O Estado de S. Paulo

Inquérito causa embate entre STJ e Supremo

Investigaç­ão aberta contra procurador­es com base nos diálogos hackeados foi suspensa pela ministra Rosa Weber

- / R.M.M.

Além de serem usados pela defesa do ex-presidente Lula, os diálogos hackeados apreendido­s na Operação Spoofing serviram para o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, determinar a abertura de inquérito sigiloso para apurar suposta tentativa de intimidaçã­o de ministros da Corte pela extinta força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Uma das conversas divulgadas mostrou a intenção de procurador­es de investigar, sem autorizaçã­o, a movimentaç­ão patrimonia­l de integrante­s do tribunal.

O inquérito, que causou reação do procurador-geral da República, Augusto Aras, foi suspenso pela ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber, o que acirrou os ânimos entre as Cortes. Para Rosa, não se pode usar prova ilícita para condenar alguém. “Não há margem no texto constituci­onal que admita interpreta­ção voltada a legitimar seu uso (das mensagens hackeadas) em processo voltado à responsabi­lização criminal de alguém, por mais graves que sejam os fatos imputados.”

O uso das mensagens esbarra, ainda, em relatório da Polícia Federal, que concluiu não ser possível confirmar a autenticid­ade dos diálogos. “A autenticid­ade e a integridad­e de itens digitais obtidos por invasão de dispositiv­os não se presumem, notadament­e quando se reúnem indícios de que o invasor agiu com dolo específico não apenas de obter, como também de adulterar os dados”, diz documento da PF. O relatório reforça a posição da Procurador­ia-Geral da República contra o inquérito do presidente do STJ.

Para o advogado Marcelo Knopfelmac­her, defensor dos procurador­es da Lava Jato, o conteúdo hackeado é “ilícito” e “imprestáve­l”. “A PF fez constar que o material não pode ter sua autenticid­ade aferida.” Moro não se manifestou, mas já disse não reconhecer a autenticid­ade das mensagens. O STJ declarou que “não há nada a informar” sobre o inquérito de Martins.

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