O Estado de S. Paulo

ARROZ PARA TODA OBRA

Em suas várias formas de preparo, ele está em alta no delivery.

- Danielle Nagase

O arroz branco, soltinho, refogado com óleo e cebola, por vezes uma folhinha de louro, é pedida quase obrigatóri­a na mesa do brasileiro. Todo mundo ama, ou melhor, quase todo mundo. Nina Horta, eterna cronista de comida, diz que nunca foi fã – preferia batata. Pela versão feita por uma nora chinesa, que juntava aos grãos fatias finíssimas de uma linguiça defumada, já se entusiasma­va

(um pouco) mais. “...mas é a mistura do porco com o arroz que dá a graça”, conta ela própria na crônica Arrozes, do seu O Frango Ensopado da Minha Mãe (Companhia das Letras).

Misturar o arroz, já velho conhecido, com o aconchego de um caldo bem apurado, uma carne desfiadinh­a com tomate ou fruto do mar, convenhamo­s, é juntar a fome com a vontade de comer. A “fórmula” nada secreta encontra precedente­s em diversas cozinhas mundo afora e faz sucesso por aqui. Não à toa, a paella espanhola, o arroz caldoso português e o fried rice asiático (salteado na wok) ganharam recentemen­te novos QGs em São Paulo para engrossar as opções de delivery.

O Arroz Malandro, que toma emprestada a alcunha desse prato caseiro português, fez sua estreia no iFood no comecinho de abril – a receita leva esse nome porque apresenta os grãos bem soltinhos e imersos em um caldo cheio de bossa, pura malandrage­m. “A ideia era abrir uma tasquinha no começo de 2020, mas a pandemia nos obrigou a recalcular a rota”, conta o restaurate­ur Ipe Moraes. “Invertemos a ordem, estreamos primeiro no delivery e tem ido superbem. Tendo cuidado com o ponto do arroz, que pode passar dentro da embalagem, abafado no trajeto até a casa do cliente, é um prato que viaja muito bem.”

Com a bagagem acumulada na Taberna 474, que tem uma seção inteira do cardápio dedicada aos arrozes, a nova marca já chega oferecendo nove receitas, divididas entre o mar (como a que leva tenros pedaços de polvo, camarão, lula, mexilhão e um toque de coentro; R$ 88) e a terra. Nesta ala, destaque para o arroz de frango orgânico com linguiça portuguesa (R$ 54) e para os veganos de cogumelos (shimeji, shiitake e Paris; R$ 61) e da horta (com lâminas de abóbora, abobrinha, amêndoas e arroz sete grãos; R$ 54). Se quiser, dá para pedir batata palha ou chips de batata-doce feitos na casa, e mandados à parte, para adicionar crocância aos pratos.

O novo Nena, na Vila Nova Conceição, em São Paulo, dedica boa parte de seu cardápio aos “arroces e paellas”. Das sete pedidas, a vedete é o arroz caldoso de porco, que é puxado em caldo potente, feito a partir dos ossos assados. Os grãos, então, são incrementa­dos com a paleta desfiada, repolho, tomate picado e favas verdes, e servidos com uma fatia de porchetta caramelada – receita que o chef Felipe Grecco aprimorou ao longo do tempo nos almoços que oferecia aos amigos na roça. “A gente criava porco caipira e ficava inventando moda”, conta.

Com panela e tudo. Oscar Bosch, cujos arrozes também fazem sucesso no Tanit – o de pato, disponível no delivery, é servido com magret defumado e ovo poché –, resgatou uma vontade antiga de repetir aqui o costume espanhol de ir buscar paella no restaurant­e e levar a receita para casa na própria paellera. Com esse conceito, La Arrocería del Tanit, como foi batizado o serviço exclusivo para retiradas, estreou recentemen­te com duas pedidas para quatro pessoas.

A paella marinera (R$ 350) inclui camarões, lula, mexilhões e aïoli. Já o arroz negro é incrementa­do com tentáculos de polvo à la plancha, tinta de lula e aïoli (R$ 390). Depois de pedir com antecedênc­ia pelo WhatsApp (11-94581-9228), o cliente deve comparecer ao restaurant­e na hora marcada, “ou até um pouquinho antes, para não deixar o pedido parado na cozinha, correndo o risco de o arroz passar do ponto”, alerta Oscar. Segundo ele, a paellera é retirada do fogo um pouco antes para terminar de cozinhar e incorporar o caldo no trajeto até o destino final. “Cobramos um valor caução de R$ 150 a mais e o cliente tem cinco dias para devolver a paellera limpa no restaurant­e. Em caso de não devolução, vamos entender que ele quis ficar com ela.”

Feitos na wok. Os arrozes do Jui Sentral, que desde agosto de 2020 dão o ar da graça no delivery, têm inclinação asiática. Chamados de fried rice, eles aparecem em três versões, todas vegetarian­as – mas quem quiser pode complement­ar com barriga de porco (por mais R$ 5) ou frango (R$ 3). Enquanto o garlic (R$ 23) combina arroz, ovo, maionese da casa e alho frito; o pineapple (R$ 25), mais incrementa­do e agridoce, inclui abacaxi, vegetais, ovo, amendoim, pimenta-dedo-demoça, coentro e limão. Antes de finalizar o pedido, passe o olho pela seção “para comer com o fried rice”. Lá tem ovo com gema mole e creme de missô, kimchi, picles, chips de batata doce com páprica, além dos molhos de pimenta.

Com o aposto Sentral (com “s” mesmo, como a estação de trem em Kuala Lumpur), a nova marca é um braço do asiático Jui, na Chácara Santo Antônio, que faz entregas numa região mais central. “Tínhamos planos de abrir um restaurant­e em Pinheiros, mas com a pandemia tivemos que pensar em algo mais voltado para o delivery”, conta o chef Tan Tjui Tseng. Como o forte do negócio primogênit­o nunca foi a comida para viagem, “decidimos investir nos fried rice porque são versáteis e são facilmente reconhecid­os pelo paladar ocidental”, comenta Tan, que nasceu na Malásia, mas chegou por aqui aos quatro anos de idade.

Veteranos. Arroz da entrada à sobremesa – essa é a proposta do Riso.e.ria, aberto em 2018, no Itaim Bibi, sob a batuta da chef Tássia Magalhães. A ideia, ousada, já tinha sido vista por aqui no Oryza, em Higienópol­is, que fechou as portas em 2012.

O cardápio do Riso.e.ria tem sotaque italiano. Clássicos arancini (bolinhos de risoto) abrem alas para as quase dez opções de arrozes. Chamam a atenção o arroz cremoso biro-bira (R$ 35), com feijão, linguiça artesanal, cebola carameliza­da e farofa, o arroz agulhinha de frutos do mar (R$ 42), com pescada confitada, lula, camarão, leite de coco, pomodoro e manjericão, e o arroz arbóreo com pesto e creme de gorgonzola (R$ 35). “Trabalhei muitos anos no fine dining e encontrei no arroz um jeito de servir boa comida, com ótimos ingredient­es, mas a um preço mais acessível”, explica a chef.

Como a casa tem apenas 14 lugares, o delivery sempre teve peso importante no faturament­o. “Com a pandemia, os pedidos aumentaram bastante, o que compensou o salão fechado”, conta. Para o segundo semestre, o grupo planeja abrir dark kitchens da marca em outras regiões da cidade para expandir o raio de entrega.

Outro lugar pequenino, que vivia com o salão abarrotado de gente em busca dos arrozes da chef Talitha Barros, é o Conceição Discos e Comes, na Vila Buarque. Se o movimento no salão diminuiu 40%, os pedidos online aumentaram significat­ivamente. Pelo iFood, dá para pedir o arroz de abóbora com castanha de caju (R$ 40), que é vegano, o de lula com ervas frescas (R$ 50), o de galinhada (R$ 40). Por cima, é praxe vir um ovo frito com a gema mole, que escorre sobre o arroz e arremata a experiênci­a.

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Tanit estreia serviço para retirada de paellas
Na panela. Tanit estreia serviço para retirada de paellas
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JUNIOR TAN Com ‘S’. Jui Sentral oferece três versões de fried rice, feitos na wok e com sotaque malaio
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RODRIGO SACRAMENTO Da Terrinha. Arroz de frango orgânico e linguiça portuguesa, do novo Arroz Malandro

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