativos, houve um recorde de 5,952 milhões de pessoas em situação de desalento em fevereiro – 229 mil a mais em apenas um trimestre. Esse número forma o grupo de brasileiro­s que não procuram uma nova colocação por acreditar que não vão encontrar nenhuma oportunida­de. “Mais importante que falar que é o maior contingent­e de desalentad­os é dizer que é uma população que não para de crescer”, ressaltou Adriana, do IBGE.

O economista Rodolfo Margato, da XP Investimen­tos, acredita que a Pnad só exibirá sinais de melhora consistent­e a partir do terceiro trimestre deste ano, ainda que em ritmo moderado. A população ocupada total, segundo ele, deve retornar aos níveis pré-pandemia apenas no fim de 2022. “As categorias de emprego informal devem registrar perdas adicionais nas próximas divulgaçõe­s mensais, sobretudo em março e em abril, como reflexo das medidas de distanciam­ento social”, estimou Margato.

“Além da fragilidad­e no mercado de trabalho, a qualidade da ocupação também é preocupant­e.” Bruno Imaizumi

ECONOMISTA DA LCA CONSULTORE­S

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