Acúmulo na pandemia fez aumentar a carga mental relacionada ao trabalho de cuidado
A mentalidade arraigada de que as mulheres são responsáveis pela constante atenção, gerenciamento e planejamento das tarefas domésticas e familiares é chamada de carga mental. O termo é utilizado para falar desse trabalho invisível, sem reconhecimento ou valia, e extremamente desgastante do ponto de vista emocional que sobrecarrega mulheres.
Na pandemia, essa sobrecarga aumentou ainda mais, quando ao menos 50% das mulheres passaram a cuidar de alguém em meio à crise do novo coronavírus, além de terem sido mais afetadas pelo desemprego. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), cerca de 8,5 milhões de mulheres ficaram fora do mercado de trabalho no terceiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.
A pandemia também obrigou famílias inteiras a lidarem com atividades que antes eram terceirizadas para outras instâncias ou ficavam restritas a quem estava em casa, e mostrou como todos e todas somos dependentes de cuidados, provando como o cuidado é mantenedor do sistema econômico que vivemos.
“Existe uma necessidade de exercício diário individual para reverter esse quadro, mas temos que olhar para a questão de forma ampla e estrutural tal como ela é. Quando as mulheres são rotuladas como ‘aquelas que cuidam’, o homem que também cuida é visto com preconceito. No ambiente de trabalho, um homem sair mais cedo para levar o filho ao pediatra é muito menos aceitável do que uma mulher fazer isso”, exemplifica Maíra Liguori, diretora de Impacto da ONG Think Olga e da consultoria Think Eva.
Nesse sentido, ela propõe ações individuais e coletivas que podem – e devem – ser colocadas em prática por indivíduos, empresas e governos para que o cenário futuro seja mais justo. “Analisamos, por exemplo, uma questão cultural que envolve a lavagem de roupas: 38% dos homens que se casam deixam de fazê-lo pelo simples fato de ter uma mulher presente. Isso tem que ser mudado na raiz”, defende.