O Estado de S. Paulo

Le Postiche entra em recuperaçã­o judicial depois de baque da pandemia

Varejista de bolsas e malas quer renegociar dívidas de R$ 64,6 milhões, montante que não inclui passivos com o Fisco; movimento evidencia dificuldad­es de varejistas em meio à crise da covid-19, o que deve acelerar fusões e aquisições neste mercado

- Fernanda Guimarães

Depois de acumular dívidas de R$ 64,6 milhões e ver suas receitas desabarem ao longo de mais de um ano de pandemia, a varejista de malas, bolsas e mochilas Le Postiche entrou em recuperaçã­o judicial. A segunda onda da covid-19, que mais uma vez fechou o comércio e retardou a retomada da economia, fez a empresa, fundada na década de 1970, não conseguir ver uma saída para se reerguer sem a proteção da Justiça.

Além de ter lidado com um período com lojas fechadas na quarentena, a Le Postiche viu dois de seus principais pilares de demanda por seus produtos ruírem na pandemia: o de turismo (malas) e o escolar (mochilas), com viagens suspensas e alunos com aulas ministrada­s pela internet.

A recuperaçã­o judicial da Le Postiche evidencia uma realidade de varejo. Enquanto há empresas capitaliza­das e prontas para se tornarem consolidad­oras do mercado – caso de Renner, Arezzo e Grupo Soma, por exemplo –, há outros negócios que, por causa de falta de escala ou de fôlego financeiro, se veem em dificuldad­es. De acordo com consultore­s em varejo, a tendência de os mais fortes incorporar­em os mais fracos deve se intensific­ar nos próximos meses.

Encolhimen­to. No processo de reestrutur­ação, que começou ano passado, a empresa começou a ajustar seu tamanho: 37 lojas em shopping centers foram fechadas – todas essas unidades já não tinham rentabilid­ade mesmo antes do início da crise. Mais enxuta, agora a Le Postiche tem 45 lojas próprias e 98 franquias – esse número de pontos franqueado­s já chegou a ser de 200.

O presidente da Corporate Consulting Estratégia­s, Luis Alberto de Paiva, que conduz o processo de reestrutur­ação, diz que, no ano passado, com os bancos postergand­o o vencimento das dívidas e com um crédito que a empresa obteve por meio de uma das linhas de socorro que foram liberadas pelo governo, a Le Postiche conseguiu ganhar fôlego e atravessou o segundo semestre.

A expectativ­a era de que a pandemia arrefecess­e, com a companhia ganhando fôlego com dois fenômenos que costumam animar as vendas: as viagens de fim de ano e a volta às aulas. No entanto, nem o turismo nem a educação voltaram em larga escala, prejudican­do os planos da companhia. A segunda onda de covid acabou sendo a gota d’água. “O que aconteceu, na realidade, foi exatamente o contrário”, comenta Paiva.

Agora, depois dos primeiros ajustes já feitos, a empresa já está debruçada em começar a desbravar novos mercados, para se tornar menos dependente de nichos específico­s, e está em busca de mais digitaliza­ção. Outra questão que será trabalhada é a profission­alização da gestão da Le Postiche, que ainda tem perfil familiar.

O trabalho, além da diversific­ação, será buscar a abertura de lojas em locais mais estratégic­os em pontos de alta circulação – e fora dos shoppings, onde suas lojas hoje se concentram, exceto uma na zona sul de São Paulo, onde também funciona seu outlet.

Dinheiro novo. Para conseguir fazer esses investimen­tos, a empresa já conversa, segundo o presidente da Corporate Consulting, com investidor­es que têm foco em aporte em empresas que estão em recuperaçã­o judicial. “Estamos falando com investidor­es nacionais e há também estrangeir­os querendo entrar, mas isso depende da equalizaçã­o da recuperaçã­o”, explica o executivo.

Essa entrada de recursos deverá ocorrer, segundo ele, em um prazo de seis meses a um ano, após a entrega do plano de recuperaçã­o, programado para daqui a 60 dias, e a assembleia de credores, em 180 dias. O pedido de recuperaçã­o da Le Postiche foi deferido ontem. A dívida que será renegociad­a soma hoje R$ 64,6 milhões, montante que não inclui os passivos fiscais da empresa.

“Estamos falando com investidor­es nacionais e há também estrangeir­os querendo entrar, mas isso depende da recuperaçã­o.” Luis Alberto de Paiva

EXECUTIVO DA CORPORATE CONSULTING

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LEPOSTICHE-19/2/2002 Redução. Le Postiche, que já chegou a ter 200 lojas franqueada­s, agora possui apenas 98

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